A réstia de sol que resplandecia no casarão de número 84, localizado na Rua Treze de Maio, área central de Santa Maria, na manhã de terça-feira, poderia suscitar as mais diferentes interpretações. Um rápido passar de olhos sobre o semblante de Daniela Nascimento, coordenadora da Royale Escola de Dança e Integração Social, no entanto, denunciava: a mais fiel delas aponta para a previsão de dias mais iluminados para a fábrica de sonhos que habitará o local nos próximos tempos. Lá, a entidade sem fins lucrativos dará continuidade ao trabalho que atende a 200 crianças, adolescentes e jovens na cidade.
Desde sua fundação, há 17 anos, a Royale esteve instalada em um galpão da Rua Professor Braga. Em razão do falecimento da proprietária do imóvel, em maio do ano passado, e da solicitação dos herdeiros para que ele fosse desocupado, a entidade esteve perto de ficar sem um teto. Uma petição online para chamar a atenção do Executivo municipal e até um acordo judicial para evitar um possível despejo ilustram o longo período de incertezas enfrentado pela ONG.
A solução, no entanto, surgiu das páginas dos classificados do jornal. E é no imóvel "caído do céu", que Daniela vê seu sonho realizado. Localizada em uma posição estratégica, onde circulam diferentes linhas de ônibus, a casa de peças amplas abrigará as diferentes atividades desenvolvidas pela Royale. Das aulas de ballé clássico - carro chefe da entidade - às oficinas de artes visuais, aulas de francês e apoio psicológico e pedagógico. Segundo a coordenadora, ela resolverá ainda outro problema da instituição.
Daniela explica que, em função do pouco espaço da antiga sede, as aulas de francês e o apoio psicológico ocorriam em dias alternativos aos das aulas de dança. Mas como a grande maioria dos 200 alunos, com idades entre 5 e 26 anos, são de famílias de baixa renda e moradores da periferia, muitos não têm condições de pagar passagem para ir ao local duas vezes por semana.
- Conseguindo colocar essas atividades no mesmo dia em que elas têm aula de dança, teremos mais público - diz.
Casa e planos novos
Além de conseguir instalar aparelhos de ar-condicionado - recebidos de um projeto da Petrobras, no ano passado - a coordenação já pensa em ampliar as atividades. Nos planos, a criação de uma oficina de geração de trabalho e renda para as mães dos alunos. Na tentativa de fisgar também os meninos, existe a possibilidade da implementação de atividades voltadas à música e ao teatro.
Mas, antes de projetar o futuro, a Royale precisa garantir os R$ 2,7 mil do aluguel da nova sede. Por ser uma entidade sem fins lucrativos, ela se mantém por meio de projetos do governo federal e, também, com a ajuda de seus associados. Conforme Daniela, são 20 sócios que fazem contribuições mensais que vão de R$ 20 a R$ 200, sendo que 95% deles moram em Porto Alegre.
Centenas de atendidos
A maior parte dos alunos que frequenta a Royale vêm da rede municipal de ensino, como parte de um projeto de educação complementar em turno inverso ao da escola. Ao longo de 17 anos de atuação, a ONG livrou centenas de jovens da falta de oportunidades. E para seguir desenvolvendo esse trabalho de prevenção à situações de vulnerabilidade, em agosto, a Royale lançará uma campanha para conquistar o apoio dos santa-marienses.
- As meninas já dançaram no Palácio do Planalto, temos premiação internacional da Unicef e, mesmo assim, a cidade simplesmente ignora. Acho que Santa Maria tem de começar a se ligar que há muitos trabalhos legais aqui e que fecham por falta de apoio. Mas somos teimosas, vamos até o fim - conclui Daniela.
Apelo feito, agora é dar aquela força. Afinal, como pontua a professora Raquel Godoy, "o objetivo não é formar bailarinos, mas, sim, que elas percebam que existem outras possibilidades de vida".
Para ajudar
Quem quiser saber mais sobre a instituição ou contribuir com a entidade pode entrar em contato pelo (55) 3223-5533