No dia 1º de janeiro, Michael Wesley Cacildo Alves, 16 anos, foi baleado e atropelado na Avenida Doutor João Dentice, no Bairro Restinga. Foi a primeira morte de adolescente em 2015. Ao longo dos primeiros cinco meses do ano, mais 49 crianças e adolescentes perderiam a vida de forma violenta na Região Metropolitana, conforme levantamento exclusivo feito por Diário Gaúcho e Zero Hora.
O número representa um aumento de 61,2% em relação às 31 vítimas no mesmo período do ano passado. Significa dizer que, a cada três dias, pelo menos um jovem é morto antes de chegar à maioridade.
Michael estudava, vivia com a mãe e a irmã e nunca teve envolvimento com o crime. Foi morto simplesmente por ter cruzado o caminho de uma das gangues que atuam no bairro. Junta-se ao grupo de 61,2% das vítimas que não tinham antecedentes. Entre as que tinham passagem policial, o tráfico é o maior motivo dos assassinatos (40,8%).
- Temos áreas conflagradas e o tráfico, de um modo geral, é o pano de fundo desses crimes. Mesmo aquele jovem que não tem antecedentes ou envolvimento com o crime, acaba morto por ser amigo de alguém ou por estar realmente no lugar errado - diz o diretor do Departamento de Homicídios de Porto Alegre, delegado Paulo Grillo.
O mapa abaixo mostra onde cada um dos assassinatos aconteceu. Clique nos pontos para saber mais.
Restinga é o bairro mais violento
Na Região Metropolitana, o Bairro Restinga, na Zona Sul de Porto Alegre, é a área mais crítica para jovens com menos de 18 anos. Se em toda a região abrangida pela pesquisa (Capital e as 18 principais cidades da região), a cada 12 assassinatos registrados até o final de maio, uma vítima estava nessa faixa etária, na Restinga, a proporção dá um salto. A probabilidade de uma criança ou adolescente ser morta ali é mais de três vezes maior.
Brenda foi uma das cinco vítimas neste período. Em média, acontecem pelo menos dois tiroteios por semana na Restinga. Nos primeiros cinco meses do ano, a Brigada Militar apreendeu pelo menos 50 armas no bairro. Há mais de 20 quadrilhas em disputa por território. Todas têm adolescentes entre seus integrantes.
Isso não significa que só os envolvidos com a criminalidade se tornam vítimas. Conforme os inquéritos policiais, três dos cinco mortos no bairro este ano não tinham envolvimento com o crime.
O assessor pedagógico Gustavo Gobbo, do Centro de Promoção da Infância e da Juventude (CPIJ) define:
- É um lugar onde não tem os espaços públicos adequados para que o jovem tenha o seu protagonismo, onde as famílias muitas vezes estão desestruturadas e desamparadas.
Foi na frase pintada em um muro que Gustavo encontrou o resumo da realidade dos jovens na Restinga: "Onde não há palco, a violência vira o show."
Vítimas do tráfico: 40%
Segundo o levantamento da reportagem, mais de 40% dos assassinatos de crianças e adolescentes nos primeiros cinco meses do ano tiveram o tráfico ou acertos de contas como motivação.
Nenhuma dessas vítimas era nascida em 1994, quando aconteceu a primeira apreensão de crack no Estado, em Caxias do Sul, na Serra. Três anos depois, a barreira para entrada da droga na Região Metropolitana - que até então era blindada pelos líderes do tráfico local, pelo potencial destruidor do crack - foi quebrada. Há 18 anos, foi encontrado o primeiro laboratório de crack em São Leopoldo, no Vale do Sinos.
- É difícil mensurar a relação do crack com a presença maior de adolescentes no tráfico. O fato é que essa droga provocou um crescimento expressivo de bocas de fumo na região - diz o diretor do Denarc, delegado Emerson Wendt.
Segundo ele, os mais jovens se tornam facilmente parte de uma engrenagem perversa do crime.
- Quem comanda, quer se livrar da punição. Então, estimulam um falso poder entre os adolescentes, que se tornam os alvos de apreensões e de acertos do crime - explica.
