O futuro que Pedro Henrique Bica Vieira, 11 anos, planeja é transformar o gosto pelo desenho em profissão. O morador de Caxias do Sul decidiu aos cinco anos que seria desenhista. Entre os motivos para a empolgação, está a possibilidade de ajudar avó maternaAngela Ribeiro, que o criou. Os dois residem no Loteamento São Gabriel, acompanhados de um tio e uma tia de Pedro. Nos finais de semana, o guri mata a saudades da mãe e da irmã, de dois anos, que não moram com ele. De segunda a sexta-feira, vai à escola de manhã e frequenta a Casa Anjos Voluntários à tarde. Os projetos para a vida adulta incluem cursar uma faculdade, o que pode torná-lo o primeiro da família a chegar aos bancos universitários.
"Eu quero ser desenhista, ganhar um monte de dinheiro, ser famoso e poder dar uma casa para a minha vó", comenta.
O menino tem motivos para pensar que a educação pode melhorar o futuro. E não é só o dele. É isso que mostra o exemplo da capital catarinense. Florianópolis mudou de vocação por causa do investimento em ensino e tecnologia. Hoje, tem 40% dos trabalhadores com ensino superior. A média no Brasil é de 16%.
Na década de 1980, Florianópolis tinha duas universidades públicas, com destaque para os cursos de engenharia mecânica e administração. Mesmo assim, o turismo era a principal atividade econômica e o funcionalismo público a maior força produtiva. Isso significa que mão de obra qualificada era formada na cidade, que não conseguia reter os talentos. Um cenário que se transformou ao longo dos últimos 30 anos. O diretor-financeiro da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (ACATE), Daniel Leipnitz, diz que o faturamento da tecnologia representa hoje três vezes mais que o do turismo.
"A cidade é muito mais dinâmica com empresas que nasceram e cresceram aqui (Florianópolis). Hoje, 90% da produção dessas empresas, em termos de softwares e hardwares, ela é 'exportada' para outros estados. Então, a cidade ganhou muito em renda, em qualidade das pessoas que migraram para cá", comenta.
Uma das iniciativas que demonstra a importância da tecnologia para Florianópolis é o Geração TEC. O programa foi criado em 2011, a partir de parceria entre o governo do Estado e fundações, associações, institutos, entidades e empresas. Um mapeamento do setor foi realizado para identificar demandas e elaborar cursos gratuitos que são oferecidos a quem quer trabalhar com tecnologia da informação e comunicação.
O programa é destinado a jovens e adultos com mais de 17 anos e que tenham, ao menos, o ensino médio completo ou que estejam cursando o último ano. É formação voltada ao mercado de trabalho. A tendência é que essa característica ganhe mais espaço nas próximas décadas. Junto a isso, quem quiser se manter como um profissional competitivo terá de fazer formação continuada.
"Nós não vamos parar de estudar. O mercado de trabalho, as tecnologias, a nova sociabilidade, o novo mundo exigem que a gente não pare de estudar", explica o professor Delcio Antônio Agliardi, do Observatório de Educação da UCS
Mais que uma exigência, estudar é um direito. É essa a percepção que norteia a iniciativa Cidades Aprendizagem. O conceito foi adotado em 2013 pela Unesco. A ideia é que os municípios desenvolvam políticas públicas para promover a educação ao longo da vida tanto dentro quanto fora das escolas. O foco na educação qualificada e democrática é outro apontamento de especialistas sobre os desafios para o futuro.
"Deve ser promovida a educação formal, ou seja, aquela que é dentro da escola, dentro do sistema educativo. Mas também a educação informal nas comunidades e trabalhar o conceito da educação ao longo da vida, no sentido de que a educação é um direito de todos os cidadãos, independente da idade dele, independente do local em que mora, independente de qualquer questão. E isso proporciona que ele tenha acesso a outros direitos e que possa trabalhar a sua cidadania, a sua autonomia, que ele saiba aprender, que ele saiba buscar informações, que ele tenha acesso às tecnologias de comunicação e informação", afirma a coordenadora de Educação da Unesco no Brasil, Rebeca Otero.
Para Rebeca, uma vantagem entre cidades da Serra é a similaridade, o que pode facilitar a troca de experiências relacionadas à educação.