A aviação turca voltou a atacar nesta quarta-feira aposições dos rebeldes curdos, enquanto o governo autorizou os Estados Unidos utilizem a base aérea de Incirlik, no sul do país, em sua luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
Paralelamente, o Parlamento turco se reuniu nesta quarta-feira para discutir a campanha militar de Ancara contra o "terrorismo", um dia após a Otan apresentar seu apoio às autoridades turcas.
A Aliança Atlântica, reunida de emergência na terça-feira, em Bruxelas, a pedido da Turquia deu seu apoio ao governo de Ancara, mas ressaltou que o processo de paz com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) deve continuar.
A aviação turca realizou na madrugada uma nova série de ataques contra o PKK no norte do Iraque e no sudeste da Turquia, segundo anunciou o governo de Ancara.
"Durante a madrugada de 28 a 29 de julho, foram realizadas operações aéreas contra o grupo terrorista" PKK "dentro e fora da Turquia", anunciou o gabinete do primeiro-ministro em um comunicado.
Na nota, também são enumeradas seis posições do PKK no norte do Iraque atingidas pelo exército.
Foram destruídos "refúgios, depósitos, bases logísticas e covas usadas pelo PKK", afirma o texto.
Caças F-16 turcos realizam ataques diários contra posições do PKK desde a última sexta-feira, no âmbito da guerra contra o terrorismo lançada pelo presidente Recep Tayyip Erdogan após o atentado de 20 de julho em Suruc, perto da fronteira síria, que deixou 32 mortos entre um grupo de militantes da causa curda.
Este atentado, atribuído ao grupo Estado Islâmico (EI), motivou ataques fatais da guerrilha curda contra as forças de segurança turcas, denunciando sua passividade diante dos jihadistas.
A Síria expressou seu ceticismo quanto aos ataques turcos ao EI.
"Melhor tarde do que nunca, mas será que são sinceras as intenções turcas de combater os terroristas do Daesh (acrônimo em árabe para o EI), da Frente Al-Nosra e outros grupos vinculados a Al-Qaeda?", questionou o ministério sírio das Relações Exteriores em uma carta enviada às Nações Unidas.
Para a Síria, a ação de Ancara visa atingir a rebelião curda.
O governo turco, acusado durante anos de conivência com as organizações radicais que lutam contra o regime sírio, mudou de estratégia na semana passada, após o atentado em Suruc (sul), atribuído ao EI, e a morte de um de seus soldados em um ataque jihadista na fronteira síria.
O presidente Recep Tayyip Erdogan reafirmou na terça-feira que não cederá à ameaça terrorista e que continuará com determinação sua luta contra os jihadistas do EI e os rebeldes do PKK.
EUA vão utilizar base de Incirlik
Neste contexto, o governo turco oficializou nesta quarta-feira um acordo que permite que os Estados Unidos utilizem a base aérea de Incirlik, no sul do país, em sua luta contra o grupo jihadista EI, segundo fontes oficiais turcas.
"O decreto governamental foi assinado e a partir de agora os americanos podem usar a qualquer momento a base de Incirlik", disse à AFP uma fonte do ministério das Relações Exteriores, dias após Ancara anunciar a aprovação de princípio.
Este acordo, que foi alvo de longas negociações, era muito desejado pelos Estados Unidos devido à posição chave desta base.
Até agora, os aviões da US Air Force decolavam de bases na Jordânia ou no Kuwait, mais afastadas de seus alvos.
Membro da Otan, a Turquia se negava há até pouco tempo a participar das operações da coalizão contra o EI, por medo de favorecer a ação dos curdos da Síria, que combatem os jihadistas perto de sua fronteira.
O ambiente no parlamento turco era particularmente tenso nesta quarta durante o debate sobre a campanha militar.
Para a oposição, os ataques contra o PKK e o EI escondem uma "estratégia baseada na tensão" ante eventuais eleições legislativas antecipadas.
Durante o debate, o vice-premiê Bulent Aric acusou o partido pró-curdo HDP de "ameaçar a paz e a segurança nacional" por não condenar os ataques do PKK.
Segundo a imprensa local, todos os dias ocorrem dezenas de detenções de militantes curdos, de extrema-esquerda, ou apoiantes do EI.
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