Se os senadores Aécio Neves, Ronaldo Caiado e outros seis dizem que viajaram à Venezuela com o objetivo de defender as liberdades democráticas e os direitos humanos, não há motivo para não lhes dar crédito. Os oito merecem respeito, assim como o Senado, que lhes chancelou a viagem. O que precisa ser investigado, porque cheira a ficção, são todas as outras notícias que rondam o episódio.
Na segunda-feira, ao saber que não havia autorização para ingresso do jato da FAB com a comitiva no espaço aéreo venezuelano, alguém identificado como Caiado disse à TV Senado que "a Venezuela não pode fazer parte do Mercosul, vamos romper o acordo legislativo com a Venezuela". É difícil crer que se trate do mesmo senador que, três dias depois, com a permissão já emitida, viajou a Caracas a fim de discorrer sobre o verdadeiro sentido da democracia.
Depois de aterrissar em Caracas às 13h30min no horário de Brasília, os senadores saíram do aeroporto a bordo de um micro-ônibus, mas ficaram presos num congestionamento. O veículo foi cercado por manifestantes aos gritos de "Chávez não morreu, multiplicou-se". Presentes à cena, a TV Globo e o jornal Folha de S.Paulo registraram batidas na lataria - mas não os paus, pedras e chutes citados pelo senador Aloysio Nunes. Soa inverossímil que a brava comitiva tenha se intimidado com uma cena digna de saída de estádio de futebol.
Os senadores fizeram uma segunda tentativa de partir em direção à capital, mas desistiram. O motivo? Congestionamento. Às 19h15min, conseguiram sair do aeroporto - de volta para Brasília. Parece pegadinha.
Agora, os oito exigem que o Brasil chame de volta o embaixador e - de novo - peça a expulsão da Venezuela do Mercosul. Stand-up pura.
Cada um crê no que quiser. Quanto a mim, prefiro acreditar que os Oito de Caracas são sérios e equilibrados e fizeram o possível para cumprir a missão.
*Zero Hora