O Fronteiras do Pensamento será aberto na noite desta segunda-feira, em Porto Alegre, pelo biólogo britânico Richard Dawkins.
Nos próximos meses, o ciclo de conferências vai se completar com a vinda a Capital de uma série de figuras de destaque.
Saiba quem são elas e veja o que já foi dito a seu respeito:
25/5 - RICHARD DAWKINS
Há 39 anos, com a publicação de seu primeiro livro, o biólogo britânico Richard Dawkins foi catapultado à condição de nome incontornável da ciência contemporânea. O Gene Egoísta, a obra em questão, renovou os estudos sobre a seleção natural ao colocar o gene como seu principal agente. Na concepção de Dawkins, os organismos vivos são como "máquinas de sobrevivência" do gene e existem para que ele possa se replicar. No mesmo livro, apresentou o termo "meme", que mais tarde acabaria por se difundir na internet.
O que ele disse
"É totalmente seguro afirmar que, se uma pessoa diz não acreditar em evolução, ela é ignorante, estúpida ou doida."
O que disseram dele
"Concordo quando Richard Dawkins diz que a humanidade sentiu uma necessidade de criar mitos. Antes que entendêssemos a doença, a meteorologia e outros fenômenos, encontramos explicações falsas para eles. Hoje a ciência preenche muitos dos campos - não todos - que a religião costumava preencher."
Bill Gates
22/6 - JIMMY WALES
Graças a Jimmy Wales, é bastante fácil dizer quem é Jimmy Wales. Basta olhar na Wikipédia, a enciclopédia colaborativa virtual que ele fundou em 2001. Gratuita, sem fins lucrativos e disponível em cerca de 300 idiomas, trata-se da maior obra de referência que a humanidade já teve a disposição, dentro ou fora da internet, com espantosos 30 milhões de verbetes, 867 mil deles em português. Nada menos do que 500 milhões de pessoas - usuários únicos - consultam-na a cada mês.
Esse colosso, que um estudo da revista científica Nature apontou como tão confiável quanto a tradicional Enciclopédia Britânica, nasceu da ideia de Wales de tornar qualquer cidadão interessado em autor. Hoje, há 69 mil editores ativos, atualizando a Wikipédia constantemente. Integrante do conselho de administração do serviço, o norte-americano Wales foi agraciado com inúmeros prêmios e tem se dedicado a percorrer o mundo para defender a liberade de expressão.
O que ele disse
"Imagine um mundo em que cada pessoa do planeta tenha acesso livre à soma de todo o conhecimento humano. É isso que estamos fazendo."
O que disseram dele
"Todo mundo previu que o controle da massa levaria ao caos. Em lugar disso, ele levou ao que pode ser considerado o modelo industrial mais poderoso do século 21: a produção por pares. A Wikipedia provou que a ideia funciona, e Jimmy Wales é o seu profeta."
Chris Anderson, autor do livro A Cauda Longa
8/7 - JOHN GRAY
Dono de uma longa e produtiva carreira - marcada pela produção acadêmica, por uma série de livros e pelo sucesso em prever fatos como a queda do comunismo ou a crise financeira internacional - o filósofo britânico John Gray tornou-se uma estrela do pensamento mundial há pouco mais de um década, com a publicação do livro Cachorros de Palha (2002).
Nesta obra de fôlego, o professor de pensamento europeu da London School of Economics nadou contra a corrente. Para ele, a tradição filosófica ocidental é arrogante na sua definição do lugar do homem no mundo. Gray defende no livro, um grande best-seller que valheu tantos aplausos quanto ataques, a ideia de que o progresso humano não passa de um mito. Ele vê os homens como seres vorazes, ávidos por matar e destruir outras formas de vida.
O que ele disse
"Os seres humanos não podem viver sem ilusões. Para os homens e mulheres de hoje, a fé irracional no progresso é o único antídoto para o niilismo. Sem a esperança de que o futuro será melhor do que o passado, eles não poderiam seguir em frente."
O que disseram dele
"Gray é um filósofo que se especializou em fazer perguntas embaraçosas sobre as fantasias democráticas capitalistas - logo, esta é a sua época. Ele vê coisas que outras pessoas não veem."
David Runciman, cientista político britânico
3/8 - VALTER HUGO MÃE
Em 2011, o escritor português Valter Hugo Mãe compareceu à Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) na condição de um quase desconhecido em meio a vários autores ilustres. Dias depois, saía consagrado como estrela maior do evento. Ele foi adotado pelo público graças a uma conferência comovida e comovente, que incluía uma declaração de amor ao Brasil. Arrancou lágrimas do público, viu seus livros esgotarem-se em questão de horas, foi pedido em casamento e recebeu da revista Veja a qualificação de "fofo da literatura".
O desempenho na FLIP ajudou Mãe a transformar-se no escritor luso mais popular entre os brasileiros desde José Saramago. Mas não teria servido de nada se romances como O Filho de Mil Homens e A Desumanização não tivessem fascinado o leitor com suas narrativas marcadas pela sensibilidade e pela abordagem de temas como o amor, a perda e a família.
O que ele disse
"Eu acho sinceramente que nós temos as respostas para todas as preocupações das pessoas. Somos seres humanos. E nenhum ser humano difere de nós tanto que não o possamos entender."
O que disseram dele
"Este livro é um tsunami. Um tsunami linguístico, estilístico, semântico, sintáctico. Um tsunami no sentido do impacto, da força. É um livro que subverte."
José Saramago, sobre o romance O Remorso de Baltazar Serapião
24/8 - SASKIA SASSEN E RICHARD SENNETT
A socióloga holandesa Saskia Sassen, professora universitária nos Estados Unidos, está entre os principais teóricos da globalização, processo que investigou nas suas dimensões econômica, política e social em obras como A Sociologia da Globalização. Ela também tornou-se conhecida por trabalhos sobre o fenômeno da "cidade global", termo que se difundiu a partir de suas análises, e das imigrações. No livro The Mobility of Labor and Capital, argumentou que o investimento estrangeiro nos países em desenvolvimento pode estimular a emigração, dependendo de como é feito.
Casada com o sociólogo Richard Sennett, Saskia recebeu o Prêmio Príncipe de Asturias de Ciências Sociais de 2013. É um dos 10 cientistas sociais mais influentes do mundo, segundo ranking do Social Science Citation Index.
Sociólogo e historiador, o norte-americano Richard Sennett é autor de uma série de obras sobre temas como a experiêcia urbana, o desenvolvimento das cidades, a conexão entre autoridade e vida pública e a natureza do trabalho na sociedade contemporânea.
Seu livro mais conhecido, O Declínio do Homem Público (1977), é considerado um clássico das ciências sociais. Nele, Sennett estuda as formas de sociabilidade nas grandes cidades desde o século 18 até os dias atuais e identifica um esvaziamento da vida pública, decorrência de um processo de hipervalorização da intimidade.
Famoso por uma qualidade de escrita rara em livros de ciências sociais, Sennett é também autor de obras de ficção. Leciona na London School of Economics e na New York University.
O que ela disse
"Passamos de uma lógica de incorporação da cidadania a uma lógica de expulsão. Até a década de 1970, o sistema incorporava as pessoas como consumidores. Desde os anos 1980, a lógica é a expulsão massiva, o que nos está levando a uma nova fase do capitalismo global."
O que disseram dela
"Para Sassen, as cidades globais formam redes que concentram o poder de decisão e as novas relações entre território, autoridade e direitos, diluindo assim o papel das fronteiras. São geradoras de grandes desigualdades e segregação social devido, entre outras causas, às diferenças no acesso às tecnologias da informação."
Júri do prêmio Príncipe de Asturias
O que ele disse
"A cidade surgiu como foco para vida social ativa, para o conflito e o jogo de interesses, para a experiência das possibilidades humanas, durante a maior parte da história do homem civilizado. Mas hoje em dia essa possibilidade civilizada está adormecida,"
O que disseram dele
"Sennett coloca a teoria social e a experiência histórica a seu serviço para desenvolver uma tese provocante: a de que a esfera pública foi usurpada pela cena psíquica privada, em detrimento do indivíduo e da sociedade. O questionamento de Sennett pelas causas do empobrecimento da vida civil na sociedade industrial moderna abre perspectivas fascinantes sobre as relações entre teatro, política, vida urbana e as funções em mutação da família."
