A Polícia Federal cumpriu nesta terça-feira, durante a Operação Politeia, mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz. A PF esteve em dois imóveis do advogado, entre eles o escritório que ele mantém numa mansão do Lago Sul, área nobre de Brasília.
Tiago foi citado em depoimentos do empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia e um dos delatores da Operação Lava-Jato. Segundo ele, o filho do presidente do TCU recebia R$ 50 mil mensais para repassar à empreiteira informações de seu interesse na corte de contas. Por um processo que discutia obra bilionária para a montagem da usina de Angra 3, ele teria recebido R$ 1 milhão.
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O tribunal avaliou irregularidades no orçamento e na licitação da obra. Ao fim, após o cumprimento de recomendações, liberou o empreendimento. Consórcio integrado pela UTC assinou contrato para tocar os serviços de montagem em 2014. O advogado nega ter atuado no TCU para a empreiteira.
Em nota, o escritório de advocacia de Cedraz considerou a ação "uma violência sem precedentes, um atentado ao regular exercício da profissão", fruto de "uma delação premiada negociada por um réu confesso que mente a fim de se beneficiar". O Cedraz Advogados afirmou em nota que, desde a publicação das primeiras notícias publicadas na imprensa, o escritório se colocou à disposição das autoridades para prestar informações, "mas sequer teve resposta". O escritório afirmou ainda nunca ter patrocinado nenhum caso do grupo UTC perante a Corte de Contas e "repudiou veementemente toda e qualquer adulteração de fatos lícitos para ensejar um enquadramento dos fatos em uma delação forjada".
O escritório aponta ainda que informou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Distrito Federal e o Conselho Nacional da entidade a sobre "extrapolações" no cumprimento da busca e apreensão.
Operação Politeia
Nesta terça-feira, a Polícia Federal cumpriu 53 mandados de busca e apreensão. A operação, batizada de Politeia, é a primeira deflagrada no âmbito dos inquéritos abertos em março no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar suposto envolvimento de políticos no esquema de desvios da Petrobras descoberto pela Operação Lava-Jato. As ações foram realizadas em Brasília e em seis Estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Alagoas, Bahia, Santa Catarina e Pernambuco.
Além do senador e ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (PTB-AL), são alvos da operação os senadores Ciro Nogueira (PI) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), o ex-ministro Mário Negromonte e o ex-deputado federal João Pizzolatti. De modo geral, os políticos se colocaram à disposição da Justiça para esclarecimentos, mas consideraram a ação policial "desnecessária" e "abusiva".
Entenda as fases da Operação Lava-Jato:
* Estadão Conteúdo