Para que se tenha uma ideia, em 2005, 24 adolescentes estavam apreendidos na Fase por envolvimento com o tráfico. No começo deste ano, eram 185.
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Tragédia na lotação
Se pudesse voltar no tempo, Carmem Ferreira de Souza, 45 anos, não tem dúvida do que mudaria em sua vida:
- Não criaria os meus filhos nesse lugar.
É uma casinha de três peças, no fundo de um terreno da Quinta Unidade do Bairro Restinga, na Zona Sul de Porto Alegre. Desde o dia 15 de março, é difícil ver Carmem botar o pé para fora de casa. As janelas e a porta raramente estão abertas. A mãe perturba-se e engole as palavras quando alguém lhe pergunta sobre a morte da filha, Brenda Souza dos Santos, aos 17 anos. A menina morreu quando voltava de lotação de uma festa no Centro.
- Até hoje eu não sei direito o que aconteceu com ela. Não consigo entender porque matarem uma menina alegre, que só pensava em se divertir e não tinha briga com ninguém - lamenta.
Segundo a mãe, a menina costumava frequentar essas festas, mas, naquele dia, pediu que ela não fosse. Na segunda-feira, Brenda começaria a trabalhar. A filha respondeu que seria a despedida, afinal, era o último fim de semana de folga.
O inquérito policial da 4ª DHPP concluiu que Brenda foi morta sem ter nada a ver com o caso. Os criminosos seriam integrantes da gangue dos Marianos em busca de rivais da Quinta Unidade. Além de Brenda, pelo menos outros três jovens ficaram feridos. O alvo dos disparos, porém, escapou ileso.
Baleia, 14 anos, quatro tiros no rosto
"Aqui não tem dublê, não tem bala de festim. Quem sabe é os cria da favela, desde pequenininho". Era uma voz de criança que entoava o refrão de um funk carioca no vídeo postado em redes sociais. E não cantava só por cantar.
Aos 14 anos, Hamilton Vinícius Costa, o Baleia, foi encontrado morto com quatro tiros no rosto, na Vila Elza, em Viamão, no dia 14 de maio. Hamilton não tinha o nome do pai no registro. Ainda bebê, foi entregue pela mãe a uma família de Viamão, mas eles o devolveram quando tinha cinco anos. Passou a ser criado parte pela mãe, parte pela avó e pelos tios.
- Sempre tentamos fazer ele ficar em casa, mas ele não parava. Não tinha jeito - conta a tia Angélica Lemos, 37 anos.
Aos dez anos, foi apanhado furtando em um hipermercado de Viamão. Não era a primeira vez. No ano seguinte, foi flagrado no pátio de uma escola com uma arma na mochila. Hamilton não estudava ali. Na verdade, foi até a quarta série sem nunca ser um frequentador de fato das aulas.
Conforme a polícia, no começo de 2013, aos 12 anos, Baleia foi recrutado pelo traficante Fábio Fogassa, o Alemão Lico, um dos principais líderes dos Bala na Cara. Em maio daquele ano, estava com um grupo de jovens que tentou estuprar uma adolescente. Foi apreendido pela Brigada Militar. Baleia foi internado em abrigos duas vezes, mas fugiu.
No ano passado, havia sido apreendido por tráfico e, desde que voltara às ruas, teria frequentado as bocas no Bairro São Lucas. A suspeita da Delegacia de Homicídios de Viamão é de que ele tenha sido vítima de traficantes.
Dois dias antes da sua morte, a Brigada Militar apreendeu mais de 100kg de maconha. Hamilton foi levado à delegacia como testemunha. Ao ser entregue à mãe, o delegado aconselhou que o retirassem de Viamão. O risco era evidente. A família saiu da cidade, mas Baleia voltou. Pela última vez.
Os traficantes do Bairro São Lucas entenderam que ele havia dito aos PMs o local de uma boca de fumo. Foi condenado pelo tribunal do tráfico e executado.
Uma família destruída
- Quando eu ouvi o tiro e saí para ver o que era, já não deu mais tempo de fazer nada. Eu sabia que uma hora, nessa vida que eles estavam seguindo, isso iria acontecer.
O carroceiro Cláudio Dias Picanço, 45 anos, não conseguiu evitar, no dia 25 de março, que o filho Cláudio Jean Rodrigues Picanço, 15 anos, fosse morto a tiros por dois homens no Bairro Mathias Velho, em Canoas. Envolvido no tráfico de drogas, estava na esquina de casa quando foi morto.
O carroceiro sabe que a perda de Cláudio Jean só repetiu uma realidade. Sete meses antes, outro filho, Alisson Sandro Rodrigues Picanço, o Gão, foi morto a tiros, aos 17 anos, na saída de um baile funk, também na Mathias. Alisson, segundo o pai, também estava traficando.
- Essas drogas destruíram a minha família. Cansei de amanhecer procurando eles pelas bocas, tentava fazer trabalharem comigo na carroça. Mas eles diziam que era tudo com eles, que não precisavam trabalhar comigo. A gente fica sem saber o que fazer - lamenta o pai.
Fazia apenas um mês que Cláudio havia se separado da mulher. Mas ficou com os dois guris e os outros três filhos.
61% sem ficha na polícia
Entre as 50 crianças e adolescentes mortos em Porto Alegre e 18 cidades da Região Metropolitana, 61,2% não tinham antecedentes. Isso quer dizer que 31 das vítimas eram inocentes ou, pelo menos, não tinham nenhuma passagem pela polícia. Entre os inocentes, há histórias como a de Carolina Cristóvão Saraiva, 16 anos. A voz da menina que sonhava ser cantora foi calada à bala no dia 28 de maio.
Ela e um colega estavam em uma parada de ônibus, no Loteamento Colina Verde, em Sapucaia do Sul. Por volta das 23h, Tayane Isabele de Oliveira da Silva, 18 anos, chegou ao local. As duas conversaram rapidamente antes dela disparar três vezes contra Carolina. Presa dias depois, em 9 de junho, Tayane confessou o homicídio e disse à polícia que a motivação seria uma desavença. Carolina era amiga de uma jovem que tinha uma rixa com Tayane.
Também é alarmante a parcela de crianças e adolescentes assassinados sem serem o alvo dos matadores - 36,7%. Ou seja, 15 jovens morreram de graça. Vitimados por um vínculo familiar, uma amizade, ou mesmo sem nenhuma razão que os ligasse a criminosos.
Titular da Delegacia de Homicídios de Canoas, o delegado Tiago Baldin chama a atenção para a constatação de que a maioria das vítimas foi assassinada próximo de suas casas e até nos locais onde moravam.
- Os criminosos costumam ir atrás de seus alvos na área deles, e isso leva perigo aos que estão por perto. Em muitos casos, a falta de estrutura da família expõe os menores ao risco - avalia.
Para o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC, Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, as próprias autoridades promovem a naturalização de mortes:
- Secretários de Segurança, chefes de polícia, têm utilizado esse discurso (das áreas conflagradas) como justificativa para a precariedade da estrutura e a incapacidade de produzir resultados melhores.
Dionata só queria se divertir
Na noite do dia 21 de fevereiro, Dionata Alexandre Konrath, 17 anos, bem arrumado, avisou o pai que iria em uma festa de aniversário perto da casa, no Bairro Canudos, em Novo Hamburgo. O rapaz saiu para nunca mais voltar.
- Falei para ele voltar cedo, e ele disse "não te preocupa pai, antes da meia-noite estou aí" - recorda Paulo Cezar Konrath.
Por volta das 23h30min, Dionata foi morto a tiros na Estrada Vereador Oscar Horm, a poucas quadras de casa. Homens em dois carros passaram disparando contra as pessoas no local da festa. Um adolescente de 16 anos e um jovem de 19 anos ficaram feridos.
Conforme o delegado Enizaldo Plentz, da Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo, Dionata foi morto de graça. O ataque teria como alvo um traficante conhecido como Jacaré, que estava na festa, mas escapou ileso. A polícia já identificou quatro suspeitos.
- Ele (Dionata) não tinha nada a ver com o conflito. Mas acabou exposto a essa ação violenta porque um criminoso estava na mesma festa que ele - comenta o delegado.
A amizade era justamente uma das marcas de Dionata - mais de 150 pessoas foram ao enterro do adolescente. Outra característica do rapaz era o gosto pelo trabalho - foi chapa (descarregador de caminhão) e atuou em dois mercados até conseguir o emprego em uma fábrica de bolsas no bairro onde morava.
- Se é uma pessoa do mal, tu sabes que mais dia menos dia isso pode acontecer, mas nunca pensa que vai ser com um guri de bem como o Dioninha - lamenta o pai.
O adolescente estudou até a oitava série do ensino fundamental, mas, em 2012, deixou a escola para se dedicar ao trabalho. Com o dinheiro suado e a ajuda do irmão mais velho, comprou um videogame Xbox. Mas as roupas da moda eram o investimento preferencial.
- Ele fazia questão de estar bem-vestido. Era namorador, se divertia com as paqueras via Whatsapp - relembra Paulo.
Dionata morava com o pai e dois irmãos, de 14 e 19 anos, no Bairro Canudos. Tinha ainda um irmão, de 11 anos, de outro casamento do pai. Após o crime, Paulo não suportou viver na casa onde havia criado os quatro filhos. Passou a morar com a atual companheira. Levou consigo as lembranças, como a caneca que ganhou no último Dia dos Pais, com a foto dos quatro meninos da família.
- Eu só queria poder olhar na cara de quem fez isso e perguntar por que. Só espero que paguem logo pelo que fizeram - apela Paulo.
46,9% não estudavam
O levantamento feito por Diário Gaúcho e Zero Hora revela um dado crucial do cotidiano das crianças e adolescentes assassinados na Região Metropolitana: a evasão escolar. Entre as vítimas observadas, 23 (46,9%) não estudavam. Os números comprovam as dificuldades da escola em oferecer opções aos alunos para superar os ambientes conflagrados em que vivem. Em regiões onde o crime e o tráfico dominam, e a ausência de um núcleo familiar estruturado faz parte do cotidiano, as instituições de ensino também acabam reféns da violência.
Os conflitos entre gangues ou quadrilhas de traficantes resultam em tiroteios, ameaças e toques de recolher que, além de provocarem a suspensão das aulas, semeiam o medo. Mesmo quando os colégios não fecham, muitos pais não deixam seus filhos comparecerem às aulas.
Em junho, o Diário Gaúcho fez um levantamento em 41 colégios em seis regiões conflagradas: Arquipélago, Bom Jesus, Mario Quintana, Restinga, Rubem Berta e Santa Tereza. O resultado: oito escolas tiveram aulas suspensas por tiroteios ou toque de recolher. No total, pelo menos 2 mil alunos foram afetados.
Além disso, professores e educadores também precisam lutar contra o assédio dos traficantes, que buscam alistar "soldados" cada vez mais jovens. A assistente social Joice Lopes da Silva, da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, avalia que as facções criminosas se aproveitam do "terreno fértil" nas periferias para plantar suas sementes de violência.
- Eles oferecem uma condição de acesso aos bens de consumo muito mais rápida, contando com a imaturidade dos jovens em não enxergar os riscos envolvidos - diz Joice.
Escola também é vítima
Entre as 50 crianças e adolescentes assassinados este ano, apenas 19 (38%) estudavam. São jovens como Rafael Schwartzbach, 16 anos, aluno do primeiro ano na Escola Estadual de Ensino Médio Firmino Acauan em São Leopoldo.
O adolescente foi assassinado a tiros na madrugada no dia 28 de março, na Vila Brás, Bairro Santos Dumont. Ele não tinha antecedentes, mas a Delegacia de Homicídios da cidade acredita que atuava como vapozeiro (entregador de droga) e trata o caso como acerto de contas.
Conforme a vice-diretora da manhã, Carla Magalhães, entre os alunos houve o abalo natural pela morte violenta, mas a situação não chegou a surpreender. Relatos revelam o envolvimento dele com o tráfico mas, ao mesmo tempo, dizem que Rafael estava tentando sair. Conforme a vice-diretora, escolas localizadas em áreas conflagradas travam um batalha diária para evitar que menores sejam cooptados.
- A Vila Brás é um grande foco do tráfico. Tem muito assédio aos jovens. Sempre que começam a aparecer esses indícios, nós procuramos as famílias e o conselho tutelar - afirma.
