A moradora não estava em casa, na região da Chácara do Banco, Bairro Restinga, Zona Sul da Capital, quando recebeu uma ligação dos vizinhos, na última quinta.
Eles relatavam que um grupo de policiais militares, depois de abordarem jovens - entre eles o filho dela - em frente à sua residência, teriam invadido o local e, ali dentro, estariam agredindo um dos rapazes, de 19 anos.
Assustada, ela ligou para o telefone residencial. Para sua surpresa quem atendeu foi um dos PMs. Depois de se identificar e ouvir que a moradora já chegaria, ele ainda teria retrucado:
- Vem, mas não vem de "ladaia" que ninguém está sendo agredido aqui.
O caso está registrado desde segunda-feira na Corregedoria da Brigada Militar. A invasão de domicílio e supostas agressões por parte dos policiais que seriam da Patrulha Tática, do Batalhão de Operações Especiais, devem ser apurados pelo Comando do Policiamento da Capital.
Tiro para o chão
A versão contada pelos moradores é bem diferente daquela que estranhamente o policial mencionou ao atender o telefone na casa invadida. Antes de entrarem ali, teria se estabelecido uma confusão na calçada.
Para supostamente dispersar as pessoas que se aglomeravam, um dos PMs ainda teria dado um tiro para o chão. Estilhaços feriram a perna de uma adolescente de
14 anos, que registrou ocorrência policial.
Mesmo sem um mandado judicial - e sem qualquer elemento que determinasse a prisão do jovem de 19 anos -, os policiais o teriam levado para dentro da casa e o torturado até mesmo com choques elétricos e saco plástico na cabeça.
Quando chegou a moradora foi impedida de entrar. Durante duas horas o rapaz foi mantido dentro da caminhonete que era usada no patrulhamento. Depois levado até a esquina e liberado sob ameaças.
- Eles disseram que se o assunto fosse para a Corregedoria, eles voltavam para buscar o guri - conta uma jovem que testemunhou o fato.
O comandante do CPC, coronel Mario Ikeda, confirma que a Força Tática atuou no bairro na última quinta. Até o momento, ele afirma que não foi notificado pela Corregedoria. O oficial garante que irá apurar as circunstâncias da ocorrência.
Vídeo mostra confusão no domingo
O caso de quinta-feira ainda era o comentário corrente entre os moradores no último domingo quando, no final da tarde, uma nova abordagem truculenta mobilizou todos.
Dessa vez, a ação policial foi filmada e, para a comandante do 21º BPM, pelas imagens a que ela já teve acesso, não houve excesso dos policiais.
- A guarnição abordou, como é orientado fazer. O que dá para perceber no vídeo que vi é a população indo para cima dos policiais e eles tentando colocar na parede um desses agressores. Ninguém foi preso e o resultado, inclusive, foi um dos policiais machucado na mão - afirma.
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No final, dois irmãos de 23 e 28 anos foram encaminhados à 16ª DP e logo liberados. Não havia nada que os incriminasse.
Invasão
O caso também foi denunciado à Corregedoria da Brigada Militar. Conforme uma familiar dos irmãos abordados, a ocorrência teria iniciado com a invasão do pátio da residência dela.
O policial teria pulado o muro e abordado o mais velho. Uma jovem estaria filmando a situação e teve o celular tomado pelos PMs, com as imagens apagadas. Outra pessoa, porém, filmou a sequência dos fatos e o vídeo foi parar nas redes sociais.
As imagens mostram o momento em que o homem de 28 anos já está dentro da viatura e os policiais seguem no local. Em meio ao tumulto, o irmão dele também é imobilizado, agredido pelos policiais e o pai, ao lado, acaba derrubado no chão.