De acordo com a organização Freedom House, a imprensa na Rússia e na Venezuela está cada vez mais dominada pelo controle oficial. Em 4 de julho de 2014, o mais antigo diário independente venezuelano, o El Universal, de 106 anos, foi vendido. O movimento se deu na esteira de mudanças de propriedade também em outras duas grandes empresas de mídia no país, Cadena Capriles e Globovisión. Em todos os três casos, repórteres respeitados foram suspensos ou desligados em razão das mudanças de propriedade, principalmente devido a alterações na linha editorial que se alinharam ao governismo e afetaram a cobertura jornalística.
Nesse contexto, o El Nacional, de 72 anos, é tido como uma resistência. Mantém linha crítica, mas cortou boa parte dos seus suplementos para continuar circulando, uma vez que a importação do papel depende da autorização governamental - e ela costuma ser negada.
Extremismo é desafio ao jornalismo livre
Em 10 anos, as maiores restrições à imprensa
O presidente do El Nacional, Miguel Henrique Otero, conta que o jornal sobrevive graças à ajuda internacioal:
- Vivemos sob ameaça e não temos recursos para comprar papel. É a solidariedade internacional que tem nos mantido. A Associação Colombiana de Editores de Jornais e Meios Informativos (Andiarios) e outros jornais nos forneceram papel. Somos o jornal independente que resiste a um governo que não censura previamente como as ditaduras de décadas atrás, mas pressiona, ameaça jornalistas, restringe a compra de papel, compra meios de comunicação para se alinharem a ele. Permaneceremos fazendo jornalismo independente, apesar de tudo.
A estimativa de Otero é de que, com a atual reserva de papel, o jornal se manterá por mais dois ou três meses - claro, a intenção é aumentar essas reservas para manter a atividade.
Sobre a situação na Venezuela, ele a define como grave, chegando a usar a palavra "catástrofe".
- Há muito autoritarismo, e ainda vivemos uma grave crise econômica. O sistema nos torna dependentes das importações.
O governo parece não ter previsto que um dia o preço do barril do petróleo (produto responsável por 96% das divisas do país) poderia baixar, como baixou. Há desabastecimento, inflação e muitas filas para comprar bens essenciais. Em resumo, é uma catástrofe - diz.
Dois anos atrás, o presidente Hugo Chávez morreu, vítima de um câncer. No seu lugar, foi eleito o pupilo, Nicolás Maduro, em vitória por 1,5 ponto percentual, cuja lisura o adversário, Henrique Capriles, contesta ainda hoje. Desde então, a crise socioeconômica venezuelana se agravou, com a pobreza chegando a quase 50% da população, inflação em quase 70% e desabastecimento. Analistas veem um acirramento político.
- O atual presidente não tem a liderança do anterior e enfrenta uma crise. Ele radicalizou - lamenta.