Em meio a um cenário de recentes notícias de violências em escolas, o vínculo de amizade criado entre um professor e estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Goulart, em Gravataí, chama atenção pela cumplicidade e afeto. Uma manifestação realizada na manhã de ontem sensibilizou quem passava pelo local.
Ao serem informados, na quinta-feira da semana passada, de que o professor de Educação Física Marcelo Sutil da Rocha, 25 anos, deixaria a instituição por conta de um remanejo de profissionais pela prefeitura - temporário, ele daria lugar a uma concursada, que acabou indo para outra escola -, centenas de estudantes se organizaram para protestar pedindo a permanência do educador.
Protesto deu certo - Fotos: Félix Zucco
O agito deu certo e, no início da tarde de ontem, a direção recebeu a notícia da Secretaria de Educação de Gravataí de que, devido ao estreito relacionamento com os alunos e projetos iniciados na escola, o professor iria seguir lá. A determinação foi recebida com aplausos. Marcelo diz que não há alegria maior para um profissional do que o reconhecimento.
- Se eu já era motivado, agora, volto cinco vezes mais - diz o educador, que retorna às aulas no João Goulart na quinta-feira.
Desde fevereiro contratado para quatro turmas da Escola João Goulart, que tem cerca de 740 alunos, Marcelo despertou o interesse dos jovens em aprender.
Na luta
O aluno Nicolas Vasconcelos da Silva, 15 anos, relembra que todos ficaram em choque ao saber que o professor deixaria as salas de aula para entrada de outra profissional:
- Decidimos lutar para que ele ficasse!
Projetos de educação
Além de incentivar os alunos, Marcelo deu início a projetos educacionais que integram professores, pais e alunos. Ele criou o time de vôlei da instituição, inscreveu a escola no Festival Coca-Cola, para engajar os alunos em torno dos Jogos Olímpicos de 2016, e proporcionou uma saída sem custo para o Palavra da Vida, um acampamento em Gravataí.
Ana Paula Scheid Machado, 14 anos, aluna do oitavo ano, defende a maneira como o professor leciona.
- Ele propôs um método de ensino único, com bastante dinâmica. Era disso que estávamos precisando - destaca a aluna.
Isadora (E) foi com a mãe pedir a permanência do mestre
Até mesmo os pais se envolveram na ação. A empresária Marlene Benites, 43 anos, mãe da Isadora, 13 anos, disse que, em casa, a filha fala muito do profissional.
- Eu achei sensacional essa valorização do professor. Viemos apoiar para que ele fique na escola _ disse Marlene.
"Nunca desista"
Emocionado ao saber do envolvimento dos alunos para que permanecesse na escola, Marcelo afirma que a amizade é recíproca.
- Até o terceiro ano do ensino médio, eu queria ser engenheiro. Foi neste último ano e nas aulas de vôlei que conheci um professor que fez eu querer me tornar como ele. Este mestre me ensinou algo que hoje repasso aos meus alunos: acredite em você e nunca desista dos seus sonhos. É nele que me inspiro para dar as aulas - comenta o professor.
Marcelo destaca que pensa no futuro da gurizada:
- Quero que meus alunos saiam do colégio sabendo que serão alguém!