Uma construção mal-acabada e sem reparos perturba a vida de ao menos 20 famílias do Condomínio Arlindo Gustavo Krentz, no Bairro Rio Branco, em Canoas. Desde dezembro do ano passado, um dos blocos, erguido pelo programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida, está com rachaduras na laje, telhas quebradas, vigas de madeira soltas e fios de eletricidade arrebentados, além de algerosas nunca instaladas.
A cada chuva, as famílias que residem nos cinco andares do prédio precisam conter infiltrações e cachoeiras que escorrem pelo teto e até pelas tomadas.
Em setembro do ano passado, a prefeitura de Canoas liberou a ocupação do prédio. Depois de três meses, às vésperas do Natal, os moradores foram surpreendidos por uma tempestade que levou embora um pedaço do telhado do bloco 20 e inundou grande parte dos apartamentos do edifício. A chuvarada evidenciou a fragilidade da construção. Desde então, os moradores estão atrás dos reparos.
Portas fechadas
De acordo com a representante do bloco, a auxiliar de cozinha Daiane Cristina da Silva, 27 anos, já foram abertos dois protocolos reclamando da situação para a prefeitura de Canoas, assim como foram feitas várias ligações para a Caixa Econômica Federal.
- Já vieram aqui ver e avaliar os danos, mas nada foi feito. Um passa a bronca para o outro, e nós ficamos aqui - desabafa.
Os moradores afirmam que a construtora R-Schaeffer, que realizou as obras dos 20 prédios, fechou as portas este ano, retirando-se também do condomínio.
Perdas
Cansados de esperar pelo poder público, os moradores se uniram, no início deste ano, e resolveram instalar as telhas que haviam sobrado da construção e que estavam no pátio do condomínio.
- Deu para amenizar o problema, mas é claro que não foi o ideal. Temos muito medo de que a estrutura do prédio esteja comprometida. Se a laje não suportar o peso da água e vir abaixo, destrói o edifício - teme Daiane.
Depois da chuvarada de julho deste ano, os moradores perderam até o para-raios do prédio. As famílias relatam que, cada vez que chove, todos ficam com medo, já que têm a sensação de que o prédio está se mexendo.
Nova construtora deve assumir
Segundo a diretora de Políticas Sociais da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Canoas, Manuela Schneider, cada órgão é responsável por uma parte do processo de moradia. Cabe à prefeitura encaminhar as famílias. Reparos e obras são responsabilidades da Caixa Federal.
Em nota, a Caixa ressaltou que não houve registro de reclamações que evidenciassem risco estrutural do edifício. De acordo com o órgão, depois das tempestades de dezembro, a construtora R-Schaeffer realizou o conserto. Como a empresa de engenharia não deu mais respostas sobre os problemas que persistiram, o banco, após vistoria no local, decidiu contratar uma nova construtora para executar a finalização das obras, ainda sem prazo definido. A reportagem não conseguiu contato com a construtora R-Schaeffer.
A chuva passa, fica o pior
O vigilante Wallace Gonçalves Naysiger, 21 anos, está craque em enfrentar temporais. Ele mora com a mãe em um dos apartamentos mais atingidos pelos alagamentos, no último andar do prédio. Segundo ele, a sala, banheiro e quartos ficam encharcados e é preciso deixar baldes e toalhas sempre por perto.
- Depois que a água passa, ficam o mofo nas paredes, o cheiro ruim dos móveis, os danos no piso. Os órgãos públicos já vieram, mas nunca para arrumar. É um descaso - lamenta.
Como reclamar
- A Caixa disponibiliza o programa de Olho na Qualidade para os beneficiários do Minha Casa, Minha Vida. Pelo telefone 0800-721-6268, os beneficiários podem registrar reclamações sobre problemas nos imóveis.