Carl Schorske, historiador e professor emérito da Princeton University
28/9 - SUZANA HERCULANO-HOUZEL
Doutorada pela Universidade Paris VI (França) e pós-doutorada no Instituto Max-Planck de Pesquisa do Cérebro (Alemanha), a neurocientista carioca Suzana Herculano-Houzel comanda o Laboratório de Neuroanatomia Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de onde lidera uma equipe internacional que pesquisa as regras de construção do sistema nervoso central em humanos e outras espécies. Sua atuação, no entanto, não se limita a academia. Suzana tem se dedicado também à divulgação científica, por meio da TV (apresentou o quadro Neurológica, no Fantástico), da internet, de veículas da imprensa ou de livros como O Cérebro Nosso de Cada Dia - Descobertas da Neurociência sobre a Vida Cotidiana. Em suas pesquisas, desenvolveu um método para a contagem dos neurônios humanos, revelando que eles são em torno de 86 bilhões - e não 100 bilhões, como se acreditava.
O que ela disse
"A neurociência mostra que, felizmente, nossa vida não é regida pela razão - ou seríamos todos sociopatas em algum grau. Boas decisões - aquelas que se mostram sábias, nos deixam satisfeitos e são benéficas também à sociedade - consideram a análise racional da situação combinada com impressões emocionais do cérebro a respeito."
O que disseram dela
"Como cientista, Suzana seguiu um caminho muito original. Inventou um novo método de contar os neurônios do cérebro de alguns animais e dos humanos. Ao mesmo tempo, ela se destaca na divulgação científica. Inovou ao explicar conceitos da neurociência por meio de exemplos do cotidiano das pessoas."
Roberto Lent, neurocientista, membro da Academia Brasileira de Ciências
26/10 - FERNANDO SAVATER
Autor de cinco dezenas de livros e presença frequente nas páginas dos jornais, o filósofo e escritor Fernando Savater é uma instituição na Espanha. Defensor de uma filosofia atuante, ganhou projeção internacional devido a uma série de livros sobre ética, alguns voltados para o público jovem, nos quais reafirma a possibilidade do ser humano de fazer escolhas. Seus escritos sobre educação, uma tema que o apaixona, são igualmente influentes.
Originário do País Basco, o filósofo também tornou-se uma referência política. Fundou o movimento Basta Ya! para combater as práticas violentas do grupo separatista ETA, o que lhe valeu ameaças de morte, mas também o Prêmio Sakharavo de Direitos Humanos, concedido pelo Parlamento Eurupeu. Entre suas obras disponíveis no Brasil estão Ética para Meu Filho, Os Dez Mandamentos do Século XXI, A Importância da Escolha e O Valor de Educar.
O que ele disse
"Depois de tantos anos estudando a ética, cheguei à conclusão de que toda ela se resume a três virtudes: coragem para viver, generosidade para conviver e prudência para sobreviver."
O que disseram dele
"Neste país adorador do presente, começa a parecer que (Savater) não tenha feito outra coisa na vida além de dar mostras de seu valor cívico, de sua retitude moral, de seu compromisso com as liberdades de todos, principalmente em seu País Basco natal, onde andam tão debilitadas, quando não desaparecidas."
Javier Marías, escritor espanhol
23/11 - JANETTE SADIK-KHAN
Com formação em Direito e Ciência Política, a californiana Janette Sadik-Khan ganhou notoriedade na condição de secretária municipal de transportes de Nova York, cargo que ocupou entre 2007 e 2013. Enfrentando críticas ferozes e concepções arraigadas, implantou um programa que hoje é visto como tábua de salvação para melhorar a circulação e tornar as cidades mais humanas e seguras.
Janette ficou conhecido principalmente como defensora das bicicletas, por ter implantado 550 km de ciclovias em ruas e avenidas nova-iorquinas, mas também foi responsável por reservar 50 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus, por alargar calçadas, por estreitar ruas e por fechar para o automóvel regiões de tráfego pesado, transformando-as em áreas de pedestres - incluindo a paradigmática Times Square. O caos previsto por seus críticos não se confirmou. O trânsito continuou a fluir, e o faturamento do comércio se multiplicou.
O que ela disse
"Antes, a política de transportes se resumia a aumentar a velocidade dos carros na cidade. Para mim, o mais importante de tudo é priorizar o pedestre, o ciclista e o transporte público."
O que disseram dela
"A maioria das pessoas entendia que a única função do secretário de Transportes era manter carros e caminhões em movimento. Ela mudou o escopo de seu trabalho, redefinindo o que as ruas podem e devem ser."
Paul Steely White, diretor da organização Transportation Alternatives