Em nova denúncia divulgada nesta terça-feira pelo Jornal do Almoço, o ex-chefe de gabinete do deputado estadual Diógenes Basegio (PDT) revelou que negociou com o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati - licenciado da legenda - um emprego para a primeira-dama, Regina Becker (PDT), na Assembleia. Em troca, Fortunati nomeou, de acordo com Neuromar Gatto, dois indicados por Basegio na prefeitura.
- Por telefone, foi pedido se a gente poderia dar esse espaço a ela (Regina). Foi discutido com o deputado, e ele aceitou. Então, foi feita apenas uma transferência de lotação da primeira dama - diz Gatto.
A troca de favores foi motivada, de acordo com Neuromar Gatto, porque Regina Becker perderia um cargo na Assembleia em uma troca de presidência na Casa. Somados os salários dela e dos dois indicados por Basegio na prefeitura, o valor seria o mesmo. Procurado pela reportagem da RBS TV, o parlamentar reconheceu a negociação:
- Foi através do diálogo do Neuromar (assessor) com a Regina. O Fortunati, chegando aqui, reforçou o nosso pedido - confirmou ele.
Questionado pela reportagem se ocorreu uma troca de favores, Basegio disse que se trata de uma "interpretação", já que havia vagas abertas na Assembleia para o cargo que Regina Becker exerceria. A primeira-dama admitiu que pediu emprego, mas garante desconhecer irregularidades em sua contratação:
- Eu desconheço isso. Nessas negociações que envolvem cargos dentro do partido, muitas vezes não são as pessoas, é a própria executiva ou presidência que lidam - argumentou.
Por telefone, o prefeito negou as denúncias e disse que gravará uma entrevista para esclarecer os fatos apontados por Neuromar Gatto e confirmados por Basegio.
Novas denúncias
Na última segunda-feira, Neuromar Gatto voltou a denunciar irregularidades no gabinete de Basegio, com quem trabalhou durante três anos. Ele afirmou à RBS TV que quitava despesas pessoais do deputado com dinheiro supostamente desviado de diárias pagas pela Assembleia.
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De acordo com o ex-chefe de gabinete, a suposta fraude envolvia viagens não realizadas. Como exemplo, ele cita ter recebido R$ 900 em diárias para um roteiro a ser percorrido entre os dias 25 e 28 de novembro de 2011, passando pelas cidades de Erechim, Carazinho, São Borja, Cerro Branco e Pontão.
Gatto afirma ter permanecido em Passo Fundo durante os três primeiros dias e, no quarto, ter se deslocado para Porto Alegre. Para comprovar a denúncia, diz ter feito compras com o cartão de crédito em Passo Fundo no período em que deveria estar na estrada.
Abrigo em Passo Fundo teria utilidade eleitoral
Gatto - que diz ter sido responsável por recolher, em nome do deputado, parte dos salários dos assessores do gabinete - afirma também que era o encarregado pela contabilidade de valores arrecadados. O ex-chefe de gabinete ressalta que tudo era registrado em planilhas.
Diárias de viagens fictícias serviriam para bancar despesas de Basegio, como almoços com a bancada do PDT e serviços de um advogado para recorrer contra multa de trânsito recebida pelo parlamentar. Gatto afirma que até mesmo a oficina que supostamente adulterava o odômetro de veículos ligados ao gabinete seria paga com recursos desviados. A quilometragem seria aumentada para garantir o recebimento da indenização por uso de carro particular.
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A reportagem também levantou suspeitas sobre um albergue mantido por Basegio para hospedar parentes de pessoas internadas no hospital de Passo Fundo. Gatto afirma ter registrado, como laranja, uma ONG responsável pelo abrigo, e diz que o estabelecimento seria gerenciado por Álvaro Ambrós, um dos assessores do gabinete. Em um dos vídeos gravados por Gatto, Ambrós conta que devolvia ao deputado entre "R$ 3,2 mil e R$ 3,3 mil" de um salário de R$ 7,7 mil.
A equipe da RBS TV localizou uma ex-assessora de Basegio que relata o suposto uso eleitoral do albergue. A ex-funcionária diz que organizava, na Assembleia, listas com nomes e endereços de pessoas que foram hospedadas na casa. Esses eleitores passavam a receber propaganda do parlamentar.