Ao investigar assaltos a blindados, tomada de reféns em roubo a residência e tráfico de drogas, policiais civis depararam com aquela que parece ser uma explosiva união entre criminosos: a colaboração entre o líder de uma das principais quadrilhas de ladrões de carros-fortes do Estado com o maior patrão das drogas de Porto Alegre.
Para piorar o cenário, um recorrente problema volta à tona: os dois criminosos parceiros já estão presos e são vizinhos de cela na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), aquela que deveria ser a mais inviolável. Portanto, comandam seus negócios ilícitos desde a cadeia, sob a tutela do Estado.
"É frustrante", diz chefe da Polícia Civil sobre prender criminoso que já está na cadeia
Susepe não investigou como Seco tinha celular dentro da Pasc
Os principais personagens da Operação Palco, deflagrada pela Polícia Civil na manhã desta segunda-feira, são o assaltante José Carlos dos Santos, o Seco, e Juraci Oliveira da Silva, o Jura, chefe do tráfico de drogas em Porto Alegre. Seco teria diversificado os negócios, investindo no tráfico na região de Santa Maria. E fez isso, segundo a polícia, em parceria com Jura, patrão no Campo da Tuca e no Morro da Cruz, dois dos principais baluartes da venda de drogas na Capital. Jura tem experiência internacional e inclusive foi capturado pela Polícia Federal no Paraguai, onde comprava a droga para revenda no Rio Grande do Sul.
Bilhete encontrado dentro da cela de Seco na Pasc
Foto: Adriana Irion / Agência RBS
Seco comanda seus negócios de dentro da Pasc: "Que falta faz estar na rua"; ouça
Seco e Jura receberam nova voz de prisão nesta segunda-feira, dentro da Pasc. Serão levados para prestar depoimento para a sede do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), onde forte esquema de segurança foi montado para coibir eventual tentativa de resgate dos criminosos. Ao todo, 19 pessoas recberam ordem de prisão preventiva. Quatro já estavam atrás das grades, os demais estavam soltos e foram capturados. Para os que já estavam presos, a preventiva serve como tranca: ela evita que sejam soltos, mesmo que tenham cumprido a maior parte da pena à qual já estão condenados (caso de Seco e Jura).
Há um ano, Seco foi preso por comandar desde sua cela crimes de roubo, furto, clonagem de carros e tráfico, investigados na Operação Trinca-Ferro. À época, a polícia destacou que o criminoso falava, praticamente, 24 horas ao celular. Nos últimos meses, a rotina de Seco não mudou. Conversas gravadas com autorização judicial mostram que o assaltante dá ordens aos comparsas, orienta a contratação de homens para ações criminosas, indica alvos para ataques, controla compra e venda de drogas, negocia armas e organiza depósitos bancários.
- Essa investigação mostrou que quase 10 anos depois de ser preso Seco continua com alta capacidade de organização para a prática de crimes de vulto na rua. Não é varejo como outros presos. São crimes de peso. Ele mantém um círculo de relacionamento com pessoas de muita confiança, gente do tempo em que ele ainda estava nas ruas - destaca o delegado Joel Wagner, da Delegacia de Roubos do Deic.
Problemas transformaram Pasc em prisão de média segurança
Quadrilha comandada por Seco de dentro da Pasc é presa
A inédita parceria dos criminosos fez com que a Roubos, a Delegacia de Furtos, Roubos, Extorsões e Capturas (Defrec) de Santa Maria e a polícia de Caxias do Sul unissem esforços na investigação, que culminou na Operação Palco.
Entre os criminosos procurados esta manhã, está um dos principais parceiros de Seco: Adelar Correa, conhecido como Lai ou Jaca. Ele é apontado pela polícia como responsável por fornecer armas e explosivos para as ousadas ações da quadrilha contra carros-fortes.
Estão ocorrendo buscas em oito cidades - Santa Maria, Charqueadas (na Pasc), Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, Garibaldi, Farroupilha, Vacaria. São 24 mandados de busca e apreensão e 21 mandados de prisão a serem cumpridos na Palco.
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Equipes saíram do Deic por volta das 6h, depois de receber orientação dos delegados Eduardo de Oliveira Cesar, diretor do Deic, Sandro Meinerrz, regional de Santa Maria, e Joel Wagner, da Roubos.
Operação Palco
O nome foi escolhido porque nas conversas gravadas Seco e parceiros costumam dizer que a "cena está dominada", numa referência ao domínio de regiões no comércio de drogas e armas.
A Polícia Civil conta com o apoio da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) para fazer buscas na Pasc e na Penitenciária Estadual de Santa Maria (PESM).
* Zero Hora