Sem ter como permanecer na residência onde mora há 13 anos, no bairro Ipê, em Guaíba, o catador Ivo Batista tem dormido desde sábado em uma Kombi emprestada pelo vizinho Valmir Ramos da Rosa, solidário com a tragédia. Na casa de Batista a água ainda atinge um metro de altura.
Com ele, outros quatro moradores se amontoam em um espaço de sete metros quadrados e se revezam na vigília da pouca mobília que restou. Ao menos 60 famílias tiveram a casa invadida pela água no bairro. Apesar de a prefeitura disponibilizar espaço no abrigo municipal para receber os afetados, apenas 11 pessoas aceitaram sair de suas casas. A maior parte optou por permanecer no local por medo de sofrer saques.
- Assim como tem gente que vem para ajudar, tem quem vem para tirar - resume Batista.
Como não pode obrigar a população a deixar as casas, a prefeitura tem fornecido alimentos e roupas para os moradores.
- Combinamos com eles que pelo menos as crianças seriam encaminhadas para o nosso albergue, com condições mais adequadas e seguras - explica Rogério Souza, secretário de Saúde do município e responsável pelas atividades de Defesa Civil na cidade.
Meteorologia alerta para nova chuvarada no RS nesta semana
Nível do Guaíba começa a baixar em Porto Alegre
Apesar dos prejuízos no bairro Ipê, Guaíba e a cidade de Barra do Ribeiro, vizinhas de Eldorado do Sul - onde metade da população foi afetada pela cheia -, sofreram menos com o excesso de chuvas dos últimos dias.
Ambas as cidades também são banhadas pelas águas turvas do Guaíba, mas contam com características geográficas que impediram, até agora, maiores danos.
Moradores das ilhas do Guaíba reclamam de falta de água e donativos
Cai o número de desalojados e desabrigados pela cheia no Estado
Em Guaíba, a água também tomou conta da Avenida João Pessoa, que beira a orla, impedindo o trânsito de carros e pessoas desde sábado. O alagamento foi resultado da retenção do esgoto que não conseguiu ser escoado para dentro do Guaíba e não pelo avanço das águas sobre o calçadão. Como a cidade tem um terreno bastante inclinado, a posição da maioria das casas próximas à orla fica vários metros acima do rio.
Em Barra do Ribeiro, as águas também invadiram parte da Avenida Julio de Castilhos, que beira o Guaíba. Nenhum morador precisou ser desalojado até ontem. Apesar de bastante plano, o município está localizado em um ponto um pouco mais alto, dificultando o avanço das águas.
* Zero Hora