Os envolvidos no esquema de adulteração de leite nos Campos de Cima da Serra usavam código para tentar ludibriar a investigação do Ministério Público (MP). Segundo gravações telefônicas obtidas com autorização da Justiça, o empresário Márcio Fachinello, preso preventivamente na manhã desta quinta-feira, é suspeito de orientar os motoristas a colocar bicarbonato de sódio no leite coletado de produtores de Esmeralda e cidades da região. Com essa mistura, o produto vencido aparentava ser bom para o consumo.
- Ele dizia que era para os funcionários colocarem óleo no produto. E óleo era o código para bicarbonato de sódio - afirma o promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos da Silva Filho.
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A empresa de Fachinello operava com três motoristas e quatro caminhões. Em média, o grupo coletava diariamente 40 mil litros de leite. Como boa parte do produto seria impróprio para o consumo, os funcionários e o patrão estariam adicionando o bicarbonato e sal para mascarar a deterioração. Além de Fachinello, a Justiça ordenou a prisão de três funcionários dele.
O MP, como apoio da Brigada Militar e fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), também apreendeu os caminhões da transportadora de Fachinello, sacos de bicarbonato de sódio e sal. O material seria usado para adulterar o leite foi encontrado num galpão ao lado da casa do empresário, e também num sítio da família dele.
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Segundo o promotor Mauro Rockenbach, o Mapa vai rastrear o destino do leite. A princípio, a mercadoria era levada para a empresa Unibom, com sede em Água Santa, no Norte do Estado. A investigação do MP não apontou envolvimento da Unibom com a fraude. Segundo o promotor Alcindo, apesar de a empresa não ter conhecimento do esquema, seria obrigação detectar a fraude nos testes de qualidade.
Desde o início da Operação Leite Compen$ado, em 2013, houve aumento nas reclamações de consumidores. De acordo com o promotor, produtos vendidos em mercados e que deveriam ter data de validade de quatro meses já apresentam deterioração com pouco mais de dois meses após o envasamento. Isso seria sinal de que a grande quantidade de acidez acelera a deterioração do leite.
- Vamos entrar na 10ª fase da operação e ainda não conseguimos cessar essa odiosa prática que prejudica os consumidores. Mas vamos continuar atuando - salientou o promotor Mauro Rockenbach, que também participou da ação desta quinta-feira.
Os quatro presos seriam levados para o presídio de Vacaria. O empresário Márcio Fachinello nega qualquer ter fraudado o alimento. Um dos motoristas que trabalhava pra ele, Tiago da Luz Pereira, porém, afirma que era orientado pelo patrão a misturar bicarbonato diretamente no leite cru ainda dentro do caminhão.
Operação Leite Compen$ado
Fraudadores do leite nos Campos de Cima da Serra usavam código para desviar investigação
Óleo era o termo usado para designar a adição de sal e bicarbonato de sódio no produto vencido
Adriano Duarte
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