O desastre ocorrido em Minas Gerais, na cidade de Mariana, é o retrato do poder público no Brasil. Ou seja: um mar de lama que destrói vidas, condena centenas de pessoas ao abandono, ameaça animais de extinção e liquida com o meio ambiente.
Portanto, a barragem que rompeu, causando a morte de 11 pessoas e o desaparecimento de 15, começou a ceder muito antes do dia 5 deste mês. Começou muito antes, quando grandes empresas iniciaram a prática de doar altas cifras para campanhas eleitorais.
Vejamos o caso mineiro. A Vale, empresa a qual pertence a Samarco, doou, no pleito do ano passado, R$ 80 milhões. Para quem? Três candidatos a presidente, 18 a governador, 19 a senador, 261 a deputado federal e 599 a deputado estadual.
O que isso significa? Que é grande o poder de uma empresa. Não há prova ainda de corrupção a partir destas doações. Mas convenhamos: qual o político que vai ordenar o fechamento de uma barragem de um agente financeiro seu? Um outro dado, divulgado pela imprensa no Sudeste, expõe o dano da omissão. Sabem quantos funcionários trabalham em Minas Gerais para fiscalizar 735 barragens? QUATRO! São 183 para cada um!
Foto: Bruno Alencastro / Agência RBS
Esta omissão é um mar de lama. A falta de uma reforma política, impedindo doações milionárias, inunda o Brasil num mar de lama. Não ter havido ainda a prisão dos responsáveis pela tragédia em Minas só é explicado pelo mar de lamas que brota dos Três Poderes.
Fosse um país sério, a cúpula da Samarco e da Vale estaria presa em flagrante por falta de manutenção na barragem e por nem haver um sistema de alarme que teria salvado vidas. Garanto que isso custaria bem menos do que os R$ 80 milhões.
A única diferença que vejo entre o terrorismo que assombra o mundo e a inoperância política no Brasil é que o primeiro faz estardalhaço, e o segundo é sorrateiro. Não sei o que é pior: matar um monte num dia só ou dar margens para dezenas de tragédias coletivas.
* Diário Gaúcho