Ninguém se apresenta como líder da concentração de caminhoneiros que se estende desde o início da manhã desta segunda-feira às margens da BR-392, em Pelotas. A estratégia é uma das consequências das manifestações da categoria ocorridas no início do ano - motoristas dizem que, à época, os organizadores sofreram retaliações.
Também representa um reflexo da greve anterior a pauta de reivindicações erguida pelos caminhoneiros autônomos. Eles reclamam que nenhum dos pedidos avançou depois da paralisação. Por isso, restringem a circulação de veículos de carga em estradas de pelo menos oito Estados do país.
Entre a própria categoria, há motoristas que contestam a mobilização por considerarem a pauta difusa: gastos com pedágios, más condições de estradas, preço baixo do frete e até o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) enfileiram a lista de bandeiras. Mas o que se coloca como pedido principal em todos os discursos é o alto valor do óleo diesel.
- Não sobra 25% do valor do frete para levarmos para as nossas famílias. O (preço) do pneu sobe, o da luz sobe, o do imposto sobe. Estamos jogados às traças - disse o caminhoneiro Selmar Vaz, 38 anos.
- Nosso maior problema é o óleo diesel. E cada vez que sobe o combustível, diminui a margem de lucro porque o reajuste do frete não acompanha.
O pátio do Posto Coqueiro, no km 66 da BR-392, concentra mais de cem caminhões nesta segunda-feira - e já falta espaço para o estacionamento improvisado.
Manifestantes orientam motoristas de veículos de carga a interromperem a viagem para impedir que cheguem ao Porto de Rio Grande (ou que saiam da região).
- O governo só funciona sob pressão. E a única forma que a gente tem de fazer essa pressão é parando. Infelizmente, é assim que funciona - afirmou o caminhoneiro Zacarias Pereira, 40 anos.
Parte dos caminhoneiros apoia o movimento. Porém, nem todos aqueles que tiveram de estacionar no local o fizeram por vontade própria. Alguns relatam terem sentido medo de apedrejamentos se descumprissem a orientação e, por isso, não contestaram a interrupção na viagem.
Acompanhe a mobilização na BR-392 em Pelotas:
Tweets de @deboraely
A organização entre os caminhoneiros ocorre pelo WhatsApp. Existem grupos formados no aplicativo que reúnem cerca de cem motoristas de diferentes regiões do país e, por ali, são compartilhadas informações. Na tarde desta segunda-feira, uma mensagem de áudio alertava que um homem havia furado o bloqueio e atropelado um manifestante na BR-101, em Três Cachoeiras. O fato logo se confirmou ser falso, mas causou preocupação com os rumos do movimento às margens da BR-392.
Não há previsão de liberação da rodovia em Pelotas. O Batalhão de Choque da Polícia Rodoviária Federal (PRF), inclusive com reforço de homens de outros Estados, está de prontidão caso seja necessário desinterditar alguma estrada. A corporação informa, porém, que só ocorrerão ações caso haja bloqueios totais.
Confira no mapa onde as manifestações ocorrem: