Às 17h deste sábado, dia 29 de agosto, Maria Francisca Coruja, também conhecida como Dona Coruja, vai levar para casa mais um título. Desta vez, do curso de Direito, pela La Salle de Canoas.
Aos 86 anos, aposentada como professora, com ensino técnico de Contabilidade e pós-graduação em Pedagogia, Maria nem pensa em pendurar as chuteiras. Para o mês que vem, o objetivo já está traçado: vai começar a estudar para prestar a prova da OAB.
- Em setembro, eu entro nos livros, vou estudar muito e vou passar. Meu objetivo é trabalhar com os idosos que não têm ninguém por eles, principalmente, na área previdenciária, pois tem bastante gente que é lesada e precisa de ajuda - observa Maria.
Viúva há quase 20 anos e mãe de dois filhos, a idosa sentiu vontade de voltar aos bancos escolares seis anos atrás, para "ocupar a vida" e "não ficar em casa parada". Afinal, como ela mesma diz, "todo movimento que estaciona morre".
- A vida continua. Acho interessante contar minha história para incentivar os jovens. Não é a idade que limita ninguém, é a cabeça, a vontade de vencer, de estar com o mundo. Se a pessoa fica dentro de casa, quietinha, escondidinha, nem está vivendo -discursa.
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Apesar da idade avançada, Maria defende que não há nada de mais no que está fazendo, mas diz que é interessante contar sua história para incentivar outras pessoas. Ela será a formanda mais velha da turma de Direito deste sábado na La Salle.
Na faculdade em que ela estudou, há apenas outro estudante com mais de 80 anos. Na Puc, uma senhora, no curso de História, e, na Unisinos, nenhum.
Sempre de um lado para o outro
A volta aos estudos em idade tão avançada não causou estranhamento em casa. Os dois filhos - o advogado Sérgio Augusto, 66 anos, e a professora de Educação Física Elaine Teresinha, 58 anos - cresceram vendo a mãe correndo de um lado para o outro, a trabalho.
Moradora do Bairro Auxiliadora, na Capital, ela dava expediente na Delegacia de Educação de Gravataí:
- Eu era responsável pelos municípios de Alvorada, Gravataí, Cachoeirinha e Viamão. As escolas municipais eram supervisionadas por mim, né? Sempre tive a vida muito ativa.
Encontro pra lá de especial
O Diário Gaúcho promoveu o encontro de Maria com outro oitentão universitário: Luiz Alberto Ibarra. Aos 85 anos, o agrônomo aposentado que também atuou como jornalista cursa o segundo semestre de Direito na Fadergs, na Capital.
Dupla com muito em comum - Foto: Mateus Bruxel
No bate-papo na casa de Maria, eles descobriram semelhanças: ambos são os queridinhos da turma na faculdade, são cercados de cuidados pelos colegas mais jovens e servem como inspiração.
A ideia de Maria de trabalhar com Direito Previdenciário inspirou Luiz.
- Acho muito interessante o que a senhora pensou: trabalhar com o pessoal da terceira idade - disse Luiz, que deve se formar com mais de 90 anos.
Bem atrevida
A rotina cansativa de estudos e de viagens da Capital a Canoas nunca incomodou Maria Francisca.
No início, ela pegava um ônibus até o Mercado Público, onde seguia o caminho de trem. Mas o ônibus estava sempre cheio, e ela deu seu jeito: passou a ir a pé até a Estação Mercado do Trensurb, num trajeto de cerca de 2km:
- Assim, eu já fazia o exercício do dia!
Convite de formatura ficou lindo
A festa de formatura será em Santo Antônio da Patrulha, e também vai celebrar os 76 anos de seu irmão Rosauro Alécio Kwietniewski.
Afinal, como diz a frase destacada no convite da formatura, "Bom mesmo é ir à luta com paixão e vencer com ousadia, pois o trunfo pertence a quem se atreve". E Dona Coruja é bem atrevida!