Não ter onde trabalhar deixou de ser um temor e virou realidade para 166 pessoas que atuavam em 11 hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Região Central. Eles perderam seus empregos nos últimos meses. A crise na saúde, que já vinha comprometendo atendimentos, agora, atinge em cheio o quadro funcional de hospitais públicos, filantrópicos ou Santas Casas no interior do Estado. O número representa 9,15% do total de servidores que havia nessas 11 instituições.
Além de ter como principal pano de fundo os atrasos nos repasses de verbas por parte do governo do Estado, a rede hospitalar sofreu com a redução nos contratos de atendimentos, que tiveram cortes entre 30% e 35% em média.
Praticamente a metade das 23 instituições consultadas pelo "Diário" (11) confirmou que, depois de cortar gastos e racionalizar atendimentos, precisou reduzir o número de servidores. Algumas preveem novas demissões se os repasses não forem regularizados. É o caso do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, em Rosário do Sul, que já dispensou 18 servidores.
- Nossa situação piorou. Com corte de 30% no contrato e sem notícia do pagamento dos incentivos, estamos no desespero total. Neste mês, só conseguimos pagar a folha - disse Daniel Vendrúsculo, o gestor da instituição.
Conforme levantamento da reportagem, 12 hospitais não tiveram demissões. Outros três hospitais que se mantém com verba do município e um particular não entraram no levantamento. E o hospital São Vicente de Paulo de Cruz Alta não se manifesta sobre o assunto.
Em pelo menos dois dos hospitais que sofrem os efeitos dos atrasos, eventualmente, há leitos ociosos pelo SUS por causa da suspensão de serviços. Em São Pedro do Sul, o prefeito Marcos Senger garante que o fim dos atendimentos em cardiologia, otorrinolaringologia, ginecologia e obstetrícia deixa vaga parte dos 26 leitos que estão ativos no local. De segunda a sexta-feira, a aposentada Erci Peixoto Gomes, 74 anos, ocupou um desses leitos. Internada para tratar uma infecção urinária, ela afirmou que não teria condições de arcar com um atendimento particular.
- Esse hospital aqui é o nosso apoio, se seguir assim (fechando serviços) fica difícil, porque particular não tenho dinheiro para pagar. Aqui é bom, o pessoal cuida bem da gente, se não fosse aqui, teria que ir para a fila em Santa Maria - disse na tarde de quinta, quando ainda recebia atendimento.
Apesar dos serviços terem sido suspensos, o salário dos funcionários está em dia e ninguém foi demitido no local. Situação que contrasta com o hospital de Tupanciretã, onde 19 pessoas perderam o emprego e 10 leitos foram desativados pois falta verba para internar os pacientes.
A Secretaria Estadual de Saúde disse, na sexta-feira, que não tinha como avaliar as demissões porque desconhecia "quais são as instituições e o porte das mesmas. Só na região central, existem mais de 30 municípios com hospitais de pequeno porte".
Estado liberou R$ 43,8 milhões
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou, por meio da assessoria de imprensa, que efetuou, naquele dia, o pagamento de R$ 43,8 milhões aos hospitais filantrópicos, públicos e Santas Casas contratualizadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado. O dinheiro veio do governo federal que remanejou saldos financeiros de programas do Ministério da Saúde. Também foram pagas clínicas e laboratórios que prestam serviços ao SUS. Os pagamentos se referem a débitos dos meses de abril, maio, junho e julho deste ano.
Desse total, não foi informado o valor que foi repassado aos hospitais da Região Central. A SES disse ainda que a Região Central está passando por uma reorganização, desde a Atenção Primária em Saúde, até a Atenção Hospitalar, tendo como base os hospitais Casa de Saúde em Santa Maria, Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e Hospital de Caridade de Santiago. "Os contratos com essas instituições serão revistos no sentido de aumentar substancialmente os serviços na região e, especialmente, na cidade de Santa Maria", diz a assessoria da SES.
Na tarde da última sexta, o governador José Ivo Sartori recebeu a diretoria da Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e prefeitos da Comissão de Municípios com Hospitais de Pequeno Porte (HPPs), que mantém até 50 leitos. A comissão pede a contrapartida do Estado aos hospitais para evitar suspensão de serviços.
O secretário da Saúde, João Gabbardo, garantiu que até dezembro as dívidas com os 125 HPPs, na ordem de R$ 6 milhões, serão pagas. Gabbardo explicou que os recursos serão provenientes dos repasses do Ministério da Saúde. No próximo dia 15 de setembro, o secretário da Saúde participará da reunião da Famurs, quando apresentará a proposta do governo para o funcionamento e custeio dos HPPs.
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