Leandro Boldrini prestou depoimento sobre a morte de Odilaine Uglione há pouco mais de um mês e, à Polícia Civil, garantiu que ainda não havia deixado o consultório ao ouvir um tiro. O médico ainda disse desconhecer, até hoje, se a então esposa se dirigiu a sua clínica para matá-lo (e, em seguida, tirar a própria vida) ou se tinha como único objetivo cometer suicídio.
Investigado pela morte de Odilaine, o médico foi interrogado sobre as circunstâncias do fato por mais de oito horas na Delegacia de Polícia (DP) de Charqueadas - cidade onde está preso por suspeita de envolvimento na morte do filho do casal, Bernardo, em novembro deste ano. Foi esse depoimento que embasou o trabalho dos peritos que, nesta quarta-feira, reconstituíram o caso por duas horas junto a Boldrini. O teor do depoimento ainda não havia se tornado público.
À polícia, o médico relatou que, ao chegar no consultório em 10 de fevereiro de 2010, encontrou Odilaine sentada em sua sala. Boldrini afirma que o casal conversou sobre amenidades até que a mulher, que mantinha a mão direita dentro da bolsa, sacou uma arma em sua direção.
"Que então Odilaine levantou da cadeira, de forma rápida e inesperada, e puxou uma arma, apontando para o interrogado, dizendo 'então é assim, então vai ser isso'. Quando percebeu que estava na linha de tiro, com uma arma de fogo, um revólver 38 apontado para si, o interrogado levantou-se da cadeira de forma rápida e, quando estava entre o canto de sua mesa e a porta que dá acesso à sala de espera, escutou o estampido", diz trecho do depoimento.
Na sequência, Boldrini afirma que saiu correndo para a sala de espera e pediu que a secretária chamasse socorro. Ele teria descido dois andares pela escada, entrado em uma farmácia que fica no térreo do prédio e, depois, buscado ajuda na clínica de um amigo, localizada a poucos metros do centro clínico onde mantinha um consultório.
O cirurgião afirma que só ficou sabendo da morte de Odilaine ao se deslocar até a DP de Três Passos, já na presença de um advogado, para relatar o fato.
"Ao receber a informação, ficou chocado, e pensou que só ela mesma é que poderia ter se dado um tiro fatal, constatando ter se suicidado", consta no documento".
O médico ainda conta que viu Bernardo somente ao meio-dia no dia em que o menino havia perdido a mãe (ou seja, antes da morte, que aconteceu às 18h50min). Esse foi o primeiro depoimento de Boldrini à polícia desde que o inquérito sobre a morte de Odilaine foi reaberto, em maio deste ano. Investigação inicial havia arquivada o caso como suicídio
A MORTE DE ODILAINE
- Odilaine Uglione morreu às 18h50min do dia 10 de fevereiro de 2010, no hospital de Três Passos, horas depois de supostamente atirar contra a própria cabeça, dentro do consultório do marido, o cirurgião Leandro Boldrini.
- Testemunhas viram Odilaine chegar nervosa e entrar na sala para esperar Boldrini.
- Conforme o relato de testemunhas à época, Boldrini saiu correndo da sala e um tiro foi ouvido. Outras testemunhas, no entanto, disseram primeiro ter ouvido tiro e depois, visto o médico sair da sala.
- A investigação da morte foi arquivada com a conclusão de suicídio.
- Depois que Bernardo Uglione Boldrini, filho de Odilaine e de Leandro, foi morto, em abril de 2014, e o pai e a madrasta surgiram como suspeitos do crime, a família de Odilaine passou a tentar reabrir o caso de 2010, sustentando a tese de homicídio.
- A Justiça negou os pedidos até que uma perícia particular indicou que a carta de despedida, encontrada na bolsa de Odilaine, não teria sido escrita por ela, mas sim por uma funcionária de Boldrini à época.
- Assim que o resultado da perícia particular foi tornado público, a funcionária registrou ocorrência por calúnia e forneceu material escrito para que a perícia oficial fizesse a comparação com a carta de suicídio. Essa perícia ainda está em andamento.
- Em maio, o Ministério Público se manifestou pela reabertura do caso e o pedido foi acatado pela Justiça.
- O delegado Marcelo Lech foi designado para conduzir a nova investigação sobre as circunstâncias da morte de Odilaine.