O Ministério Público Estadual (MPE) denunciou nesta sexta-feira 10 envolvidos na fraude do queijo produzido pela empresa Laticínios Progresso, com sede em Três de Maio e depósito clandestino em Ivoti. A ação é resultado da Operação Queijo Compen$ado 1, deflagrada dia 16 deste mês nas duas cidades.
Foi detectado pelos promotores de Justiça um esquema de adição de amido de milho no queijo, para mascarar a colocação de água no leite. Testes também comprovaram compra de matéria-prima fora dos padrões da indústria, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva. As análises do produto apreendido no dia da ação confirmaram a presença de coliformes fecais.
Foram denunciados os proprietários da Laticínios Progresso Volnei Fritsch, Eduardo André Ribeiro e Pedro Felipe Fristsch (filho de Volnei e sócio oculto da empresa) - os três estão presos preventivamente -, a irmã de Volnei, Roselaine Fritsch, o motorista do laticínio, Arnildo Roesler, o funcionário da empresa Neimar Hosda, Claudio Fuhr (apontado como apoiador do esquema de distribuição), o ex-Secretário da Agricultura e Meio Ambiente de Três de Maio, Valdir Ortiz, um veterinário da Prefeitura de Três de Maio ( Marcelo Paz Carvalho), e a companheira de Eduardo, Andreia Abeling.
Conforme os promotores de Justiça da Especializada Criminal, Mauro Rockenbach, e de Defesa do Consumidor, Alcindo Luz Bastos da Silva Filho - que coordenaram as investigações - o esquema funcionava, pelo menos, desde abril de 2012. Volnei Fritsch, Eduardo André Ribeiro e Pedro Felipe Fritsch seriam sabedores das condições das cargas de queijo e de ricota adulteradas que eram transportadas entre os municípios de Três de Maio, Ivoti e demais localidades. O MPE está convencido que eles participavam ativamente da fraude, pois adquiriam e utilizavam amido na fabricação dos produtos, com a finalidade de aumentar o volume, mantendo-o, após, em depósito para ser vendido.
Os promotores dizem que ocorreu lavagem de dinheiro através de depósitos nas contas de Roselaine e Andreia, bem como o crime de falsidade ideológica - Valdir Ortiz e Marcelo Carvalho teriam mentido ao declarar que não existiam máquinas para misturar ricota à massa de queijo mussarela nas dependências da empresa, o que foi contraposto por fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
O MPE também aponta crime de corrupção passiva e ativa. Isso porque, em fevereiro de 2014, Valdir Ortiz teria solicitado e recebido vantagem indevida, estimada em R$ 1 mil, constante na folha de despesas da Laticínios Progresso. Ortiz, secretário de Agricultura de Três de Maio, era o encarregado de intermediar na prefeitura os trâmites para regularização das questões ambientais e da empresa e recebia "patrocínios" pelo auxílio prestado.
Os promotores afirmam que Roselaine, além de receber valores provenientes da fraude, funcionou como laranja na compra do caminhão utilizado para o transporte do queijo adulterado. Ela seria uma das responsáveis pela aquisição de amido, conforme documentos apreendidos no dia da deflagração da Operação Queijo Compen$ado I.
Contrapontos
Zero Hora está tentando contato com os advogados dos denunciados, que, em depoimentos aos promotores na época das prisões, negaram envolvimento na fraude.
Procurado por ZH, Arnildo Roesler ficou em silêncio em contato telefônico. Levado ao Presídio Estadual de Santa Rosa, Eduardo André Ribeiro não apresentou advogado e não se manifestou durante a prisão.
Valdir Ortiz não retornou a ligação até o fechamento desta reportagem.
O advogado Jorge Hoffmann, defensor de Volnei Fritsch e Pedro Felipe Fritsch, afirma que seus clientes "não praticaram os fatos pelos quais estão sendo acusados" e que "a defesa será realizada no decorrer do processo". No depoimento, os Fritsch não negaram algumas dificuldades na conservação e maturação dos produtos, mas afirmaram ter trocado o queijo que apresentou problema. Eles negaram a adição de amido de milho nos moldes informados pelo MP e disseram que o queijo não tinha produtos nocivos à saúde humana. Os empresários também dizem que a Progresso não recebeu verbas públicas e nem pagou salários para o secretário de Agricultura de Três de Maio.
Outra gravação mostra que a Progresso comprava amido de milho para adulterar o produto:
Uma terceira escuta revela que cliente reclama da "catinga" do queijo:
E uma última ligação mostra reclamações de cheiro de gasolina:
*Zero Hora