O duelo de manifestações e ironias entre defensores do governo federal e movimentos que pedem a saída da presidente Dilma Rousseff ganha novo round. Assim como apoiadores do Partido dos Trabalhadores (PT) já realizaram três edições do "Coxinhaço" nos mesmos dias dos protestos anti-Dilma ocorridos neste ano (15 de março, 12 de abril e 16 de agosto), um grupo de 15 pessoas prepara um evento para ser o contraponto bem-humorado à mobilização de movimentos sociais e sindicatos ligados ao governo nessa quinta-feira: o "Mortadelaço".
PT usa comerciais para convocar manifesto contra "ofensiva da direita"
- O Mortadelaço surge como um contraponto das grandes manifestações pró-governo Dilma. Tem como função precípua justamente demonstrar, por meio do tom de brincadeira, do humor, o negócio do pão com mortadela, do cachê que é conhecidamente dado a manifestantes pró-governo - explica um dos organizadores do evento, que se apresentou à reportagem como João Galt, 28 anos.
- (O PT) tem que dar pão com mortadela para as pessoas, R$ 25, R$ 35, só assim que eles têm conseguido levar pessoas às ruas. Ainda assim, poucas. Enquanto os coxinhas, sem dinheiro nenhum passando por trás dos panos, tem levado milhões de pessoas. A gente quer justamente ironizar esse ponto. Quem é realmente a voz das ruas? Os coxinhas, que vão por vontade própria e de graça, ou essa brincadeira de pessoas que vão só pela mortadela? - questiona Eloisa Bartmeyer, 22 anos, estudante de Medicina que também participa da coordenação do Mortadelaço.
No Facebook, a página do evento indica a Banda Loka Liberal como organizadora, mas Galt e Eloisa, que não fazem parte do conjunto musical que embalou os manifestantes com cânticos nas manifestações anti-Dilma, garante que o grupo é apenas um apoiador voluntário da mobilização. Segundo os jovens, a ideia do evento surgiu entre amigos, inspirados nos protestos promovidos por Movimento Brasil Livre (MBL), Vem pra Rua e Revoltados Online - os três blocos também não tem, segundo Galt e Eloisa, vinculação direta com o Mortadelaço.
Até a madrugada desta quarta-feira, cerca de 1,5 mil simpatizantes haviam confirmado presença na página do encontro no Facebook. Na rede social, a distribuição de pães com mortadela - com apenas margarina, para os vegetarianos e veganos - foi marcada inicialmente para a esquinas das avenidas João Pessoa com Venâncio Aires. Mas, conforme Galt, em razão de "ameaças" de possíveis confrontos devido à proximidade com o diretório do PT na Capital, a organização decidiu transferir a manifestação para a Praça Júlio de Castilhos, na esquina da Rua Ramiro Barcelos com a Avenida Independência. O evento está marcado para às 18h.
O grupo, que garante não ter apoio de qualquer partido político ou entidade de classe, ressalta que os 15 quilos de mortadela já comprados e os pães que devem ser adquiridos no dia do Mortadelaço foram custeados com a soma de contribuições dos próprios organizadores.
- Não está sendo financiado com dinheiro público, como são financiados os eventos coordenados pelo PT no Brasil, que é com dinheiro público, do BNDES, da Caixa. Isso já é notícia - afirmou Galt.
No último dia 11, o jornal O Globo publicou em reportagem que cartazes da 5ª Marcha das Margaridas, coordenada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e outras entidades de trabalhadores do campo, órgãos do governo como Itaipu Binacional, BNDES, Caixa e Sesi apareciam como patrocinadores. O presidente da Contag, Alberto Broch, disse ao O Globo que esses órgãos dão apoio para a infraestrutura do evento, mas não sabe quanto de recursos foi disponibilizado.
Protesto
"Mortadelaço" ironiza manifestações em apoio ao governo federal
Assim como o "Coxinhaço" fez contraponto às mobilizações pelo impeachment de Dilma Rousseff, grupo vai distribuir pão com mortadela na Capital em resposta ao ato em apoio à presidente
Carlos Ismael Moreira
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