Nesta semana, do nada, me bateu uma saudade. Do Café TVCOM. Era um programa de tevê. David Coimbra, Tatata Pimentel, Tânia Carvalho, José Antônio Pinheiro Machado, Thedy Corrêa e eu. Essa era a formação original. Depois vieram a Cláudia Laitano e o Roger Lerina, queridos e talentosos colegas.
Sentávamos em algum café de Porto Alegre nas quintas-feiras e falávamos sobre tudo. Brigávamos, formávamos alianças, conspirávamos uns contra os outros, ríamos, exibíamos nossa cultura - e a falta dela também.
Acima de tudo, gostávamos uns dos outros.
Faz dois ou três anos, o programa saiu do ar.
Tatata morreu. David voou para Boston. Zé Antônio foi pra outra emissora. A Tânia só pensa nos netos. Thedy não para em Porto Alegre - faz shows todos os dias Brasil afora. Olhei em volta. Não vi ninguém. Me deu saudade. Uma saudade boa, daquelas acompanhadas por um sorriso. E por uma pitada de melancolia, porque sem isso não seria saudade.
Lembrei com especial carinho do Tatata. Pela sua personalidade, idade e engenharia afetiva, acabei projetando nele um quebra-cabeça estranho e único. Amigo, colega, pai e mãe. Tudo ao mesmo tempo.
As discussões entre o Tatata e o Thedy eram antológicas. O Tatata era dono de uma memória cultural inigualável sobre todos os atores, filmes, livros e peças de teatro. Até o primeiro show dos Beatles. O Thedy é igual. Só que especializado em pós-Beatles. Eles passaram anos discutindo se a Madonna era ou não era um gênio. Quem?, perguntou o Tatata da primeira vez.
O Tatata se foi. Morreu dormindo. Sonhando com o tempo perdido, aposto. Mas pelo menos o David vem a Porto Alegre de vez em quando, passar as férias.
O tempo me ensinou a não ter vergonha da saudade. Antes, eu tinha. Achava que era uma espécie de fraqueza, de confissão de velhice. Sentia, mas não contava pra ninguém.
Quando a gente é criança, as saudades quase sempre têm solução. Em julho, eu sentia falta do verão na praia. Suspirava longamente lembrando da turma da Saba, dos piqueniques com a família, do futebol, do vôlei, do Boa-Noite pra espantar mosquitos e do Caladryl. Mal terminava o suspiro, era dezembro.
Agora não é mais assim. Minha coleção de saudades aumenta a cada dia. Muitas, definitivas.
O bom é que tenho, cada vez mais, lugar para guardá-las. Se faltar lugar, é só driblar a lei da física. Duas saudades podem, sim, ocupar o mesmo lugar no espaço.