Os partidos separatistas teriam conquistado a maioria das cadeiras no Parlamento regional da Catalunha nas eleições deste domingo, alcançando assim o objetivo de iniciar uma secessão da Espanha, segundo os resultados parciais, após a apuração de 88% dos votos.
Artur Mas reivindicou a vitória dos separatistas, considerando as eleições regionais um "plebiscito" pela separação do território do restante da Espanha. "Ganhamos", declarou Mas, ao comemorar a maioria de cadeiras obtidas no Parlamento regional pelos partidos separatistas, segundo os resultados parciais com base na apuração de 88% dos votos.
- Exatamente como nós, democratas, teríamos aceitado a derrota, agora pedimos (...) que os outros aceitem a vitória da Catalunha e a vitória do sim -, declarou diante de cerca de dois mil simpatizantes, reunidos exibindo bandeiras separatistas em uma praça do bairro gótico de Barcelona.
Com uma taxa de participação histórica de 77%, a coalizão Junts pel Sí, integrada pelo partido liberal de Mas (CDC), a progressista ERC e associações civis, teria obtido 62 das 135 cadeiras da câmara regional, segundo os resultados parciais.
Juntamente com outro partido separatista, a esquerda anticapitalista CUP, que teve 10 cadeiras, somariam 72 assentos, superando os 68 deputados correspondentes à maioria absoluta que tinham estabelecido para iniciar um processo de secessão.
- Temos um mandato democrático (...) e isto nos dá uma legitimidade enorme para seguir adiante com este projeto - , disse Mas.
- Temos uma maioria mais que suficiente para levar adiante este projeto -, concordou o aliado e líder do ERC, Oriol Junqueras.
Impedido de fazer um referendo de autodeterminação que muitos catalães pediam desde 2012, Mas convocou eleições regionais antecipadas e as dotou de um caráter plebiscitário, centrando-as na independência.
A "Junts pel si" é integrada pelo partido CDC, do presidente regional Artur Mas, pela esquerda separatista ERC, associações e personalidades da região. A coalizão se comprometeu a iniciar um processo de secessão do restante da Espanha, que deveria terminar em 2017 com a proclamação da República Catalã independente, caso os separatistas obtenham maioria parlamentar.
Partcipação maciça
Diante dos primeiros resultados de boca de urna, que já lhes davam a vitória, os separatistas reagiram aos gritos de "independência" e aplausos na praça onde se concentraram para acompanhar a apuração, entoando o hino desta região nordeste da Espanha, com 7,5 milhões de habitantes.
- A sensação que temos pelos dados disponíveis aponta para que esta maioria soberanista clara e nítida a favor da independência da Catalunha é um fato", disse um dos diretores de campanha da Junts pel Sí (JxS).
- Conseguimos fazer um plebiscito que não nos deixaram fazer e isto se deve à grande participação -, comemorou, em alusão à oposição do governo espanhol de Mariano Rajoy de permitir um referendo de autodeterminação.
Os eleitores votaram em massa e às 18h locais (13h de Brasília) - duas horas antes do fechamento das seções - a participação chegava a 63%, sete pontos a mais do que nas últimas eleições, em 2012.
Eleição histórica
A eleição deste domingo era considerada "histórica", pois pode levar ao poder uma coalizão pró-separatista decidida a conduzir essa rica região da Espanha à independência em menos de dois anos.
Um ano após a Escócia, a Catalunha, com 7,5 milhões de habitantes, deve escolher seus deputados e dizer se estes devem iniciar o processo de divórcio com a Espanha.
Seus habitantes estão muito divididos, e poderiam optar pela prudência, dando suas vozes a uma multiplicidade de partidos do "não", como o Partido Popular no poder (PP, direita) Ciudadanos (centro-direita), socialistas, o antiliberal Podemos (esquerda radical).
- Estou emocionado e nervoso -, disse Toni Valls, arquiteto de 28 anos. "Faz muito tempo que falamos das maneiras de resolver esta questão e, hoje, saberemos se somos maioria", declarou o jovem que é a favor da independência.
Já outros pareciam inquietos, como Mireia Galobart, de 70 anos:
- Este não é o momento de nos separar -, afirmou. - Isso poderá me atingir diretamente, se não houver aposentadorias. Precisamos permanecer na Espanha, mas com um governo mais autônomo -, considerou.
O técnico FC Barcelona, Luis Enrique, ex-jogador do Real Madrid, escreveu em seu Twitter ter "exercido seu direito de voto", acrescentando "Viva a Catalunha!" em catalão.
A Catalunha "não é a Escócia", ressaltou, por sua vez, o historiador Carlos Andres Gil:
- Nós não estamos falando de um território secundário para o país, mas da região mais industrializada.
De fato, se a Catalunha deixar a Espanha, levará com ela um quinto do PIB do país, quarta maior economia da zona do euro, além de um quarto das suas exportações.
A possibilidade preocupa banqueiros e empresários. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, também defendem a unidade.
A população da região tem estreitas ligações com o resto do país: três quartos dos catalães têm um avô em outras partes da Espanha. Mas, graças à crise e às más relações com o poder central, o nacionalismo de muitos catalães, orgulhosos de sua cultura, transformou-se em separatismo.
Um sentimento alimentado pelas personalidades envolvidas: Mariano Rajoy de um lado e o líder do movimento, o presidente catalão Artur Mas, do outro. O primeiro lutou para alterar o estatuto de autonomia reforçado que a Catalunha havia obtido em 2006 e retirou o seu título de "nação". Ele ganhou o caso em 2010, quando o Tribunal Constitucional decidiu que o título não tinha valor jurídico. Já o segundo, capitalizou o sentimento de muitos catalães de sofrer "maus tratos" por Madri e a ira pela injusta distribuição da renda nacional de acordo com eles.
- É uma questão de dignidade e respeito por uma cultura diferente que eles nem sequer tentam compreender -, resume o arquiteto Tony Valls.
Desde 2012, Artur Mas tem exigido repetidamente a realização de um referendo de autodeterminação, semelhantes aos realizados no Quebec ou Escócia, o que Madri rejeita categoricamente.
Após uma consulta simbólica em 9 de novembro de 2014, que recolheu 1,9 milhão de "sim" à independência, Mas finalmente decidiu avançar antecipar as eleições regionais previstas para o final de 2016.
Ele reuniu a maior parte do campo separatista - direita, esquerda republicana, associações - em uma única lista, "Juntos pelo Sim", e pediu aos eleitores para validar seu programa: a "liberdade" já em 2017.
No poder desde 2010, Mas garante estar pronto para avançar com uma maioria absoluta dos deputados (68 assentos de um total de 135), mesmo sem o voto da maioria. Com os assentos da outra lista separatista, CUP (extrema esquerda), isso poderia acontecer, segundo as pesquisas. Um cenário que faria a Espanha entrar em uma zona de turbulência, a três meses das eleições legislativas.
Catalunha encerra campanha eleitoral com separatistas esperançosos
Separatistas celebram grande passeata às vésperas de votação na Catalunha
* AFP
Catalunha
Separatistas vencem regionais na Catalunha, com 88% dos votos apurados
Votação deste domingo pode levar ao poder uma coalizão separatista
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