Quase uma semana depois de receber a pior notícia de sua vida, ainda é difícil para o pedreiro João Pinzon, 53 anos, falar sobre a morte de sua única filha, Helenara Pinzon, 22, assassinada a facadas no último sábado, no apartamento onde morava com a sua ex-namorada Stéphanie Freitas, 24 anos, principal suspeita do crime - elas haviam terminado o relacionamento recentemente. Para o pai de Helenara, Stéphanie premeditou o crime.
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- Ela foi extremamente fria e calculista, ela sabia o que iria fazer. Era uma pessoa esclarecida, formada, agora dizem que ela está louca, ninguém fica louca de uma hora para outra. Queremos justiça, é claro que queremos justiça, mas a justiça maior vai ser divina. Uma hora ela vai ter que se acertar com Deus - afirma Pinzon.
Segurando a emoção, o pedreiro lembra com carinho do último momento que passou com a filha. Helenara morava há três anos em Santa Maria. Há um ano, havia decidido morar com Stéphanie. Antes disso, as duas moraram junto com o pai e a madrasta de Helenara, Ângela Bondarenko, 50 anos, com quem a vítima tinha uma grande afinidade.
- Foi para a Ângela que ela contou que estava gostando de uma menina. Aí, depois, ela veio me falar. Foi difícil, mas disse que, se era o que ela queria, se isso ia fazer ela feliz, não haveria nenhum problema. A Helenara era muito determinada, mas, ao mesmo tempo, era muito ingênua, ela deixava a Stéphanie manipular ela. Quando elas foram morar sozinhas, fiquei chateado, com medo - conta.
Último encontro
Depois de Helenara ter ido morar com a companheira, o contato entre pai e filha foi predominantemente por telefone. Há um ano, eles não se falavam pessoalmente. Isso até a terça-feira anterior ao crime, no dia 1º de dezembro. Helenara foi até a casa do pai, no bairro João Goulart, para conversar. Na verdade, ela queria fazer um pedido: voltar a morar com ele.
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- Ela disse que ia morar sozinha, mas não sabia que elas não estavam mais juntas. Ela não disse o porquê. Ela disse que estava difícil achar alguém para dividir apartamento e perguntou se podia voltar a morar aqui. Prontamente, disse que sim. Mas ela disse que estava feliz, que ia ser uma vida nova, que elas tinham acabado numa boa. Nunca imaginei que isso poderia acontecer - relata o pai.
Aquela terça-feira ficará para sempre na memória de Pinzon. Por ele, Helenara teria se mudado para sua casa já naquele dia. O reencontro com a filha foi marcado por muita emoção, e as lágrimas foram inevitáveis ao lembrar da última vez em que viu a filha.
- Nos abraçamos bem forte, ela estava feliz, rindo. Perguntei várias vezes para ela, e ela repetiu todas as vezes que estava muito feliz, que era isso que ela queria, uma vida nova. Mostramos o quarto para ela, depois, descemos, e nós três rezamos o Pai Nosso, abraçados. Antes de ir embora, ela disse de novo que estava muito feliz - recorda.
Apesar da fé de Pinzon e do seu desejo de justiça divina, o advogado contratado por ele, Antônio Carlos Porto e Silva, diz que trabalhará exaustivamente para buscar a justiça dos tribunais. Para Porto, Stéphanie tem que ser indiciada por homicídio qualificado, já que, para ele, o crime foi premeditado, por motivo fútil ou torpe e sem a possibilidade de defesa da vítima.
Um dos advogados de defesa de Stéphanie, Bruno Seligman de Menezes, prefere não comentar as alegações do pai de Helenara e do advogado dele:
- Respeito a dor da família, mas discuto o processo só dentro do processo - reforça.