Duas semanas após um terremoto de magnitude 7,8 na escala Richter ter matado mais de oito mil pessoas, o Nepal registrou nesta terça-feira um novo abalo sísmico, de magnitude 7,3. O epicentro do tremor foi a 76 km da capital Katmandu, quase na fronteira com a China. Segundo especialistas, os dois terremotos - e as dezenas de réplicas que se seguiram - podem não ter sido suficientes para acomodar as placas tectônicas em movimento. Com isso, não estão descartados novos tremores de magnitude igual ou superior à dos abalos ocorridos.
De acordo com José Roberto Barbosa, técnico em Sismologia do Instituto de Astronomia, Geofísico e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), a instabilidade na região se dá pelo fato de o Nepal estar em uma das áreas de maior atividade sísmica do mundo, no encontro de duas placas tectônicas: a eurasiana e a indiana.
Estas duas porções da crosta terrestre estão se aproximando entre 4 e 5 centímetros por ano, acumulando energia. Os terremotos mais recentes ocorridos no Nepal são justamente a acomodação destas placas tectônicas.
- Esse último terremoto pertence ao mesmo conjunto que liberou a tensão que ocasionou o primeiro grande sismo (o que vitimou mais de oito mil). E foi originado da mesma forma, a partir da convergência das placas. O atrito entre elas libera esforços, uma pressão que vai sendo liberada em pequenos, médios ou grandes temores - explica o especialista.
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Segundo Barbosa, o último abalo sísmico de grande escala havia ocorrido na região em 2005, com magnitude 7,6. Nos últimos dez anos, no entanto, as placas continuaram se movimentando e acumulando pressão, em parte liberada nos últimos tremores. No entanto, pode ser que nem toda a tensão retida tenha tido vazão.
- Terremotos medianos, de magnitude próxima a 6,5, certamente continuarão ocorrendo. Esperamos que não venha outro abalo mais forte, mas pode ser que ocorra - avalia.
Além da intensidade, a superficialidade dos últimos tremores também colaborou para a gravidade da situação no país. De acordo com o pesquisador, quanto mais profundo é o epicentro do terremoto, com menos força ele chega à superfície - provocando, assim, prejuízos menores nas construções. Não foi o caso dos últimos registros, que tiveram profundidades de 15 e 18,5 km, respectivamente.
A região já tem um histórico de tragédias provocadas por tremores. Em 1934, um terremoto de 8,1 na escala Richter matou mais de 8,5 mil pessoas. Em 1905, outro abalo, de 7,5 de magnitude, assolou o Nepal, deixando milhares de mortos e milhões de desabrigados.