O Rio Grande do Sul enfrenta a partir desta quarta-feira um período prolongado de tempo severo, com previsão de temporais, vento forte e queda de granizo. Em algumas áreas, o acumulado de chuva pode se aproximar dos 300 milímetros ao longo dos próximos dias, segundo alerta lançado na terça-feira pela Defesa Civil estadual. Meteorologistas veem indícios de que a precipitação acima da média seja um reflexo do fenômeno El Niño, que neste ano dá mostras de ser especialmente forte.
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Conforme o previsto, a chuva chegou ao Estado na madrugada, atingindo primeiro a fronteira com o Uruguai e deve avançar ao longo do dia para o restante do território. A presença de um bloqueio atmosférico sobre a Região Sudeste vai impedir que essa frente fria prossiga seu caminho. Ela ficará estacionada sobre o Rio Grande do Sul por pelo menos uma semana. Alimentada pela entrada de umidade oriunda do centro do país e pelas temperaturas elevadas, provocará muita chuva no Estado.
- Isso ainda pode se alterar, porque os modelos variam muito, mas agora eu diria que vai chover no Estado até o fim do mês, praticamente todos os dias. Nos próximos seis ou sete dias, é certo. Até sexta-feira, a precipitação passa fácil dos 100 milímetros. Há risco de cheias e desmoronamentos - avalia o meteorologista Rogério Rezende, do 8º Distrito de Meteorologia.
De acordo com o alerta da Defesa Civil, feito com base na análise dos dados de diferentes serviços de meteorologia, o fenômeno deve atingir com mais força o sudeste do Estado, a bacia do Alto Uruguai, o Litoral Norte, a Região Metropolitana e a zona centro-oriental.
Na madrugada desta quarta-feira, houve registro de queda de granizo em diversas cidades do Estado. Em Bagé, na região da Campanha, os bombeiros foram acionados para atender pelo menos cinco ocorrências de destelhamentos. Equipes circulam pelas ruas da cidade fornecendo lona e auxílio para quem precisar. Ninguém foi desabrigado. Também houve registro de queda de granizo em alguns bairros de Rio Grande, no sul do Estado.
Na Região Metropolitana, houve registros de granizo em Morungava, distrito de Gravataí, por volta das 4h. A Defesa Civil do município realiza levantamento dos estragos no local. Leitores também registraram pedras de gelo em alguns pontos no sul de Porto Alegre.
Há uma preocupação especial com zonas baixas, como os vales do Caí e do Sinos. Desde o fim de semana, a Defesa Civil vem mobilizando suas coordenadorias regionais, para que acionem as estruturas municipais. No alerta divulgado ontem, o órgão recomenda que a população procure locais seguros e feche bem portas e janelas em caso de tempestade com raios, vento e granizo. "É de extrema importância que as comunidades se previnam, seguindo as orientação da Defesa Civil municipal e estadual, saindo de suas casas quando necessário e informando quaisquer danos ou riscos", orienta a nota do órgão.
O sistema Metroclima, da prefeitura de Porto Alegre, também lançou um alerta, citando projeções de chuva acumulada para a cidade de 275 a 375 milímetros ao longo dos próximos 10 dias - o que significaria pelo menos o dobro da média histórica para todo o mês de setembro (da ordem de 140 milímetros).
Em sua conta no Twitter, o Metroclima afirmou que, em caso de confirmação das previsões, "Porto Alegre terá problemas por excesso de chuva e potencial nova cheia do Guaíba". Projeções do Climatempo indicam que, em algumas cidades, pode chover mais do que o esperado para todo o mês no curto período entre hoje e domingo. É o caso de Passo Fundo, por exemplo, onde a previsão aponta de 253 milímetros em cinco dias (contra 197 milímetros de média histórica em setembro).
Durante a quarta-feira, a região mais atingida será o sul. Na quinta e na sexta-feira, a precipitação vai afetar principalmente a região entre Porto Alegre e a Serra. No fim de semana, há previsão de um acumulado de 125 milímetros em zonas do norte.
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Segundo Solismar Prestes, coordenador do 8° Distrito de Meteorologia, tudo indica que o tempo severo está relacionado à ação do El Niño. Ele observa que é na primavera que o fenômeno se faz sentir com mais força no Rio Grande do Sul. Essa influência também é levada em consideração pela meteorologista Mariana Pallotta, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC).
- Os indícios são de ação do El Niño. Ele tem a característica de provocar chuvas acima da média no Rio Grande do Sul. Mas ainda precisamos acompanhar pelas próximas semanas para confirmar.
El Niño em versão "Godzilla"
Se forem confirmadas as expectativas, a chuva acima da média deve persistir no Estado até o final do ano. A causa é o El Niño. Dois dos principais órgãos de meteorologia mundiais, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (NOAA, na sigla em inglês) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertam para um fenômeno de grande intensidade, mais ou menos como ocorreu na virada de 1997 para 1998.
A OMM chegou a dizer que este pode ser o maior El Niño desde 1950. William Patzert, um dos principais estudiosos do assunto e especialista em clima do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, agência espacial americana, resolveu batizá-lo de "Godzilla", em referência à intensidade.
O fenômeno se caracteriza por um aquecimento das águas do Oceano Pacífico ao longo da linha do Equador - como resultado, no Brasil, aumenta a chuva no Sul, enquanto há seca no Nordeste.
- As temperaturas estão acima do normal em todo o Pacífico equatorial, e a tendência é aumentar. Estamos prevendo que este El Niño pode ser um dos mais fortes já registrados - afirmou Mike Halpert, vice-diretor do Centro de Previsão Climática da NOAA, em uma teleconferência recente com jornalistas.
Os meteorologistas brasileiros são mais cautelosos. Acreditam em efeitos de moderados a fortes, mas não com intensidade semelhante à de 17 anos atrás. Ricardo Mollmann, doutorando no Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia da UFRGS, aposta em volumes de chuva 40% acima da média histórica até o final do ano.
A PREVISÃO PARA OS PRÓXIMOS DIAS
Quarta-feira, 16/9
Chuva moderada a forte, com trovoadas. Há possibilidade de temporal no Sul e no Leste, incluindo Porto Alegre. Em algumas áreas, pode haver queda de granizo. As rajadas de vento podem chegar a 90 km/h. A temperatura máxima no Estado vai a 35ºC.
Quinta-feira, 17/9
Tempo nublado, com pancadas de chuva e trovoadas. Temperatura em declínio.
Sexta-feira, 18/9
Mais chuva, com acumulado ultrapassando os 100 milímetros em várias partes do Estado. A precipitação concentra-se mais na metade norte do território. A temperatura volta a ultrapassar a marca do 30ºC no Rio Grande do Sul.
Sábado, 19/9
A chuva persiste, acompanhada de trovoadas. O acumulado durante o fim de semana pode rondar os 125 milímetros em algumas áreas da Serra e do Norte.
* Zero Hora