Depois de três anos de uma relação conturbada com o clero, Antonio Carlos Altieri teve nesta quarta sua renúncia ao cargo de arcebispo de Passo Fundo aceita pelo papa Francisco.
O religioso paulista solicitou a saída depois de um emissário de Roma ter recolhido críticas e reclamações ao longo de dezenas de entrevistas com padres, religiosos e leigos da jurisdição.
"Talvez eu tenha sido um pouquinho acelerado", diz arcebispo de Passo Fundo após renúncia
A decisão do Papa foi publicada na edição desta quarta-feira do boletim diário do Vaticano. Paulo de Conto, bispo de Montenegro, responderá temporariamente pela administração da arquidiocese, até a escolha de um novo arcebispo.
Nomeado para Passo Fundo em julho de 2012, por Bento XVI, Altieri despertou a rejeição de integrantes da comunidade católica, que o consideravam autoritário e esbanjador.
As reclamações levaram Francisco a enviar o cardeal Claudio Hummes à região, ao longo do primeiro semestre, para uma chamada visita apostólica. Hummes, uma das pessoas mais próximas ao Papa, entrevistou cerca de 70 padres da arquidiocese, além de tomar depoimentos de leigos e religiosos.
Os relatos que ele ouviu e as conclusões que registrou em seu relatório são mantidos em sigilo, mas Giovanni DAnnielo, núncio apostólico no Brasil, comunicou Altieri de que a maior parte do clero estava contra ele.
Em mensagem de duas páginas divulgada nesta quarta, o agora arcebispo emérito despediu-se dos fiéis e deixou claro que o afastamento decorreu do levantamento feito por Hummes: "O resultado da visita deixou-me convencido da inaceitação de minha atuação pela maioria dos que tiveram a possibilidade de dialogar com o excelentíssimo senhor cardeal".
Entre os pontos citados para a rejeição do arcebispo de 63 anos estão o pendor para o luxo pessoal, a falta de diálogo e os gastos excessivos - ele realizou obras de reforma, incluindo em sua residência, e comprou seis veículos, um para uso pessoal. Também impôs uma taxa às paróquias, que passaram a repassar 10% de sua arrecadação à mitra.
Um dos padres descontentes disse a Zero Hora que Altieri promoveu uma mudança radical na administração da arquidiocese, sem ouvir ninguém.
- A forma como ele toma as decisões gerou um descontentamento muito grande. Ocorreram decisões autoritárias desde que foi transferido para cá. O descontentamento também está ligado aos gastos excessivos, desmedidos, com coisas sem urgência. Houve um estranhamento em relação à forma como ele foi assumindo essa questão da economia, com uma dinâmica de gastos exagerados que o presbitério achou desnecessária - disse o padre, que pediu para não ser identificado.