O número de mortos no atentado a uma universidade no Quênia na quinta-feira pode ser maior que o total de vítimas do atentado à embaixada americana em Nairóbi, em 1998, quando 213 pessoas morreram. A contagem oficial fala em 147 corpos, mas islamitas somalis shebab, vinculados à Al-Qaeda e responsáveis pela matança, divulgaram nesta sexta-feira comunicado dizendo que assassinaram 218 pessoas, segundo informações do jornal O Globo.
O ataque aconteceu durante a madrugada, quando homens mascarados lançaram granadas e dispararam contra os estudantes no campus localizado a 150 quilômetros da fronteira somali, onde estudam centenas de jovens originários de diferentes regiões.
De acordo com sobreviventes, os homens primeiro mataram de forma indiscriminada. Depois separaram alunos em muçulmanos e não muçulmanos, poupando a vida dos primeiros e fazendo reféns os integrantes do segundo grupo.
A operação conduzida pelas forças de segurança quenianas para recuperar o controle da universidade terminou com quatro terroristas mortos, segundo o Centro Nacional de Gestão de Desastres (NDOC).
Parentes ainda buscam informações sobre estudantes
Familiares de estudantes da universidade de Garissa e alguns sobreviventes tentam até agora obter informação sobre corpos. Eles estão reunidos próximos ao local do ataque, que foi isolado por forças de segurança. No palco da tragédia, cadáveres seguem sendo recolhidos, enquanto o exército rastreia o campus para garantir que não há mais perigo.
- Estou tão preocupado, tenho um filho que estava entre os estudantes presos na universidade e não tenho notícias dele desde ontem - disse Habel Mutinda.
- Tentei identificar seu corpo entre os mortos. Tenho que fazer isso antes que se decomponha com o calor. Passei a noite toda aqui, foi muito difícil, é doloroso - completou o idoso em busca do filho desaparecido.
Estudantes dizem que terroristas se divertiam com mortes
Sobreviventes contaram nesta sexta-feira que os somalis shebab se divertiram com os reféns antes de matá-los. Eles fizeram com que muitos rastejassem em poças de sangue ou telefonassem para seus pais pedindo que exigissem a retirada das tropas quenianas da Somália.
Alguns estudantes se sujaram com o sangue de seus amigos executados para se fingirem de mortos, enquanto os islamitas iam de quarto em quarto buscando novas vítimas.
- "Não tememos a morte, para nós será como férias de Páscoa", gritaram os homens antes de atirar - disse o estudante Salias Omosa, 20 anos, que está traumatizado.
Maureen Manyengo, uma sobrevivente de 21 anos, explicou que se escondeu em um armário.
- Ouvi os criminosos dizerem aos meus amigos: "Não se preocupem, vamos matá-los, mas nós também morreremos". Também ouvi eles falarem "só vão estar em segurança quando o seu presidente retirar os soldados da Somália" - afirmou.
O ministro queniano do Interior, Joseph Kaissery, prometeu que o país não se "intimidará pelos terroristas" e que será capaz de vencer esta guerra.
* AFP