O primeiro alerta dado aos repórteres por Volnei Cardoso, um dos organizadores da greve dos caminhoneiros no Rio Grande do Sul, é:
- Não me chama de líder. Ou então a gente vai parar de se comunicar com vocês.
Vocês é a mídia. Líder não existe nessa greve, garante Volnei, um rapaz de 27 anos que dirige caminhão desde os 18 e possui dois veículos de carga. É um autônomo, tipo de profissional que encabeça essa paralisação de Norte a Sul do país.
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Editorial: a greve dos caminhoneiros
Ele ajudou a organizar o movimento paredista em Soledade, sua cidade natal, situada a 220 quilômetros ao norte de Porto Alegre. É um dos que ajuda a parar os caminhões na estrada, mas divide a tarefa com dezenas de outros piqueteiros, que juram agir de forma independente. A Zero Hora, ele falou sobre razões e rumos da greve:
ZH: Se vocês acumulam queixas com relação a combustíveis, preço do serviço e outras pautas ligadas ao transporte rodoviário, por que dizem que a greve é contra a presidente Dilma? A presidência é responsável pelos preços no Brasil?
É que ela perdeu as rédeas do governo. A Dilma não governa e por isso lutamos pela renúncia dela. Seria um ato de grandeza da presidente. E o governo dela tampouco cumpriu acordos firmados com os caminhoneiros após a greve de fevereiro. Entre eles, um preço mínimo, tabelado, para o frete.
Não podemos ficar ao sabor das safras, com as empresas de transporte pagando o que bem entendem, nos deixando na miséria a maior parte do tempo. Recebemos R$ 75 por uma tonelada na safra - o que já é pouco - e R$ 55 fora dela. Pior ainda é o preço do diesel. Fizemos greve pela redução do custo do combustível, o governo ficou de estudar... O que aconteceu? Tivemos dois aumentos de diesel depois disso.
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ZH: Ao pedir o impeachment da Dilma, o senhor torna a greve política. É filiado a algum partido? Pretende concorrer?
Não sou filiado a partido, nunca fui e nem pretendo. Meu partido é o Brasil. Estamos com a bandeira do Brasil nas estradas (aponta para a flâmula à beira da BR-386, junto aos grevistas).
ZH: Os sindicatos de transportadoras e até os sindicatos dos caminhoneiros autônomos não aderiram, na maioria, à greve. Por que vocês deflagraram a paralisação, mesmo assim?
Os sindicatos não têm nos ajudado, nem nos representado. Fazem muito acordo, que depois não é cumprido. Resolvemos agir por conta, tudo organizado pelo whatsapp e Facebook, tudo via internet... Gente que se conhece, à margem dos patrões e dirigentes sindicais. É grupo, não é liderança. E a adesão é grande, sem violência.
Confira no mapa alguns dos pontos de concentração e de bloqueios:
Veja imagens da concentração de caminhoneiros em Soledade:
* Zero Hora