Em quase 20% dos municípios gaúchos, há mais velórios do que chás de fralda. Estatísticas do Registro Civil divulgadas nesta segunda-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, no ano passado, 91 cidades do Estado registraram um número de mortes superior ao de nascimentos. Esse fenômeno, associado à migração, representa um encolhimento em ritmo acelerado da população nas regiões afetadas.
Os registros do IBGE vinculam cada nascimento ao município de residência da mãe, e não ao local do parto, a fim de evitar distorções provocadas pela falta de maternidades em cidades de pequeno porte (tema de reportagem publicada em ZH dia 7 de novembro). No caso da contabilidade dos óbitos, também é levado em consideração o local de moradia, e não onde a morte foi constatada. Os dados divulgados têm como base os registros efetuados em 2014 em cartórios em todo o país de nascimentos, casamentos e óbitos.
Para o coordenador de informações do IBGE no Estado, Ademir Koucher, os números escancaram uma tendência da última década de significativa redução populacional em áreas do interior gaúcho.
- Em 2010, muitos municípios já haviam apresentado taxa de crescimento negativa. Se juntarmos o número de óbitos ao número de pessoas que migram para outras regiões, teremos uma grande perda de população nessas áreas - sustenta Koucher.
A principal razão para a inversão entre morte e vida em boa parte do Estado é a redução na taxa de natalidade, combinada a outros fatores como a migração de jovens para cidades maiores.
A estimativa populacional nos municípios, atualizada anualmente pelo governo, costuma provocar polêmica entre prefeitos e o instituto de pesquisa pelo fato de que é levada em conta para calcular quanto dinheiro cada prefeitura receberá do Fundo de Participação dos Municípios.
Entre os 91 locais em que morreram mais pessoas do que nasceram ao logo do ano passado, a grande maioria é formada por cidades pequenas. Mas também aparecem na lista localidades intermediárias como Piratini, com cerca de 20 mil habitantes, São Pedro do Sul (16 mil) e Pinheiro Machado (13 mil).
Nas cidades maiores, um dos grandes problemas confirmados pelo levantamento é a violência cometida principalmente contra homens jovens. Em todo o país, 40 anos atrás, quando se iniciou a tabulação estatística do registro civil, 6,4% dos óbitos registrados eram considerados violentos. Destes, 76,2% envolviam homens. No ano passado, 10,2% das mortes foram violentas, e a participação masculina atingiu 84,2%.
No Rio Grande do Sul, dados prévios divulgados pelo IBGE enfocando somente a população masculina demonstram que, das 44,5 mil mortes registradas no Estado em 2014, 14% envolveram violência. Isso representa uma taxa de 104 óbitos por cem mil homens - em 2004, essa cifra havia ficado em 97,5.
- Isso tem um impacto populacional enorme, e ajuda a explicar porque há tanta diferença na expectativa de vida entre homens e mulheres - avalia Koucher.