Grávida de oito meses, Bárbara Severo de Araújo, 21 anos, funcionária do supermercado Nacional da Rua Miguel Tostes, bairro Rio Branco, na Capital, foi surpreendida na manhã da última segunda-feira com a notícia de que a loja em que ela trabalha iria fechar em 48 horas. Mãe de dois filhos, ela foi duplamente afetada pelo anúncio, já que o seu marido também é empregado no mesmo lugar e será desligado a partir das 17h desta quarta-feira.
De forma discreta, os gerentes repassaram a Bárbara, Leonel Loiola Baldes e aos demais colaboradores a decisão da rede Walmart logo no começo do expediente, às 7h. Para os clientes, nenhuma informação. Em uma reunião "de piso", eles deram aos subordinados duas opções: irem embora com os direitos trabalhistas de uma demissão ou serem realocados em outros supermercados.
Conforme apurou Zero Hora em visita a 13 unidades da bandeira Nacional em Porto Alegre, estão encerradas as atividades das lojas das ruas Miguel Tostes (Rio Branco) e Francisco Trein (Cristo Redentor) e das avenidas Plínio Brasil Milano (Higienópolis), Venâncio Aires (Bom Fim) e Protásio Alves (Rio Branco). Cerca de 800 pessoas, entre estoquistas, caixas, empacotadores e gerentes, terão de procurar outras opções.
– Sou um cara guerreiro e batalhador. Saio tranquilo, apesar de ter sido pego de surpresa. Fui a primeira pessoa a ficar sabendo aqui na Miguel Tostes, quando o gerente me chamou e disse o que estava acontecendo. Quis ir embora – relata Leonel Baldes.
– Achei uma sacanagem fazer isso na véspera do Ano-Novo – complementa Bárbara.
O fim das operações é parte de uma estratégia do grupo de reduzir sua presença no Brasil. Estima-se que pelo menos 30 lojas da rede Nacional sejam fechadas no país, embora previsões mais pessimistas de fontes dos recursos humanos da rede Walmart digam que o número poderá ser maior.
Em nenhum dos cinco mercados que deixam de operar na Capital, há placas ou avisos comunicando os clientes sobre a decisão. Nas gôndolas, produtos com descontos de até 50% eram torrados em liquidação de última hora. Entre os funcionários que decidiram ficar, paira um clima de preocupação para os próximos meses.
– Os comentários internos são de que vai encerrar tudo em 2016. Não sabemos o que pensar – disse uma funcionária de caixa na loja do Cristo Redentor.
Walmart culpa o ambiente econômico do país
A princípio, as outras quatro bandeiras da Walmart no Estado (Big, Maxxi Atacado, TodoDia e Sam's Club) não sofrerão alteração. Em Porto Alegre, o enxugamento começou no setor administrativo da empresa na semana passada, quando dezenas de funcionários e executivos foram demitidos – a multinacional não divulga o número de desligamentos.
Em nota enviada à imprensa, a Walmart informou que tomou a decisão "por conta do atual ambiente econômico do Brasil". Apesar do elevado número de demissões, o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, entende que não haverá dificuldades para realocação:
– Há forte rotatividade no segmento, que agora está focado em buscar qualificação.
Os mercados que fecham em Porto Alegre no dia 30
Rua Miguel Tostes, 176 – Rio Branco
Rua Francisco Trein, 687 – Cristo Redentor
Avenida Plínio Brasil Milano, 1.609 – Higienópolis
Avenida Venâncio Aires, 1.211 – Bom Fim
Avenida Protásio Alves, 940 – Rio Branco
O grupo no Brasil e no RS
– São 560 unidades e 81,5 mil funcionários em 18 Estados e no Distrito Federal.
– Ao todo, são nove bandeiras entre hipermercados (Walmart, Hiper Bompreço e Big), supermercados (Bompreço, Nacional e Mercadorama), atacado (Maxxi), clube de compras (Sam's) e lojas de vizinhança (TodoDia).
– O Walmart desembarcou no Rio Grande do Sul em 2005, depois de comprar a rede portuguesa Sonae (antiga Real Distribuidora) por 635 milhões de euros. Atualmente, conta com 100 lojas de cinco bandeiras no Estado: Nacional, Big, TodoDia, Maxxi Atacado e Sam's Club.