A tranquilidade típica do horário de almoço na cidade de Imigrante, no Vale do Taquari, foi quebrada por tiros de fuzil e gritos de pavor em pleno Centro por volta das 11h40min desta segunda-feira. A população de cerca de 3,1 mil habitantes do município a 35 quilômetros de Lajeado foi supreendida por uma ação cinematográfica de criminosos que assaltaram, simultaneamente, os bancos Bradesco e Banrisul, e uma lotérica.
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Armados com fuzis, entre cinco e sete assaltantes chegaram aos estabelecimentos que ficam um ao lado do outro (a lotérica entre os dois bancos) na Avenida Doutor Ito João Snel em dois carros, um Nissan Tida Preto, com placas de Florianópolis, e um Cobalt branco, com placas de São Leopoldo. Um funcionário do Bradesco que pediu para ter seu nome preservado relatou que os homens encapuzados já chegaram atirando e obrigaram pedestres, funcionários dos bancos e moradores de residências na frente das agências a formar dois cordões de isolamento trancando a passagem para os dois lados da via.
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Conforme a farmacêutica Camila Spohr, 24 anos, que trabalha em frente aos bancos, os bandidos dispararam mais de 30 tiros na ação.
- Eu escutei os tiros e até pensei que fossem foguetes por causa do Gre-Nal deste domingo. Mas aí, percebi que era um barulho muito alto. Nisso, entrou uma mulher aqui (na farmácia) correndo e chorando e pediu para se esconder. Do canto da porta eu conseguia ver as pessoas em fila na rua e os ladrões com armas grande na mão. As vezes davam um tiro só, outras, vários em sequência. Foi mais de 30 - contou Camila.
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Nos vidros das portas das agências e nas paredes da prefeitura, ficaram marcas de disparos. Pelo menos dois tiros acertaram a sede do Executivo, que fica a menos de 200 metros dos bancos.
- Eu tinha saído aqui perto (da prefeitura), mas escutei o tiroteio. Foi muito tiro mesmo - confirmou o prefeito de Imigrante, Celso Kaplan (PP).
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O agricultor Adilson Stevens, 41 anos, e o pai, Ilário Stevens, 63 anos, também agricultor trabalhavam em uma obra do outro lado da avenida, na frente dos bancos, e foram obrigados a formar com outros reféns uma das barreiras de pessoas que trancava, em filas com pelo menos dez pessoas de mãos dadas, a passagem na via.
- A gente estava trabalhando e ouviu barulhos, mas achou que era o pessoal lá em cima (na obra) quebrando isopor. Aí chegou um cara de arma e nos mandou ir para a rua. Ficamos em um dos lados e eles ficavam no meio entre as duas filas. Estavam supercalmos, não bateram e nem ameaçaram ninguém. Só ficavam atirando para os lados e para cima - contou Adilson.
Conforme o agricultor, os ladrões desarmaram e retiraram os coletes dos vigias. Enquanto alguns ficavam na rua vigiando, outros estavam dentro dos bancos.
- Uma hora um de fora perguntou para os de dentro "e aí, quanto tempo falta?" E um ladrão lá dentro gritou "oito minutos". Mais um pouco perguntaram de novo, e o cara lá dentro disse "cinco minutos". Os de fora perguntaram se iam esperar, e os de dentro disseram que iam - relembra Adilson.
A polícia ainda não confirma se os assaltantes estavam cronometrando o tempo da ação ou se aguardavam o tempo necessário para abertura de algum dispositivo de travamento do cofre.
- Levou um tempão, parecia um eternidade que não acabava nunca - contou o Ilário.
Passados 25 minutos da chegada do bando, os ladrões saíram do banco com mochilas nas costas. Adilson conta que um dos homens chutou e arrombou a porta da lotérica, que já estava fechada no momento do ataque. O ladrão entrou e saiu logo em seguida levando uma pasta preta.
Antes de fugir, os criminosos orientaram as pessoas nos cordões humanos a manterem as barreiras. Em seguida, saíram nos dois veículos levando no Tida preto uma funcionária e um dos vigias do Banrisul.
Uma mobilização rápida de equipes da Brigada Militar (BM) e da Polícia Civil conseguiu capturar cinco suspeitos de terem participação ao assalto em Imigrante. A BM mobilizou efetivos de todo o Centro Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) Vale do Taquari. Equipes do Departamento Estadual de Investigações Criminais e o helicóptero da BM também atuaram no cerco.
Foto: Carlos Ismael/Agência RBS
Logo depois de a quadrilha capotar um Tida na via de acesso a Boa Vista do Sul, policiais militares localizaram um Cobalt branco com placas de São Leopoldo, também usado pelo bando, abandonado alguns quilômetros adiante. Por volta das 14h, foram presos Paulo Sérgio Ferreira e Izaura Anita Tavares Dutra em outros dois veículos, um Meriva e um Peugeot. A suspeita é de que estivessem dando cobertura ao bando. No Tida capotado, foi encontrada uma mochila com dinheiro.
Por volta das 18h, outros três suspeitos foram encontrados em um matagal no limite de Imigrante e Boa Vista do Sul. Agripino Brizola Duarte, Josué Ribeiro Wolz e João Maurício Machado Grabalski portariam fuzis, coletes e outra quantia de dinheiro. Um dos criminosos estaria em prisão domiciliar em Gravataí. As buscas a outros dois suspeitos prosseguiam ontem à noite. Todos os presos foram levados para a delegacia de Teutônia, mas o delegado Humberto Roehrig, não deu detalhes sobre o caso em razão da mobilização dos servidores públicos do Estado.
Um ataque praticamente idêntico às duas agências ocorreu no dia 9 de dezembro, quando os criminosos também foram cordões humanos na avenida para isolar os bancos.