O saguão de entrada ao Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) foi palco de um ato de estudantes feministas na última segunda-feira. A manifestação contou com jovens sem roupas ou seminuas e teve como objetivo chamar a atenção para a violência contra a mulher e protestar contra o androcentrismo. O ato vem causando polêmica na universidade e provocou a suspensão das aulas no ICH.
Posted by Revista o Viés on Terça, 27 de outubro de 2015
VAI TER INTERVENÇÃO FEMINISTA, SIM!No dia de ontem, uma intervenção feminista no prédio do Instituto de Ciências...
Pelo menos dez jovens dançaram e cantaram, encenaram situações de violência contra mulheres, como estupros, espancamentos e feminicídio. Algumas urinaram em baldes e jogaram nas paredes do prédio do instituto para protestar contra homens que urinam nas ruas. Outras consumiram bebidas alcoólicas durante o protesto e há relatos de uma jovem que teria se masturbado na rua.
Em uma postagem no Facebook, o Grupo Auto Organizado de Mulheres da UFPEL, que reivindicou o ato, declarou que a manifestação foi uma demonstração de "resistência" e serviu como "instrumento de arte" para divulgar a causa e a luta. Em um dos trechos, o grupo ironizou a reação das pessoas diante do protesto que "provocou desconforto em alguns, êxtase em outros e raiva - expressas em deboches, xingamentos e agressões físicas".
Foto: Facebook / Reprodução
"Aterrorizadas as pessoas não compreendiam, porque meninas sem roupas, gritavam e urinavam em baldes - cena deprimente - ouvíamos a todo instante. Deprimente é a realidade dos fatos que apontam que nós mulheres somos expostas diariamente a homens urinando em público, mas isso é normativo em uma sociedade da normose, da doença da normalidade (sic)", diz o texto da publicação.
Em outro trecho, o grupo segue protestando contra o que chamam de sociedade androcêntrica. "Uma mulher não deve vacilar jamais no protocolo do bom comportamento construído por séculos de patriarcado. Neste modelo nos cabe apenas um papel e não suporta outras possibilidades, manuais de bom comportamento feminino, redigido por séculos de civilização androcêntrica. Cabe a nós a entrega, jamais a resistência", diz a publicação.
Nas redes sociais, a repercussão foi grande. Muitas pessoas foram contrárias ao ato, mas outras apoiaram a manifestação das estudantes feministas. Em uma das respostas ao texto publicado pelo grupo, um homem escreveu: "Isso não foi um protesto, foi um ato de vandalismo. Quiseram chamar atenção e conseguiram, mas vocês não estão sendo vistas como mulheres que estão lutando por direitos e sim por um grupo de baderneiras e ainda sujam o nome da nossa universidade."
Uma mulher, também contrária ao ato, disse: "Não representam os direitos das mulheres, isso não é ser mulher. Não preciso fazer esse tipo de coisa pra fazer valer meus direitos. Deplorável!"
Por outro lado, a manifestação foi elogiada por admiradores do grupo: "Por cada vez mais arte, mais política, mais atitude, mais revolução. Maravilhoso", escreveu uma delas. "Orgulho imenso de vocês, meninas!", parabenizou outra.
Zero Hora tentou contato com a assessoria de imprensa da UFPel, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. Procurado, o Grupo Auto Organizado de Mulheres da UFPel autorizou a reprodução do seu manifesto.
* Zero Hora