A reitora do Centro Universitário Franciscano (Unifra), Irmã Iraní Rupolo, decidiu romper o silêncio e falar sobre o projeto de ampliação do Hospital São Francisco. Ela disse que nunca quis criar polêmica, mas afirmou que, atualmente, em função das exigências de contrapartida como obras de abertura e recuperação de ruas no bairro Nossa Senhora de Lourdes, não há decisão alguma sobre ampliar ou não o hospital.
Deni Zolin revela o que a reitora da Unifra pensa sobre as propostas de construir hospital em outra cidade
- Se você me perguntar qual a decisão hoje, eu não sei - afirmou Iraní, garantindo que, nas condições atuais, não há como ampliar o hospital para 360 leitos, ao custo de R$ 140 milhões.
Porém, a reitora admitiu que a decisão precisará ser tomada ainda este ano e que está mais inclinada a fazer uma ampliação menor, passando dos atuais 74 leitos para pouco mais de cem. Seria bem menos que os 360 leitos previstos no projeto original.
Vereadores estão se mobilizando para tentar resolver esse impasse entre prefeitura e Unifra e tentar viabilizar a ampliação para 360 leitos.
O colunista Deni Zolin conversou com Iraní durante 45 minutos, na tarde desta quarta-feira, na reitoria da Unifra. Confira, abaixo, a íntegra da entrevista:
Deni Zolin - O que motivou esse último impasse em relação ao projeto de ampliação do hospital?
Iraní Rupolo - Qual foi nossa surpresa. No início de julho, o arquiteto chegou e disse: "Tudo que nós havíamos colocado a pedido do Iplan no Estudo de Impacto de Vizinhança, foi posto no parecer do Iplan como se a Unifra iria ter de fazer. Fiquei muito preocupada. A Unifra não pode fazer essas obras. Até porque o asfaltamento e a recuperação de ruas não pode ser de nossa responsabilidade. Então, nós somos responsáveis por fazer a cidade? Não estou fazendo o hospital para a Unifra, mas para Santa Maria e região. Nós falamos com a Câmara, e ela disse que não poderia fazer isso (retirar as exigências). Eu, então, oficiei por escrito e falei ao prefeito: "Nós não vamos assumir responsabilidade de qualquer natureza como pavimentação de ruas e abertura de ruas, pois isso é de competência do poder público". Ele não se demoveu. Tudo bem, esperei. Para minha surpresa, a lei 100, que saiu em 20 de julho, coloca todas essas obrigações. Inclusive asfaltamento de 11 ruas, abertura de duas ruas até a BR-158. Aí, eu disse: "Neste cenário, nós não temos decisão". Aquele cenário e aquele projeto (hospital de 360 leitos) não se concretiza. E não estamos pedindo nada. Se for para não sair, não sai. Temos outras alternativas. Se você me perguntar agora, qual a nossa resposta, eu não sei.
Deni Zolin - O prefeito e o presidente do Iplan alegam que no projeto não fala em asfaltamento e que as obras necessárias seriam pequenas.
Rupolo - Se o hospital está lá, por que teria de abrir as ruas? Isso foi há um mês. Esta nossa reação, eu não fui a público, porque eu não quero criar polêmica. Mas quero reafirmar que eu falei com o senhor prefeito, antes de ele publicar a lei, e que nós não estávamos de acordo. Ele disse que o que Iplan tinha posto, ele não iria mexer. Outras cidades, quando é uma obra de escola ou hospital, não exigem contrapartida. E a Unifra já se antecipou em contrapartidas e dá isso há muito tempo. Temos convênios com secretarias, como de Saúde e Educação, e a Unifra atende toda a região Oeste, atendemos aquelas unidades básicas, com nossos alunos e professores. Considero grave uma instituição local receber essa penalidade. Isso não é contrapartida. Então, se eu pudesse dizer que três anos de investimento de tempo e de expectativa nos fizeram chegar a esse momento, isso não nos satisfaz. E um segundo ponto que acho mais grave. Você imaginou agora quem vai querer investir na cidade? Porque eu entendo que este é o parâmetro de custo para qualquer um que vá construir. Eu queria saber se, de fato, isso foi politicamente dimensionado, e responsavelmente. Ou se houve outros interesses.
Deni Zolin - A senhora acha que tem outros interesses?
Rupolo - Eu acho que tem.
Deni Zolin - Quais seriam esses interesses?
Rupolo - Não é possível impedir. E talvez nós nos consideremos impedidas e nunca mais façamos.
Deni Zolin - Se não sair o hospital vertical de 360 leitos, qual seria o plano B?
Rupolo - Seria uma ampliação menor e horizontal. Sem incorrer em nenhuma dessas exigências (obras em ruas). Hoje, o hospital São Francisco tem 74 leitos. Ele passaria para pouco mais de 100 leitos. Não ampliaria muito. Já temos até o estudo feito. Só que daí eu lamento, pois a perda não é pessoal, é dos estudantes, da qualificação, da sociedade. Cada dia de atraso é uma perda.
Deni Zolin - Ele atenderia assim todas as necessidades da Unifra para os estágios?
Rupolo - Não. Atenderia medianamente. É isso que lamento. Por isso, nós temos os convênios (com hospitais de outras cidades, onde alunos de final de curso fazem estágios).
Deni Zolin - Mas daí vocês teriam um problema a ser resolvido no futuro?
Rupolo - Sim.
Deni Zolin - E existe plano C, de construir em outra cidade?
Rupolo - Vários prefeitos têm nos procurado: São Sepé, Silveira Martins, Itaara e São João do Polêsine. Aí você vê, que contraditório. Uma cidade que poderia dizer, faça, nos impede. E outras querendo até ceder terreno. Mas daí você pensa no deslocamento dos alunos.
Deni Zolin - Mas passa pela sua cabeça construir o hospital em outra cidade?
Rupolo - Não, porque teria de partir tudo do zero. Por enquanto, a chance é zero.
Deni Zolin - Até quando vocês vão ter de tomar essa decisão, do plano A ou do B?
Rupolo - Ainda este ano.
Deni Zolin - Entre o plano A e o plano B, qual a tendência?
Rupolo - Estamos mais inclinados hoje para o plano B, pois nós não vamos pedir mais nada (retirar as contrapartidas).
Deni Zolin - Só se a prefeitura e a Câmara chegarem à decisão de tirar as exigências. A senhora não vai pedir mais?
Rupolo - Já falei com o prefeito antes de a lei sair. Nunca soubemos de que tudo o que estava no estudo de impacto seria ônus do empreendedor. Isso nunca foi dito pela prefeitura e essas contrapartidas nunca foram discutidas conosco. Só diziam: falta isso, falta aquilo. Não tivemos uma ajuda. Pelo contrário.