Depois de três meses de buscas, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) capturaram nesta quarta-feira, em Florianópolis, o porto-alegrense João Marcelo Pereira Debortoli, 43 anos, suspeito de aplicar golpes em dezenas de cidades do país, principalmente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Alagoas.
Foto: Polícia Civil/Divulgação
Debortoli costumava se apresentar às vítimas como doutor João Pereira, juiz federal, oferecendo vantagens na compra de imóveis penhorados pela Justiça. Em troca, recebia valores que chegavam até R$ 15 mil.
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Somente a Polícia Civil do RS abriu 14 inquéritos de 1997 até agora. Desde então, Debortoli foi condenado sete vezes por estelionato com penas que somam 13 anos de cadeia, somente no Rio Grande do Sul.
A última prisão preventiva do falso juiz se refere a dois golpes aplicados entre abril e maio, na Capital. Um dos lesados é conselheiro do Banrisul e teria entregue R$ 7 mil a Debortoli, que prometia passar para o nome da vítima um apartamento penhorado pela justiça nas imediações da Avenida Nilo Peçanha, que valeria R$ 500 mil.
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Vestindo terno e gravata, Debortoli procurava pessoas que anunciavam vendas de imóveis e carros de luxo em classificados de jornais e na internet. No meio da conversa, sempre gentil e educado, comentava sobre "seu trabalho" e a possibilidade de comprar imóveis com bloqueios judiciais por valores irrisórios. Convencidos de que fariam um ótimo negócio, empresários, médicos, fazendeiros, iam até fóruns e pagavam pessoalmente o golpista em dinheiro vivo.
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Conforme o delegado Juliano Ferreira, o conselheiro do Banrisul sacou R$ 7 mil e foi acompanhado do golpista até o fórum onde entregou o valor.
- Na frente do prédio, ele (Debortoli) pegou o dinheiro, disse para a vítima guardar o carro no box dele e "subiu para preparar os documentos". Ao ser barrada no estacionamento, a vítima descobriu que o tal juiz não existia - lembra o delegado Juliano Ferreira.
Em outro golpe na Capital, um empresário que foi procurado porque pretendia vender um Mustang, pagou R$ 2,7 mil, pensando estar comprando uma sala comercial perto do Shopping Iguatemi. Segundo Juliano, Debortoli confessou os dois crimes.
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O golpista tem uma casa no bairro Glória, mas, antes de ser capturado na capital catarinense, foi localizado em São Paulo, por meio da página do Facebook de uma empresária, dona de uma clínica estética de alto padrão na Rua Oscar Freire, zona nobre paulistana, com quem o golpista teria um caso amoroso. Debortoli estava morando em apartamento de cobertura, pagando R$ 12 mil de aluguel mensal. Monitorando telefonemas do golpista, o delegado se surpreendeu com a voracidade com que agia.
- Ele tinha vida de trabalhador. Acordava cedo e eram 12 horas por dia, de segunda a sexta-feira, ligando e marcando 15, 20 encontros com vítimas. Sábado e domingo, não fazia nada. É um caso tipo de estelionatário que merece um estudo criminológico - espanta-se o delegado.