Pouco mais de uma semana depois do rompimento da barragem em Mariana, Minas Gerais, o cenário na localidade de Paracatu de Baixo lembra o de um filme apocalíptico. A onda de lama que arrasou o subdistrito de Bento Rodrigues e rumou a Paracatu destruiu as casas e se acumula em blocos de um a dois metros de altura que a chuva é incapaz de desmanchar.
Foto: Bruno Alencastro / Agência RBS
Quando se caminha pelo local - único ponto devastado possível de percorrer, já que o acesso a Bento Rodrigues foi interditado -, só se veem animais perambulando entre os destroços. Cachorros, patos, porcos, galinhas são a única população visível do antigo povoado. Circulam sobre restos de material de construção, peças de roupa e eletrodomésticos retorcidos.
Mas, quando um cachorro aparentemente faminto começa a uivar, aparece o ajudante de obras José Horta Ramos Gonçalves, 50 anos. Gonçalves se negou a deixar para trás os bichos de Paracatu. Sozinho, toma conta de cinco casas de familiares e amigos e de todos os animais que encontra vagando sobre a lama.
- Eu não poderia sair daqui e deixar esses bichos para trás. Nos primeiros dias, vivia à luz de vela. Agora, pelo menos, tenho luz. A Samarco traz comida - conta, referindo-se à empresa responsável pela barragem que ruiu.
Foto: Bruno Alencastro / Agência RBS
Como sua casa tem quase um metro de lama no interior, vive na moradia do irmão, localizada em um ponto mais alto. Além dessa, somente outras duas casas permanecem habitadas em toda a vila. Apesar do clima de desolação, Gonçalves demonstra confiança no futuro:
- A vila vai voltar a existir, tenho certeza. Eu só saio da minha casa para o cemitério - garante, enquanto vai buscar ração para o cão faminto.
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Rota da Lama
Zero Hora percorre o rastro de devastação provocado pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco ao longo do curso do Rio Doce. A primeira parada foi na localidade de Bento Rodrigues, no município de Mariana, que registrou mortes, desaparecimentos e foi praticamente extinta. A segunda parada foi em Paracatu de Baixo, também em Mariana (MG), onde a lama destruiu as casas e se acumula em blocos de um a dois metros de altura. Em seguida, nossos repórteres visitaram Rio Doce e Governador Valadares. Em outra frente, no Espírito Santo, a reportagem já passou por Colatina e segue em direção ao litoral capixaba. Veja abaixo todas as matérias que já foram publicadas: