Oskar Gröning, ex-contador de Auschwitz, de 94 anos, foi condenado nesta quarta-feira na Alemanha a quatro anos de prisão por "cumplicidade" no assassinato de 300 mil judeus, naquele que pode ter sido o último julgamento de uma figura do nazismo.
A decisão do tribunal de Luneburgo (norte do país), lida por seu presidente Franz Kompisch, é um pouco superior à pena de três anos e meio de prisão solicitada pela promotoria. O réu poderia ser condenado a uma sentença de três a 15 anos de prisão.
"Nós, partes civis, celebramos a condenação de Oskar Gröning", afirma um comunicado de representantes de 50 sobreviventes do Holocausto e de parentes das vítimas presentes no processo. Mas o texto lamenta o "passo muito tardio para a Justiça".
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Moshe Kantor, presidente do Congresso Judaico Europeu, destacou o "significado histórico" do processo e "a oportunidade que oferece para educar uma geração afastada dos horrores do Holocausto", 70 anos depois da libertação dos campos de extermínio nazistas.
No julgamento, o promotor de Hanover, Jens Lehmann, levou em consideração a "contribuição menor" do ex-integrante das SS no funcionamento de Auschwitz, símbolo do horror nazista, que teve um "número quase inimaginável de vítimas", para solicitar a pena de três anos e seis meses de prisão.
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Gröning admitiu uma "falha moral" e pediu desculpas em várias ocasiões, mas a defesa solicitou a absolvição, considerando que ele "não havia favorecido de nenhuma forma o Holocausto, ao menos de uma forma pertinente no plano penal".
O primeiro a pedir desculpas
Muitos anos antes de ser julgado pela justiça, o ex-voluntário das Waffen SS narrou sua experiência de dois anos em Auschwitz, de 1942 a 1944, em um livro de memórias destinado a seus familiares e, posteriormente, em entrevistas com o objetivo de "lutar contra o negacionismo".
- Auschwitz é um lugar onde ninguém deveria ter estado - declarou o acusado de 94 anos na terça-feira, repetindo a frase de um dos representantes das vítimas.
No comunicado, os advogados das partes civis comemoram que "pela primeira vez, após meio século de julgamentos dos criminosos nazistas, um acusado reconhece formalmente sua falta e se desculpa".
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As acusações contra Gröning eram baseadas em dois pontos: "Ajudar o regime nazista a obter benefícios econômicos dos assassinatos em massa", com o envio de dinheiro dos deportados a Berlim e, sobretudo, de ter participado na "seleção", ao separar os deportados considerados aptos para o trabalho daqueles que eram imediatamente mortos.
Paz
O ex-soldado se defendeu alegando que seu papel consistia apenas em evitar os roubos nas maletas dos deportados, sem ter um papel direto no processo de extermínio. Também recordou que seus três pedidos de transferência para a frente de batalha foram negados. O longo processo ouviu os depoimentos comoventes de sobreviventes de Auschwitz. Algumas testemunhas demonstraram decepção pela falta de um pedido de desculpas formal diante delas, mas outros pareceram ter encontrado uma espécie de catarse no julgamento.
- Quando sair de Luneburgo, encontrarei a paz, independente do veredicto - afirmou Hedy Bohm, de 87 anos, uma das testemunhas civis.
O processo de Gröning ilustra o crescente rigor da Justiça alemã com os últimos nazistas vivos, desde a condenação em 2011 de John Demjanjuk, ex-guarda de Sobibor, a cinco anos de prisão. Naquele julgamento, o acusado foi condenado não por provas de atos individuais, como havia acontecido até então, mas pelo simples fato de ter trabalhado em um local como Sobibor, dedicado exclusivamente ao extermínio. As últimas decisões judiciais tardias contrastam com as penas, geralmente leves, pronunciadas durante décadas pelos tribunais.
Quase 1,1 milhão de pessoas, incluindo um milhão de judeus, morreram entre 1940 e 1945 no campo de Auschwitz-Birkenau, que foi libertado pelas tropas soviéticas no fim de 1945.
* AFP