O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou à Justiça Federal nesta terça feira que "a responsabilidade é da diretoria da Petrobras". Ao falar sobre o esquema cartelizado de empreiteiras e situações que deram margem a desvios, Costa foi categórico.
- Eu vejo na imprensa, às vezes, que toda responsabilidade é de Paulo Roberto Costa e de Renato Duque (ex-diretor de Serviços da estatal petrolífera). Não é. A responsabilidade é da diretoria da Petrobras. Porque a Petrobras tem uma diretoria. A responsabilidade é da diretoria que aprovava isso tudo.
STF concede prisão domiciliar a executivos de empreiteiras presos
Paulo Roberto Costa está preso em regime domiciliar. Ele depôs nos processos da Operação Lava Jato, e foi o primeiro delator do caso. Revelou repasses de porcentuais sobre contratos para partidos políticos e admitiu ter recebido valores desviados de contratos bilionários da Petrobrás. Como delator, ele é obrigado a depor em todas as ações decorrentes da Lava Jato.
Em um trecho de seu novo depoimento, na Justiça Federal em Curitiba, base da Lava Jato, ele afirmou que as empreiteiras UTC Engenharia e Odebrecht lhe "apresentaram sistemática de cartel na Petrobrás".
Segundo ele, representantes da Odebrecht e da UTC Engenharia "fizeram o primeiro contato do cartel de empreiteiras em sua área".
- A partir da entrada de mais obras e mais empreendimentos essas empresas começaram a me procurar e eu tomei conhecimento com mais detalhe dessa sistemática do cartel dentro da Petrobras", declarou Costa, ouvido em cinco processos criminais envolvendo as empreiteiras Camargo Corrêa, OAS, UTC, Galvão Engenharia, Mendes Júnior e Engevix.
- Foi a partir do final de 2006, início de 2007, que eu tive mais aproximação e mais contato com essas empresas e fiquei conhecendo com mais detalhes esse processo todo, que eu não tinha conhecimento no início da minha gestão (2004), por não ter obra.
Em suas delações, o ex-diretor confessou que recebeu US$ 23 milhões na Suíça, por indicação dos executivos da Odebrecht. Ao ser indagado sobre sua nomeação para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras, no início do primeiro governo Lula, o delator detalhou que foram os ex-deputados do PP José Janene (PR, morto em 2010) e Pedro Corrêa (PE, preso em Curitiba) que fizeram a primeira reunião para indicação de seu nome ao cargo.
A negociação, segundo ele, durou quatro meses e foi aprovada não só pelo Ministério de Minas e Energia como pela Presidência da República.
Segundo Costa, propina era repassada para PP, PSDB, PT e PMDB
Costa disse também que parte da propina recebida na sua diretoria foi repassada para o PSDB, além do PT, PMDB e PP.
Ao juiz federal Sérgio Moro, o ex-diretor afirmou que foi indicado para ocupar o cargo pelo PP em troca do compromisso de arrecadar para o partido 1% dos contratos das empresas que faziam parte do cartel. Segundo Costa, o valor foi negociado pelos políticos do PP que participavam do esquema. Ele afirmou que seus "padrinhos" na indicação foram os ex-deputados José Janene, falecido em 2010, e Pedro Corrêa, preso na 12ª fase da Lava Jato, deflagrada neste mês.
Segundo Costa, inicialmente, a propina recebida na diretoria de Abastecimento eram direcionadas ao PP. No entanto, em 2007, ele teve problemas de saúde e precisou do apoio de outros partidos para manter-se no cargo.
- Houve direcionamento pontual para o PSDB, PT e PMDB. Eu fiquei muito doente no final de 2006, numa situação quase precária de saúde. Nesse período, eu fiquei uns quatro meses afastado e houve um briga política muito grande para colocar uma outra pessoa no meu lugar. Nesse processo, o PP teve de abrir mão de ser o único partido que dava apoio à diretoria de Abastecimento. A partir desse momento, o PMDB começou a dar esse apoio também. Então, houve um compartilhamento de apoio, a partir do início de 2007", declarou.
Costa confirmou que recebeu propina das empreiteiras, mesmo após ter deixado a diretoria da Petrobras. Segundo ele, os valores foram recebidos em contas no exterior, além de pagamentos feitos em shoppings, supermercados, em dinheiro vivo.
Em depoimentos de delação premiada prestados no ano passado, Costa também relatou que PSDB, PT, PMDB, e PP receberam propina. Desde a divulgação do teor dos depoimentos, os partidos citados negam recebimento de propina do esquema. O PT nega que tenha recebido propina e recursos de origem ilícita. O PP diz que não compactua com atos ilícitos e que confia na apuração da Justiça. O PSDB defende que todas as denúncias sejam investigadas, independentemente da filiação partidária de acusados. O PMDB nega recebimento de propina e afirma que nunca autorizou ninguém a pedir doações ilegais em nome do partido.
*Estadão Conteúdo e Agência Brasil