A delegacia da Polícia Federal (PF) em Rio Grande recebeu há uma semana relatos sobre contribuições eleitorais na região do polo naval que chamaram a atenção da Lava-Jato, a operação que investiga corrupção em obras ligadas à Petrobras. Os documentos mostram que políticos da zona sul do Estado receberam doações oficiais, às vésperas do pleito municipal de 2012, de uma empresa utilizada por um lobista para fazer lavagem de dinheiro. A informação à PF foi passada por um cidadão que costuma pesquisar as prestações de contas pós-eleições.
O lobista que lavou dinheiro é Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, que admitiu ter pressionado, mediante pagamento de propina, para a empreiteira Toyo Setal vencer licitações. Ele confessou ter subornado dirigentes da Petrobras e hoje é um dos delatores da Lava-Jato. Em 14 depoimentos à Justiça Federal, Mendonça detalhou 24 repasses feitos por empresas controladas por ele em 18 meses, no período de 2008 a 2012 - algumas remessas, diretamente a partidos (doações), outras como suborno a diretores da estatal de petróleo. A Toyo Setal é uma das construtoras da plataforma P-74, em São José do Norte.
Mendonça é dono da Tipuana Participações, firma usada para receber gratificações pelo lobby em favor das empreiteiras. Dos R$ 100 milhões movimentados pela Tipuana, R$ 18,7 milhões foram transferidos para a Yellowwood Consultoria, também propriedade de Mendonça. A Yellowwood aparece, no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como uma das contribuintes para a campanha a prefeito e vereador nas cidades de Rio Grande e São José do Norte. A empresa doou R$ 50 mil para a campanha de 2012 do
atual prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer (PT), e outros R$ 50 mil para o prefeito de São José do Norte, Jorge Sandi Madruga (PT).
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Nem o prefeito de Rio Grande e nem o de São José do Norte sabem com o que trabalha a Yellowwood, mas aceitaram mesmo assim as doações. Conforme o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, a empresa funciona em uma sala de um prédio comercial na Avenida Copacabana, num distrito da cidade de Santana da Parnaíba (SP). A Tipuana Participações também funciona em uma sala de outro prédio, na mesma cidade. A PF concluiu que são firmas sem empregados, apenas para receber e repassar investimentos.
Tanto a Tipuana quanto a Yellowwood são investigadas pelo Ministério Público Federal. Agora, os procuradores começaram uma pesquisa de todas as doações eleitorais efetuadas por essas empresas, para verificar se ocorreram dentro da legalidade.
O passo seguinte será ouvir novamente Mendonça, para saber se as doações da Yellowwood eram contribuições legítimas ou alguma forma de suborno. Isso porque, em seus depoimentos, ele repetiu que o pagamento de propina a políticos e dirigentes da Petrobras, com uso de suas empresas, aconteceu de três formas: parcelas em dinheiro, remessas em contas indicadas no Exterior e doações oficiais a partido.
Conforme a CPI da Petrobras, a Yellowwood seria firma de fachada para repasse de recursos
Políticos dizem que remessas foram legais
Os prefeitos de Rio Grande e São José do Norte asseguram que todas as doações para a campanha de 2012 foram recebidas dentro da legalidade, declaradas e com recibo. Ambos negam saber algo sobre a Yellowwood, mas admitem conhecer o dono dela, Augusto Mendonça. Ele era conselheiro da Associação Arranjo Produtivo Local do polo naval.
- Uns R$ 50 mil, pode ter sido por meio dessa empresa Yellowwood, não recordo, talvez seja ligada à Setal. Todas as empresas de estaleiros pingam contribuições. Declaramos tudo - disse Alexandre Lindenmeyer, prefeito de Rio Grande.
- Doações empresariais desse tipo são permitidas. Da minha parte, foi tudo declarado. Só depois que estourou a Lava-Jato vi que o Augusto teria empresas de fachada, pagava propina, coisas assim. Mas as
doações que pedimos foram oficialmente ao grupo, nada ilegal - explicou Jorge Sandi Madruga, prefeito de São José do Norte.
Zero Hora contatou a Toyo Setal para verificar como ocorreram suas doações eleitorais, mas até o fechamento desta edição não tinha obtido resposta.