A posição do Conselho Regional de Medicina é criticada ou pelo menos vista com preocupação por entidades que representam instituições de ensino superior. Ney José Lazzari, presidente do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung), acredita que não está sendo levado em consideração o interesse da população mais necessitada:
- Este país tem de parar de entrar nas tretas e balelas dos conselhos profissionais. Se é para atender filhinho de papai dentro de gabinete, aí não falta dentista. Mas eu quero ver é lá na vila. Lá não tem dentista que chegue. Os caras estão fechando o mercado e esquecendo que existe um mercado de baixa renda. Estão sendo elitistas. Precisamos formar muito mais do que hoje, ou as coisas não vão para o lugar.
Lazzari faz um paralelo com a questão dos médicos. Ele argumenta que as entidades da área passaram anos dizendo que não havia falta de profissionais e brecando a criação de faculdades. Na avaliação do presidente do Comung, a vinda de milhares de médicos cubanos, recebidos com júbilo nas periferias, comprovou que existia, sim, carência de médicos.
- Durante 15 anos se disse que tinha médico sobrando, o que não era verdade. O que está acontecendo na odonto vai na mesma linha.
Lazzari se revela "parte interessadíssima" na questão. Ele é reitor da Univates, de Lajeado, instituição que espera para breve a publicação, no Diário Oficial da União, da autorização do MEC para um novo curso de Odontologia. Segundo o reitor, o processo está avançado. Lazzari promete um curso voltado para a atuação na rede pública.
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- No curso que pensamos, o aluno até pode querer montar um consultório, mas a formação não vai ser para isso, vai ser para trabalhar na vila, na escola, no bairro, no posto de saúde.
Bruno Eizerik, presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS), afirma desconhecer os dados em que o CRO embasa sua posição, mas manifesta preocupação com a crítica à abertura de novas faculdades:
- Já tínhamos a OAB pressionando para não ter cursos de Direito e o Cremers pedindo para não ter curso de Medicina. Agora é a Odontologia. Daqui a pouco, não vamos ter vestibular para nada, porque os conselhos profissionais não vão querer. Eu me pergunto o quanto disso é preocupação com excesso de profissionais e o quanto é reserva de mercado. O que me preocupa é o cerceamento de uma liberdade constitucional. Temos instituições que querem fazer bons cursos, talvez tão bons ou até melhores do que já existem, e que podem ficar cerceadas.