Três dias depois de ser atingido por uma bala perdida dentro da casa da avó, no Bairro Mathias Velho, em Canoas, Richard Kaun de Souza, oito anos, teve a morte cerebral confirmada pela Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre nesta segunda-feira. Richard é a terceira criança vítima da guerra do tráfico de drogas em Porto Alegre e na Região Metropolitana em duas semanas.
O disparo que foi efetuado no final da noite de sexta-feira, por criminosos que executaram seu tio Babiton Gabriel da Silva de Lopes, 19 anos, possivelmente por dívidas relacionadas ao consumo de crack. Levado ao HPS de Canoas, foi encaminhado para o HPS de Porto Alegre na manhã de sábado, onde passou por duas cirurgias.
Richard estava na casa da avó para comemorar o aniversário dela, na sexta-feira. Ele, a mãe, um irmão de 12 anos e uma irmã de sete foram até a casa na Rua Campinas, Vila Getúlio Vargas, para o almoço de família e decidiram posar lá.
Em três semanas, três crianças são vítimas de ações do tráfico de drogas
Leia outras notícias do dia
De acordo com a Polícia Civil, o crime ocorreu às 23h20min de sexta-feira. Vizinhos contam que viram dois homens chegarem de bicicleta. Houve discussão e vários disparos.
- Primeiro, ouvimos uma discussão e depois os tiros, parecia uma metralhadora. Tudo aconteceu em questão de dez minutos. Ficamos com muito medo - diz um morador das proximidades que preferiu não se identificar.
Conforme o vizinho que socorreu Richard, o tiro foi no lado esquerdo da cabeça. No trajeto até o HPS de Canoas, Richard foi sentado no carro sem gemer ou reclamar de dor. O tio morreu a caminho do atendimento médico.
- Só ficávamos conversando com ele para que não dormisse. O guri era um anjo, isso foi uma tragédia - ressaltou o vizinho.
"Calmo, generoso e educado"
Pela vizinhança da casa da avó, Richard é definido como uma criança calma, generosa, bem-educada e que não era vista na rua. Ele morava no Bairro Mato Grande, também em Canoas, com a mãe e dois irmãos.
- Não tem explicação, era um menino maravilhoso. Na Páscoa, ganhou uma caixa de bombons e levou na minha casa para repartir com meus filhos. Era uma criança que quase não saía de casa quando estava na vó - relata uma amiga da família que também preferiu não se identificar.
No final da tarde de segunda-feira, parentes que estavam em frente ao HPS de Porto Alegre ainda falavam sobre o menino em tom de esperança, acreditando na recuperação dele. Os familiares preferiram não dar detalhes à reportagem do Diário Gaúcho. Eles se limitaram a dizer que Richard era um menino dócil e querido por quem o conhecia.
Delegado fala em acerto de contas
Conforme o delegado encarregado do caso, Daniel de Oliveira Ordahi, a linha de investigação da Delegacia de Homicídios e Desaparecidos aponta para um acerto de contas com Babiton. Durante a adolescência, o jovem teve dois registros por porte de drogas. Não há suspeitos do crime.
- O menino estava no local errado, na hora errada - afirma o delegado.
No momento em que foi atingido pelo disparo, Richard estava debaixo da cama, e o tio sobre a mesma cama. Os criminosos teriam efetuado mais de 15 tiros no local. Além de Babiton e Richard, estavam na casa a avó do menino e mãe de Babiton, a mãe de Richard e dois irmãos.
Menino estava na casa da avó
Foto: Jeniffer Gularte/Agência RBS
*Diário Gaúcho