A dona de casa Anelise Rocha, 35 anos, moradora do bairro Desvio Rizzo, em Caxias do Sul, acompanhou apreensiva as notícias do terremoto que atingiu o Nepal no sábado. Os tremores tiveram magnitude 7,8 na escala Richter, o pior dos últimos 80 anos no país. Mais do que curiosidade, Anelise tinha uma grande preocupação: os pais Vera Lucia Ruppenthal, 66, e Oscar Armindo Ruppenthal, 70, moram há três anos e meio em Katmandu, capital do país.
- Foi muito tenso. Eu estava trabalhando em um casamento em Porto Alegre e precisei parar quando vi pelo Facebook que tinha ocorrido o terremoto. Não conseguia contato com o pai e a mãe porque eles estavam sem telefone e internet. Um amigo nosso que mora em Camboja conseguiu falar com eles e nos avisou que estavam bem. Perto da manhã de domingo consegui falar com minha mãe - relata Anelise.
Vera e Oscar, que viveram por um ano em Caxias, realizam trabalho voluntário e foram morar no país para cuidar de meninos desabrigados, segundo a filha. No momento do terremoto, o casal caminhava pela rua quando foi surpreendido pelos abalos.
- Nós estávamos na rua, parados esperando por uma amiga quando, de repente, o chão começou a tremer e logo vimos o asfalto ondeando. Foi incrível ver a rua se mexendo. Corremos para o centro da rua junto com muitas outras pessoas que saíam de suas casas e ficamos agachados até o tremor passar. Foi quase um minuto de tremor, mas parece que foram muitos. Quando parou de tremer, quem tremia éramos nós. Não dá para descrever a sensação corretamente - conta Vera.
O casal mora em um bairro da cidade com casas mais novas construídas para suportar terremotos. De acordo com Vera, os abalos destruíram os locais mais antigos, como centenas de templos hinduístas.
Mesmo com a dificuldade em conseguir água e comida, Vera e o marido, além de ajudar outras pessoas, presenciam cenas constantes de solidariedade e ajuda mútua entre a população.
- O povo do Nepal é muito solidário. Não tem estoques de alimentos, mas mesmo assim reparte e chama outros para contribuir. Eles sabem repartir. Além disso, tem vindo muita ajuda do exterior. Vemos aviões enormes e pesados sobrevoarem trazendo alimentos, água e remédios.
Apesar de muitas pessoas estarem deixando o país preocupados com a falta de mantimentos e com a possibilidade de novos tremores, Vera e o marido, que cuidam de oito meninos, não pensam em abandonar Nepal. Pelo contrário:
- Como vou deixar os meninos depois de quase três anos de convivência na mesma casa? Deus nos deu uma tarefa aqui e pretendemos cumpri-la - garante Vera.
Terremoto na Ásia
"Quando parou de tremer, quem tremia éramos nós" diz ex-moradora de Caxias que vive no Nepal
Ao lado do marido Oscar, Vera Ruppenthal realiza trabalho voluntário e foi morar no país para cuidar de meninos desabrigados
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