Na Capital, em março deste ano, professores e alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Loureiro da Silva, na região da Vila Cruzeiro que fica no Bairro Cristal, foram surpreendidos pelo assassinato de Huendrio Barbosa de Lima, 17 anos. O garoto, aluno da Educação para Jovens e Adultos (Eja) foi morto no dia 28 daquele mês.
Era sábado, e dois homens chegaram na vila, por volta das 10h30min, ameaçando moradores. Huendrio estava na Avenida Divisa, assim como diversas crianças e famílias, e teria se aproximado da dupla para pedir calma: levou um tiro na cabeça.
O adolescente tinha antecedentes por lesão corporal, mas a polícia afirma que ele não tinha envolvimento com a criminalidade. Na escola, foi definido como um estudante presente e tranquilo.
- Foi um choque pra nós. Ele estudou nesta escola desde pequeno, lembro dele aqui desde os seis anos de idade - conta a diretora Silvana Maria da Silva Moraes.
Depois do assassinato, colegas fizeram um minuto de silêncio em sala, mas a escola não fez qualquer outra manifestação. O motivo foi a precaução diante da possível relação entre os assassinos e alunos - o envolvimento de alguns com a criminalidade não é incomum, conforme a direção.
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Refúgio contra a violência
Mesmo os menores relacionados a alguma atividade criminosa buscam a escola como uma válvula de escape do ambiente violento em que vivem - 26,3% das vítimas de homicídio que tinham antecedentes frequentavam instituições de ensino.
- Muitos jovens vão para a escola porque a casa é um tormento. Porque o pai bate na mãe ou é alcoólatra, a mãe não tem trabalho ou está doente, às vezes não há comida. Então, o guri vai onde estão os amigos e a professora, que mais ou menos ajuda. Por isso, para evitar a delinquência e mais mortes de jovens, a escola tem que ser ainda mais privilegiada - diz o professor Carlos Gadea, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unisinos.
Para a assistente social Joice Lopes da Silva, coordenadora-adjunta da equipe de Assessoria Técnica e Articulação em Redes (Atar), da Secretaria Municipal de Educação da Capital, as escolas também representam um espaço de proteção.
- Muitas vezes eles (os menores) passam o dia na escola por conta de que outros cuidadores da família se ausentam. Ali, ele encontra o adulto que vai cuidar dele e olhá-lo de forma diferenciada - avalia Joice.
Números oficiais divergem
Para fazer o levantamento, a reportagem percorreu as delegacias responsáveis pela investigação de homicídios na Capital e em 18 cidades da Região Metropolitana. A checagem dos inquéritos junto aos delegados somou as 50 mortes de pessoas com menos de 18 anos entre janeiro e maio deste ano.
A análise resultou nos dados apresentados, com aumento de 61% sobre o mesmo período de 2014. O número oficial, fornecido pela Divisão de Planejamento e Coordenação (Diplanco) da Polícia Civil é diferente: o órgão informa que ocorreram 73 assassinatos nessa faixa etária nos cinco primeiros meses de 2015, e 46 no mesmo período do ano passado - alta de 59%.
A reportagem contatou novamente todas as DPs, mas os delegados não localizaram outros casos além dos que haviam sido informados. De acordo com o diretor da Diplanco, delegado Antonio Salvador Lapis Segundo, a divergência tem causa em uma série de fatores.
Conforme Antonio, é possível que um inquérito iniciado em uma delegacia tenha migrado para outra, ou uma investigação aberta como homicídio tenha sido convertida em latrocínio (roubo com morte) e, por isso, sido encaminhada para uma delegacia distrital. Outra razão, segundo Lapis, pode ser a decisão dos delegados em preservar informações para não atrapalhar alguma apuração em curso.
- Por alguma operação ou prisão que esteja por se fazer, o delegado queira mexer o menos possível nisso - explica o diretor.
Questionado sobre se a divergência nos números poderia prejudicar o planejamento da ações da polícia, que são baseadas nas estatísticas, o delegado afirma que a corporação tem o controle geral do cenário e, caso seja interesse da instituição, tem condições de localizar e esclarecer dúvidas pontuais.
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