O governo do Estado garante que, se for aprovada na Assembleia, a extinção da Fundação Zoobotânica não afetará o Jardim Botânico de Porto Alegre nem as pesquisas científicas em andamento. Apesar disso, o teor da proposta e as dúvidas em torno dela uniram centenas de pessoas, na manhã desta terça-feira, em um abraço simbólico à área verde.
O texto apresentado na semana passada aos deputados tem uma página. Basicamente, autoriza o Poder Executivo a fechar a fundação e a demitir os funcionários.
Abraço simbólico marca defesa da Fundação Zoobotânica na Capital
A intenção é incorporar o jardim à Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema), transferir a administração do Museu de Ciências Naturais a alguma universidade e fazer a concessão do Parque Zoológico de Sapucaia do Sul. As medidas são motivo de alvoroço entre servidores, pesquisadores e ambientalistas.
- Fomos pegos de surpresa. A extinção é um problema, porque a fundação faz um trabalho extremamente qualificado e importante, que ninguém mais faz. É por isso que o órgão é essencial. A Secretaria não tem gente suficiente para cobrir essa lacuna. Será um apagão - diz o biólogo Paulo Brack, professor do Instituto de Biociências da UFRGS. - diz Paulo Brack, professor do Instituto de Biociências da UFRGS.
Chefe da divisão de pesquisa da fundação, Glayson Bencke argumenta que o papel do órgão na conservação da biodiversidade é único e critica o Piratini. Os gastos da fundação com folha e custeio, segundo ele, representam 0,045% do orçamento do Estado.
- Vão abrir mão de um patrimônio científico, cultural e de lazer a troco de uma repercussão financeira pífia? Ou há outros interesses por trás disso, como a especulação imobiliária? - questiona Bencke.
Moradores dos arredores do jardim também temem que o espaço de 39 hectares seja vendido.
- Meus filhos cresceram entre essas árvores. É a nossa joia - sintetiza a aposentada Sara de Menezes, 62 anos.
A hipótese é negada pela titular da Sema, Ana Pellini, tanto quanto a alienação do horto florestal, entre Sapucaia e São Leopoldo (leia mais abaixo). A secretária diz que as despesas da fundação cresceram 62% entre 2010 e 2014 e que não há previsão de redução no curto prazo. A intenção, inicialmente, é "fazer com que os gastos parem de crescer".
ENTREVISTA
Secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini
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"Nenhum patrimônio será vendido"
Secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini assegura que nenhum bem da Fundação Zoobotânica será vendido caso a extinção se concretize. Quanto ao Jardim Botânico, patrimônio cultural do Estado, diz que "nada vai mudar". Confira os principais trechos da entrevista:
O Jardim Botânico corre o risco de ser fechado?
Não há nenhuma chance. O Jardim Botânico será incorporado ao Departamento de Unidades de Conservação e continuará funcionando normalmente. Nada vai mudar.
A área de 600 hectares do horto florestal será vendida?
Nenhum patrimônio será vendido. Isso precisa ficar claro. O projeto prevê que todos os bens da fundação retornem ao Estado. Para vender, seria preciso aprovar lei específica, e isso está fora de cogitação.
Qual é a garantia de que as pesquisas serão mantidas?
Se for aprovada, a extinção da fundação levará anos. Nenhum pesquisador será dispensado de imediato, justamente para não afetar as pesquisas. Com o tempo, esperamos firmar convênios para que o meio acadêmico assuma o que for possível. Nos demais casos, os técnicos serão mantidos. Nada será abandonado.
Se for aprovada a proposta, as mudanças não serão imediatas?
O projeto autoriza o Estado a extinguir a fundação. Mas isso não será feito da noite para o dia, de forma radical. Será um processo gradual, que poderá levar anos e que será feito com calma. Muitos dos atuais servidores inclusive terão se aposentado antes.
E o que vai acontecer com o Museu de Ciências Naturais?
Também será mantido. Mais adiante, a ideia é fazer parceria com alguma universidade que se disponha a assumir a administração e as pesquisas. Existem muitas instituições de ponta, capacitadas para isso.
PARA SABER MAIS:
A FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA
O que é
Criada em 1972, é responsável pela conservação da biodiversidade do RS. Inclui o Jardim Botânico e o Museu de Ciências Naturais na Capital e o Parque Zoológico em Sapucaia do Sul.
A saber
- É a única instituição do sul do Brasil fornecedora de veneno para produção de soro antiofídico (a partir de serpentário com 400 animais).
- No Jardim Botânico, mantém banco de sementes da flora do RS (mais de mil espécies) para restaurar ambientes degradados.
- É responsável por elaborar a lista das espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção no Estado.
Números
- Funcionários: 205, sendo três CCs
- Quadro técnico: 43 pesquisadores (70% com doutorado)
- Coleções científicas: 500 mil exemplares, entre plantas, animais e fósseis
- Coleção de plantas vivas: mais de mil espécies
Jardim Botânico e Museu de Ciências Naturais
Visitação média anual: 22 mil pessoas
Arrecadação média anual: R$ 330 mil
Parque Zoológico
Visitação anual: 620 mil pessoas
Arrecadação média anual: R$ 3,2 milhões
Impacto nas finanças
- Folha anual de R$ 18 milhões e custeio de R$ 8 milhões, totalizando despesas de R$ 26 milhões em 2014.
- Segundo a direção, a receita projetada para 2015 é de R$ 5 milhões, valor capaz de cobrir 72% do custeio previsto.
- A repercussão da fundação (folha e custeio) no orçamento estadual é de 0,045%.