Não é à pão de ló, mas é quase como se fosse. Iogurte caseiro com lactobacilos vivos, pão com mel e frutas frescas são alguns dos itens que compõem a dieta dos quase mil animais que vivem no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul.
Alegando a intenção de equipar o tratamento vip aos visitantes e modernizar a gestão do local, o governo do Estado estuda fazer uma concessão da estrutura à iniciativa privada. Ainda que sem detalhes, o anúncio causou alvoroço entre frequentadores e funcionários.
Quem trabalha por lá até concorda que problemas como o déficit no setor da jardinagem (são três funcionários para cuidar dos 40 hectares frequentados pelo público), recintos ultrapassados para os carnívoros (os mesmos desde 1962) e falta de investimentos em infraestrutura depreciam o local. Mas não admitem falar do tratamento aos animais.
- Eles são quase a família da gente. Nossa vida se confunde com esse lugar, passamos mais tempo aqui do que em casa - disse o tratador Leonel Oneide Garzão ao dar comida na boca de Nei, o urso-de-óculos que vive em uma das jaulas.
Pensando em uma situação ideal, uma loja para comercializar produtos, trilha guiada, mais placas informativas e espaço para eventos seriam itens que, digamos assim, agregariam charme e lucratividade para o espaço que hoje é mantido com a bilheteria.
Segundo o administrador do parque, Marco Antonio Squeff, a renda de R$ 3 milhões vêm dos 500 mil visitantes anuais. Segundo ele, o valor seria suficiente para pagar as despesas da manutenção. A folha de pagamento dos 76 funcionários custa o dobro (R$ 6 milhões) e vem do Estado, via Fundação Zoobotânica.
Assim como no Zoo, o governo entende que uma concessão poderia modernizar parques estaduais como o de Itapuã, do Turvo, na fronteira com a Argentina e Itapeva, em Torres. Nesta semana, a secretária estadual de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini, visitará os locais para estudar novos formatos de gerenciamento.
- Ter lanchonetes, trilhas pedagógicas e barcos deveria ser possível em lugares tão bonitos como esses - afirmou Ana, enquanto visitava Itapuã, na tarde de segunda-feira.
Veja no vídeo como os animais do zoo de Sapucaia são alimentados
Na manhã desta terça, a secretária irá a Sapucaia do Sul conversar com os funcionários do Zoo. Segundo ela, dispensá-los não faz parte da lógica de negócio em discussão. O que se pretende é realizar parcerias que fomentem o turismo nesses espaços.
- O intuito é financeiro, mas servirá para dar melhor uso às áreas que hoje têm capacidade limitada. Vamos visitar os locais e entender as necessidades e razões de termos perdido público ao longo dos anos - diz a secretária.
Mesmo defasado em relação a recintos modernos, o Zoológico de Sapucaia ainda é um dos mais importantes do país. Além de ser acervo de fauna e da geração de conhecimento sobre animais em cativeiro, o biólogo Luis Fernando Carvalho Perello, professor do Instituto de Meio Ambiente da PUCRS, lembra que é uma opção barata de lazer para a população. O ingresso por visitante custa R$ 9 e o carro - com limite para cinco pessoas - custa R$ 45.
A dobradinhas baixo custo e lazer ao ar livre é uma das razões que fizeram Gislaine Kleim da Silva viajar de São Sebastião do Caí a Sapucaia. Se aumentar o preço da entrada, a graça diminui, diz ela. Mas a viagem não agrada a todos. O fisioterapeuta Gilnei Pimentel, que saiu de Passo Fundo especialmente para ver a zebra, o elefante e os primatas, saiu frustrado com o que encontrou:
- Isso aqui se tornou um viveiro de meia dúzia de animais. Falta acessibilidade, estrutura de informação e muitas jaulas estão em manutenção - diz o visitante.
ALÉM DA ZEBRA - PARCERIA COM EMPRESAS MELHORIA SERVIÇOS NO ZOO
Foto: CARLOS MACEDO
Ibama atesta bom funcionamento, apesar dos poucos recursos do local
Recente vistoria realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em conjunto com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente apontou que o zoológico não tem graves problemas em seu funcionamento. Os principais, segundo o analista ambiental do órgão Emerson Strack Skrabe, estavam relacionados à manutenção das estruturas.
- A equipe é bastante limitada e faz o possível para manter o lugar em bom funcionamento com poucos recursos - disse o analista.
No setor de jardinagem, por exemplo, a aposentada Lavandaí da Souza Lacerda, a Vanda, 62 anos, segue trabalhando para transmitir o conhecimento adquirido em mais de 20 anos de casa. Ele teme o que acontecerá aos funcionários mais antigos em uma futura privatização. Mas torce que seja bom para o parque.
Prevendo a dificuldade no manejo com as áreas verdes, o responsável pelo setor Hilberto Carlos Schaurich diz que a opção é por plantas que não demandem tanta manutenção. Mesmo assim, apesar do esforço dele e de Vanda, muitos canteiros ficam sem reparo. Pudera: além dos 40 hectares com animais, há 160 hectares de área total.
Uma imobiliária da cidade calcula que o terreno poderia chegar a um valor de R$ 500 milhões.
REFEIÇÃO NO ZOO TEM DIETA BALANCEADA E FRUTAS FRESCAS
Foto: CARLOS MACEDO
Até o momento, não foi divulgado oficialmente o interesse de novos interessados em assumir a gestão, apesar da especulação de que o GramadoZoo seria um deles. Consultado pela reportagem, o diretor do zoo da Serra, Marcos Souza Gomes diz que é cedo para falar no assunto, mas não descarta a possibilidade de negociação:
- Por enquanto, é prematuro falar sobre modelos. Depende do que será apresentado. A complexidade de um assunto desses tem de ser muito bem avaliada.