A paralisação dos caminhoneiros no Rio Grande do Sul enfraqueceu e pode agonizar nas próximas horas. Três fatores contribuem para isso: promessa de duras represálias da polícia a quem bloquear rodovias, desconexão entre os líderes grevistas e as suas entidades sindicais e, também, a chuvarada em todo o Estado, que dificulta a formação de piquetes de bloqueio de veículos nas rodovias.
O principal fator é mesmo a reação decidida do governo federal contra a greve. O ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, fez duro pronunciamento contra os bloqueios de rodovias, na segunda-feira. Ele determinou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) aplique multas de R$ 1.957 a quem obstruir as estradas. A penalização será imediata, sem adiamentos.
Ele também acenou com a possibilidade de uso de tropas de choque contra o que chama de "movimento com claros objetivos políticos, sem respaldo da categoria". A referência de Cardozo acontece porque a greve dos caminhoneiros tem como uma das bandeiras a renúncia da presidente Dilma Rousseff e, também, porque o movimento é conduzido por autônomos, sem apoio de sindicatos ou empresas.
Um dos primeiros reflexos disso foi o desmanche do principal bloqueio grevista no Rio Grande do Sul, em Caxias do Sul, na ERS-122, uma estrada estadual. Os grevistas paravam até ônibus lá, além de todos os caminhões. Por meio de avisos da PRF e também de uma liminar judicial, tiveram de desmanchar o bloqueio, na manhã de ontem.
Os bloqueios também foram desmanchados em Soledade e na vizinha cidade de Tio Hugo. Nesses dois municípios, mais de 300 caminhões estavam parados na segunda-feira. Ontem o bloqueio se desfez por algumas horas, retornou antes do meio-dia, mas não voltou a ter a força do dia anterior.
Nova tática é para ficar em casa
Um dos coordenadores do movimento confidenciou a Zero Hora que a tática mudou: o esforço é para convencer os motoristas a ficarem em casa, paralisados em apoio à greve, mas não mais concentrados em postos ou embandeirados, como na segunda-feira.
- Faremos um trabalho de convencimento pelo WhatsApp e redes sociais, por telefone. Talvez a gente retome os piquetes, vamos ver como transcorre a manhã - diz um representante dos caminhoneiros na região Norte do Estado.
Em Pelotas os caminhoneiros também debandaram e só continuam alguns porque ficaram atolados à beira da estrada. O desmanche de bloqueios também aconteceu em Santa Cruz do Sul e Santa Rosa, dois pontos fortes da mobilização, confirma o tenente-coronel Francisco de Paula Vargas Jr., comandante do Batalhão Rodoviário da BM.
Chuva mingua o movimento
Houve registros de apedrejamento de caminhões em Camaquã e Três Cachoeiras.
O chefe de Comunicação Social da PRF, inspetor André Kleinowski, confirmou que a ordem é desobstruir as estradas. O segundo fator decisivo foi a falta de vínculos formais dos organizadores da greve com a sociedade. A paralisação foi decretada sem apoio de sindicatos - sequer dos autônomos, que representam a maioria entre os grevistas.
Editorial: a opinião sobre a greve dos caminhoneiros
A Federação dos Caminhoneiros Autônomos-RS (Fecam) divulgou nota de repúdio à greve, em termos duros, que diz que "a paralisação é uma tentativa de golpe contra a democracia e a Constituição, promovida por indivíduos estranhos à classe, que tentam de todas as formas forçar o impeachment da presidente da República. Em sua sanha aventuresca, eles tentam levar de roldão trabalhadores honrados".
As empresas de transporte tampouco apoiam a greve, que foi gestada por lideranças sem vínculos com associações ou sindicatos, numa combinação que usou basicamente a internet. O terceiro fator a diminuir o ímpeto da paralisação é a chuva, que desabou com força sobre o Rio Grande. Com o aguaceiro se derrubando sobre as estradas, ficou difícil aos grevistas pararem veículos.
Tudo isso não significa que a greve morreu no Rio Grande do Sul, mas que pode estar condenada. Dois ingredientes serão decisivos para sua continuidade: uma possível melhora do clima e, também, se haverá continuidade da paralisação a nível nacional.