A cada 100 eleitores de Santa Maria, apenas 13 têm filiação partidária. Levantamento feito junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apurou que dos 39 municípios da região de cobertura do "Diário", apenas 16,5% dos votantes são vinculados a partidos políticos. Quais os motivos para o tão baixo interesse pela vida político-partidária?
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O "Diário" conversou com especialistas que apontaram várias motivações para a baixa filiação. Entre as explicações para a crise de confiança estão os sucessivos casos de corrupção, a ausência de credibilidade da classe política e o encolhimento da economia, e outros fatores.
Na região, o município com o menor índice de filiação é Agudo. Dos 13 mil eleitores, apenas 1,4 mil são militantes, o que dá 11,1% do total de votantes. Proporcionalmente, a cidade com maior número de filiados é Quevedos. De 2 mil votantes, são 1,1 mil filiados, o que representa 57% do total de eleitores.
Pesquisa corrobora
O cenário não é nada animador. Prova disso é a pesquisa Ibope, feita no começo deste ano, que apontou que dois em cada três brasileiros não têm simpatia por nenhum partido. A amostragem foi considerado o pior resultado, desde que este tipo de levantamento teve começo em 1988.
Outro levantamento, da Datafolha, no fim do ano passado, traz um dado inédito e revelador para o meio político. Pela primeira vez, a maioria dos eleitores entrevistados considerou a corrupção como o pior problema do país.
Porém, a aversão a partidos e à política é um sinal de descompasso da sociedade na análise da professora da Unipampa e doutora em Ciência Política, Ângela Quintanilha Gomes:
- O fato de as pessoas estarem reticentes com a política e com a possibilidade de filiação demonstra uma falta de credibilidade que os partidos passam no cenário atual. Em uma democracia, o partido é, em tese, um canal de representação do cidadão.
O que dizem 10 eleitores de Santa Maria
O "Diário" percorreu o Centro de Santa Maria na sexta-feira e conversou com 10 eleitores. Na amostragem, a maioria é contrária à filiação partidária. A escolha pelo distanciamento de siglas é plausível, conforme o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Kramer:
- No Brasil, o cara com um perfil bonachão, falante, é visto como potencial a ser político. Quase sempre quem é filiado ou tem uma "boquinha"ou mira uma vantagem. É o fisiologismo do baixo clero. Aí, quem tem espírito republicano e quer buscar uma sociedade mais decente se distancia da política e dos partidos. Os bons se afastam.
Seja na área pública ou privada, o que diferencia um profissional de outro é a qualificação. E essa simples palavra faz toda a diferença, como destaca a professora da Unipampa e doutora em Ciência Política, Ângela Quintanilha Gomes. Segundo ela, muito do descrédito é culpa dos próprios partidos.
Os gaúchos viram, recentemente, o caso do deputado Mário Jardel (PSD) e ídolo do Grêmio, que é suspeito de desviar verbas da Assembleia, pedir parte dos salário dos assessores e de até ter envolvimento com traficantes. Ele só entrou na política em função da prática das siglas de se socorrerem em "puxadores de votos":
- Os partidos apostam em candidatos que puxem a votação. Ou seja, a qualificação fica em segundo plano. A consequência é a eleição de muitos nomes sem condições e qualificação necessárias.
Um ponto de discordância entre os especialistas ouvidos pelo "Diário" está no número de partidos no Brasil. Atualmente, são 34. Para Ângela, a quantia não é um problema e, inclusive, acaba evidenciando uma pluralidade, que é salutar à democracia e que abarca um maior número de interesses da sociedade. Já Kramer, sustenta que o número é uma clara demonstração de um sistema político-partidário frágil e que se move conforme os interesses dos donos das siglas.
Os quadros abaixo representam os 39 municípios da região.
De cada 10 eleitores, quantos têm vínculos partidários: