Em número menor na comparação com as mobilizações de março, abril e agosto, manifestantes favoráveis ao afastamento da presidente Dilma Rousseff voltaram a sair às ruas neste domingo em uma centena de cidades em 23 Estados e no Distrito Federal, 11 dias após ser deflagrado o processo de impeachment.
Para os organizadores, a adesão inferior aos atos anteriores se deve ao pouco tempo de mobilização. A expectativa é de que o engajamento aumente no próximo protesto, marcado para 13 de março, quando eles imaginam que o impedimento de Dilma esteja próximo de ser votado.
Em São Paulo, maior cidade do país, cerca de 30 mil pessoas saíram de casa para apoiar o impeachment, segundo a Polícia Militar (PM). Em agosto, a estimativa foi de 350 mil. Os organizadores, porém, calcularam que até 100 mil passaram pela Avenida Paulista - o Datafolha calcula 40 mil participantes. Também de acordo com as PMs locais, foram 7 mil manifestantes em Brasília e 3 mil em Belo Horizonte - 30 mil e 6 mil para os organizadores. Cidades do interior do Rio Grande do Sul também tiveram manifestações.
Ato pró-impeachment tem discurso de políticos na Redenção
Em Porto Alegre, enquanto a organização contava 5 mil pessoas no Parque da Redenção, a Brigada Militar contabilizou 1 mil. Mesmo que o alvo principal dos ataques tenha sido o governo federal, os cânticos entoados pela Banda Loka Liberal, no caminhão de som instalado próximo ao Monumento ao Expedicionário, não pouparam os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Falta de tempo para organizar e desconfiança quanto a Cunha
Para o analista político Murillo de Aragão, da consultoria Arko Advice, a adesão às manifestações de domingo pode ser considerada "modesta", mas isso não significa que a tese do impeachment tenha perdido apoio popular. A causa da participação inferior nos protestos, entende Aragão, é relacionada ao pouco tempo que os organizadores como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua tiveram para fazer a convocação.
- O importante é como essas manifestação vão estar daqui a alguns meses, quando o processo de impeachment começar a andar de verdade - avalia.
Com uma visão diferente, a cientista política Céli Pinto, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), classifica as manifestações de domingo como "um fracasso". A razão, avalia Céli, não seria a falta de tempo, mas o fato de o impeachment ter sido deflagrado por Cunha, ameaçado de perder o mandato e também investigado por corrupção na Operação Lava-Jato.
Como foram as mobilizações em outras cidades do país
- Há uma desmoralização tão grande do Congresso que isso afasta as pessoas, desconfiadas de tudo que vem da Câmara dos Deputados, que tem Cunha como presidente - observa Céli, que considera a baixa adesão como um fator a ser comemorado pelo Palácio do Planalto.
Para o coordenador regional do MBL no Estado, Felipe Pedri, as manifestações de domingo foram apenas um aquecimento para o 13 de março, e o número de pessoas que compareceu à Redenção foi superior ao estimado. Depois de certo distanciamento nos primeiros atos de 2015, os movimentos também deram sinais de que aumentarão a proximidade com políticos de oposição que aderirem ao impeachment. Os deputados federais Darcísio Perondi (PMDB) e Nelson Marchezan Júnior (PSDB) foram chamados para o caminhão de som e fizeram discursos fortes pró-impeachment.
- Para quem votar sim, vamos dar espaço - diz Pedri.
Em São Paulo, os senadores José Serra (PSDB-SP) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) compareceram à Avenida Paulista e foram recebidos por lideranças dos grupos pró-impeachment assim que chegaram.
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