Adorei a lei antibaixaria. Ela proíbe investimento de verbas públicas em eventos e artistas que, em suas músicas "desvalorizem ou incentivem a violência contra mulheres". Sério. Acho ótimo. Mas acho complicado. E perigoso.
Por que só música? O correto e o coerente seria estender a vedação a outras manifestações culturais. Teatro, por exemplo. Pintura. Literatura.
Só tem um problema. Quem vai decidir o que vale e o que não vale? Que alma superior define o que "desvaloriza a mulher ou incentiva a violência"?
Roberto Carlos canta "vou cavalgar por toda noite, por uma estrada colorida, usar meus beijos como açoite e a minha mão mais atrevida ".
Logo alguém condenará a associação entre mulher e égua. Mesmo que a letra não diga isso. E então? Financiamos ou não os shows do rei?
O texto da lei também cita restrições a manifestações homofóbicas, de discriminação racial ou de apologia ao uso de drogas ilícitas.
E por que não às lícitas, como o álcool? Ou à violência no futebol, para acabar com os incentivos aos clubes que não combatem os cantos preconceituosos das torcidas organizadas?
Acharia mais produtivo proibir o uso de dinheiro público para financiar artistas ricos. Esses não precisam de patrocínio da Petrobras e de incentivos fiscais.
Ou então obrigá-los, em troca do dinheiro público, a cobrar ingressos realmente populares em suas apresentações.
Eu gosto da lei antibaixaria. Gosto mesmo. Só acho difícil de aplicar. Principalmente porque me causa arrepios a possibilidade de o governo, qualquer um, decidir o que é e o que não é cultura.
Isso, sim, desvaloriza e incentiva a violência. Contra toda a sociedade.