O governo de Bangladesh anunciou na quarta-feira que estuda o envio de milhares de rohingyas - minoria muçulmana fugida de Mianmar - para a Ilha de Hatiya, no litoral sul do país. Até o momento, não se tem notícia de nenhum comentário dos sempre atentos representantes da comunidade internacional a respeito dessa modesta proposta.
Não se sabe de quem é a paternidade da ideia, mas sua divulgação coube a Amit Kumar Baul. Ele é responsável pela Célula de Refugiados de Mianmar, órgão oficial do governo bengali dedicado ao atendimento dos rohingyas. O tamanho da comunidade justifica perfeitamente a existência do organismo. São cerca de 32 mil refugiados rohingyas amontoados em dois acampamentos improvisados no distrito de Coxs Bazar, sudeste de Bangladesh, junto à fronteira com Mianmar.
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Talvez alguém pudesse soprar a Amit Baul duas palavras: Plano Madagascar. Essa iniciativa também surgiu de um órgão consagrado a uma minoria, só que desta vez no seio da Europa: o Departamento Judaico do Ministério das Relações Exteriores do III Reich.
O objetivo era deportar para a ilha de Madagascar, então colônia da França, recém-invadida e derrotada pela Alemanha, o maior número possível de judeus europeus. Em 1940, mais de um ano e meio antes da Conferência de Wansee, que arquitetaria a Solução Final, a responsabilidade pelo destino dos judeus sob a Nova Ordem era objeto de uma guerra burocrática nos altos escalões nazistas.
O sempre diligente Adolf Eichmann, tido como autoridade no assunto, não tardou em conceber um projeto pelo qual 4 milhões de judeus seriam acomodados em Madagascar até 1944 sob a administração da SS. Com o início da Batalha da Inglaterra, a ideia acabou esquecida.
A ideia de que Baul conheça o Plano Madagascar peca por excesso de expectativa. No Conselho de Segurança das Nações Unidas, há alguém que poderia lhe dar uma aula sobre o tema: Samantha Power, embaixadora dos EUA e especialista em genocídio. A menos que a embaixadora julgue que seus conhecimentos não se aplicam a este caso.
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